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Je Maintiendrai

"... Le refus de la politique militante, le privilège absolu concédé à la littérature, la liberté de l'allure, le style comme une éthique, la continuité d'une recherche". Pol Vandromme

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Wednesday, March 22, 2006







DA MINHA GAVETA


ALBINO FORJAZ DE SAMPAIO

Louve-se o confrade da Torre, Mendo Ramires, na sua luta pelas belas-letras nacionais quando nós aqui, em boa verdade, bem nos poderíamos esforçar mais por trazer à colação um que outro autor nacional para variar do estendal das autoridades de além-mar ou de além-Pirinéus de que diariamente nos louvamos.
Em sinal de compromisso de porfiar nessa senda, aqui fica hoje a lembrança de Albino Forjaz de Sampaio.

Quem se lembra hoje de Sampaio? É no entanto um dos mais interessantes prosadores das 4 primeiras décadas do século passado. E dele falaremos, propositadamente em sede de gastronomia, não apenas porque me parece a tertúlia pouco inclinada a dissertar sobre os prazeres do palato, mas porque sou um crente primário no princípio de que a sensibilidade do dito tem uma relação intrínseca com os primores do espírito. Homenageie-se, pois, Forjaz, recordando que lhe devemos a Volúpia. A Nona Arte: A Gastronomia. Depois de muito hesitar, o título foi o autor confessadamente buscá-lo ao velho Platina do Quatroccento: “O título do livro era o do seu, primeiro escrito em latim, traduzido depois na sua língua natal: De honesta voluptate. Estava certo e estava achado o título. Mas porque O Livro da Honesta Volúpia dava um título raro e exquisito, ficou Volúpia, e parece-me que não ficou mal. Volúpia diz tudo. A volúpia de comer, de encher o papo, volúpia necessária e pela qual tudo se faz. Honesta? Pois sim. Como quiserem…”
Significativamente dedicado ao grande Oleboma (António Maria de Oliveira Belo), porventura o maior gastrónomo português, o primoroso texto de Forjaz espraia-se suculento e com reflexos brilhantes de espírito cristalino em 7 grandes partes: Academia de Gastrónomos, Cozinhas de todo o Mundo, A Gastronomia e a Literatura [Eça, Fialho, Ramalho…], Vinhos e Comidas, Guloseimas e Lambarices, Silva de Prosa Vária [de Pasteis de Bacalhau ao António das Caldeiradas] e os Primeiros Livros de Cozinha [Portugal, França, Espanha, Itália, etc.]. E a cada tema uma dedicatória, em cujo elenco global se evoca gostosamente uma confraria de sibaritas novecentistas: Leal da Cãmara, Claudio Basto, Pedro Bordalo Pinheiro, Manuel Teixeira Gomes (“Cozinha Africana”!), Damião Peres, Acúrcio Pereira, Angélico de Sousa, Jaime Verde, os brasileiros Ademar Tavares e Celso Vieira, e o espanhol Júlio Camba. À falta de poder deglutir as vitualhas magistralmente evocado por Forjaz devoramos-lhe o talento com que escreve em português.
A propósito, recorde-se que a Volúpia é de 1939, em dois anos posterior a La Casa de Lúculo o El Arte de Comer, de Júlio Camba, uma das confessas inspirações de Forjaz e outra delícia da literatura de faca e garfo, dada a comum receita: excelência de pena e fino humor. E já que aqui chegámos e ainda a pairar no ar o cheiro a esturro do Quartier Latin, façamos justiça a um divertido produto da nouvelle cozinha literária francesa, Aventures dans la France Gourmande avec ma fourchette, mon couteau et mon tire-bouchon, de Peter Mayle, e saudemos com júbilo a edição de 2006 do Petit Lebey des Bistrots Parisiens, companheiro indispensável no palmilhar daquela que a temível possidoneira gaulesa sempre gostou de chamar a cité des lumières. A encerrar, numa chapelada à pobre da Inglaterra, desprovida destes primores, a esperança de rever um dia o soberbo film Who is killing the great Chefs of Europe, uma comédia negra construída sobre as traves mestras da gastronomia europeia (vg. o assassínio do chef da Tour d’Argent com a prensa do famoso canard), onde brilha o grande gourmand e gourmet que foi o saudoso Robert Morley.

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