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Je Maintiendrai

"... Le refus de la politique militante, le privilège absolu concédé à la littérature, la liberté de l'allure, le style comme une éthique, la continuité d'une recherche". Pol Vandromme

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Tuesday, October 24, 2006



AINDA AS NECESSIDADES

CAMÕES. ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA TOTAL


Espanta-me que um excelente e oportuno post de Fernanda Leitão sobre a Língua Portuguesa não tenha, que saiba e até hoje, suscitado um único comentário na blogosfera próxima. E todavia, trata de uma questão importante qual é a da definição da política cultural externa portuguesa, e, em particular, da instituição oficial a quem cabe essa responsabilidade, o Instituto Camões.
Há muito, muitíssimo, para dizer sobre o desgraçado Instituto onde as Necessidades delegaram essas hercúleas responsabilidades. Melhor dirá, que não eu, quem o sabe ex officio, mas sempre se recorda que Simonetta Luz Afonso foi o desastre que se anunciou e que se esperava entre quem disto sabe um pouco: o clássico princípio de Peter, revelado na inabilidade total do saltar do patamar da feitura de exposições e pavilhões para aqueloutro, convenhamos um pouco mais exigente, da responsabilidade de conceber e implementar uma política de cultura no exterior. Mais um paradigma da visão saloia da “cultura” como um panelão de sopa de cozido, onde bóiam uns “cultos” que ocasionalmente lá vão na concha que é cega ao prato estendido onde se derrama. Nisto, estes super-mestres de trabalhos manuais em tempos ao serviço do comemorativismo cavaquista e guterrista, como Simonetta, pedem meças a qualquer um. Aliás, disto está ilibado o Governo porque o rasgo da escolha vem do tempo de Barroso e da cabeça oca da então Ministra Teresa Gouveia, mais obcecada num qualquer ajuste de contas de género com Maria José Stock, através de uma rabiosa non-entity como a Sec. de Estado Manuela Franco, do que com problemas de política cultural. Freitas do Amaral também pode limpar as manitas às paredes das Necessidades, porque, podendo sanear, perpetuou a situação por inércia; e a situação deu naquilo que está à vista. E o que está à vista não é bonito: um Instituto Camões pulverizado, tonto, vesgo e pobre; sem política e sem cabeça. Uma rede de centros culturais e de leitorados, batida e sacrificada com pouca honra para o País nas aras daqueles concursos que ficarão célebres no consulado de Simonetta pelo que Fernanda Leitão bem define como “balcões de amiguismo, cunhas e compadrio”. Conheço relativamente bem e de visu as situações da Europa e da América Latina que Fernanda Leitão tão bem denuncia; estou mais longe da Ásia e da África, mas consta-me que a catástrofe, o regabofe e o mau cheiro já também chegam às nascentes do Nilo.
Dizem de Simonetta que está de saída para a merecida e incontornável reforma. On dit on dit também que para dirigir o mega-projecto museológico desse homem de cultura que é Carlos Monjardino, aliás partner leonino na condução dos interesses culturais portugueses no Oriente. Saúde e muito proveito. De saída também aquela diminuta senhora, a Vice-Presidente Luísa Bastos de Almeida, do breed das diplomatas burocratas, posta lá pelo Ministério precisamente para moderar e invocar os interesses do Ministério numa casa gerida por gente que não é do Ministério. Também aqui, para desventura nossa, falhou a máquina, já que a tão vocal diplomata sobre isto nem pio. Apesar de tudo, não deixou de arrecadar o prémio habitual do bom comportamento, a embaixadazita da praxe.
Mas, nesta fase do campeonato, de minimis non curat praetor. O que verdadeiramente importa é vermos qual é a vontade e a tenção do Governo sobre a nova presidência do ICamões, em termos de avalizar as pretensões dos cronnies da ainda Presidente do ICA, autênticos vibriões, que se lhe agitam à volta, ou então as dos “suspeitos do costume” da kultur nacional.
Na hora da despedida, Simonetta carregará várias responsabilidades (e a personagem bem se importará…) e deixará ao seu sucessor e ao Ministério que a nomeou uma bem pesada herança: a demolição das réstias de lógica interna e do mínimo de consistência que ainda existia no Instituto Camões, a perda escusada de importantes prerrogativas e a gratuita assunção de pesadas e alheias responsabilidades.
E para entrar directamente no que de mais pertinente escreve Fernanda Leitão, é isso que notaremos: o que, pela negativa, distinguiu a presidência de Simonetta das dos seus dois imediatos e tão diferentes antecessores – Maria José Stock (hoje na Universidade) e Jorge Couto (hoje Bibliotecário-Mor do regime). E o que a distingue é ter conseguido levar o MNE (e este MNE deixou-se levar) a cometer duas burricadas, que só não são de palmatória porque a palmatória é pouca para o crime. Refiro-me aquilo a que tanto socialistas e sociais-democratas, no MNE e no Instituto Camões, tiveram noutros dias o cuidado e a presciência de nunca admitir em tempo algum: num sentido, a entrega de uma das mais relevantes e influentes prerrogativas do ICA, qual era a acção cultural externa, ao Ministério da Cultura, cuja fama de inépcia ou inoperância nesta área, como a da celebrada beberragem, vem de longe. Ignoro se a asneira se consumou, mas as conversações estavam adiantadas e só dilatadas porque o pobre desconfiou da abundância da esmola. A segunda burricada – tão bem ou ainda mais grave – essa consumada está pela mão e palavra de António Braga. É a decantada absorção das responsabilidades que eram do Ministério da Educação no ensino da Língua Portuguesa no estrangeiro. É disso que, essencialmente, fala o post de Fernanda Leitão: dessa monstruosa confusão de objectivos, de missões, de políticas (e também de orçamentos brutais e de brutais dimensões e custos políticos de gestão desse pessoal) qual é misturar na mesma saca o ensino da Língua Portuguesa a portugueses no estrangeiro, com políticas de Língua cujos destinatários primeiros são os estrangeiros. E bem conclui Fernanda Leitão:
“Parece-nos evidente que, apesar de todos os pesares causados pelo Ministério da Educação, é a este que compete o ensino básico ministrado no estrangeiro. Pois se o Ministério dos Negócios Estrangeiros não tem sabido fazer do Instituto Camões uma instituição irrepreensível, como quer fazer-nos acreditar que vai saber dirigir o ensino da língua pátria às crianças de famílias lusas? Não se estará a pôr o carro à frente dos bois? Não teriam de limpar, primeiro, o Instituto Camões e só depois tomar decisões de fundo? Não teriam, primeiro, de obrigar o Ministério da Educação a cumprir os seus deveres com as escolas, e quem as serve, no estrangeiro? Não receiam os frutos desta decisão dentro de poucos anos? Deviam recear”.

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