Perguntado um dia porque razão não voltava a França, pacificada que era dos excessos da Revolução, o Príncipe de Ligne (esse attardé do espírito do Grand Siècle cujas memórias a Mercure de France em boa hora reeditou) terá replicado: “L’honneur, l’horreur et l’humeur”.
Assim estava eu no respeitante à participação activa na blogosfera, quedando-me no quietismo do meu cadeirão e do meu claustro, saboreando passiva e ocasionalmente os frutos que ela nos depõe no regaço. As ideias expendidas, as formas literárias ou as subtilezas manifestas do sentido de oportunidade da intervenção, que tanto revelam sobre a ideossincrasia dos interventores em blogues próprios ou alheios, eram sobejas --- aceite um critério estrito de selecção dos mesmos --- para compensar o tempo roubado às formas tradicionais de preechimento dos ócios e investido na net. Se Somerset Maugham usasse de igual cadeirão que emparelha solitário com o meu (o que sinceramente lamento não possa já fazer) estou certo que usaria do mesmo recurso para imaginar novas e pitorescas personagens duma nova série de “short stories”.
Eis-me rendido e candidato à observação alheia. Eva quando provou da maçã edénica também percebeu que estava nua... A tentação da participação bloguística terá desses inconvenientes, aceito. Contudo, o aparente desalento do Miguel Castelo Branco nas suas Combustões e a ameaça do seu silêncio --- terrível, vinda de um dos meus preferidos --- despertou-me para a possibilidade triste de ver transposto para a bloguística, o sentimento acre de frustração que se tem quando, inopinadamente, acabou o stock do Madeira preferido: “Que maçada! Já não há... Que falta me faz!” Não aspiro a fazer falta, mas realmente talvez haja mais virtù na assunção total da bloguística, pela participação que está já para lá do voyeurismo, admito, egoísta. Contem com mais um no café.
E já que estamos naquele tempo indistintamente apodado pela gente dos media e pelos lojistas de “quadra natalícia”, trago à colação o incontornável Paul Johnson, que, num delicioso texto publicado no The Spectator do último dia 3 --- “Things to pray for in this season of Advent” --- recordava que Deus responde às preces “if they are earnest, worthy and just”. As dele são as dele, mas a juntar às minhas que guardo para a intimidade do meu oratório, não posso deixar de pedir que se associem com as adaptações devidas ao torrão pátrio, à prece do articulista:
“I pray for the return of England to the Holy Mother Church, for the end of pop music and TV, for the destruction of Modern Art, Picassoism and all that rubbish, the demolition of Tate Modern (though I’m not sure that is lawful), the collapse of militant Islam, the freeing of China, North Korea and Cuba and the rescue of England from vulgarity and the European Union. I am patient…”.
Boas Festas!
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