OS PADRES DA CORTE
Amigo erudito e apreensivo quanto ao sustento das minhas ocasionais incursões históricas, ditou-me trabalho de casa e pôs-me nas mãos um livro que inscrevi nas leituras dos últimos dias. Em boa hora; o Diário do Jesuíta P. Tomás Pereira dado à estampa apresentado por outro erudito, o P. Sebes, embora um livro antigo (1961) tem a vantagem de ter uma edição portuguesa (Instituto Cultural de Macau, 1999). Diário, esclareça-se que respeita ao que aponta o subtítulo: “Os Jesuítas e o Tratado Sino-Russo de Nerchinsk (1689)". Trata-se de uma célebre convenção, de facto o 1º tratado en forme, subscrito pela China com uma potência europeia, e que, ficamos a saber, se ficou a dever à habilidade, à diplomacia e extraordinário valimento do P. Tomás Pereira, um jesuíta minhoto, músico, matemático e mecânico, que se alçou à posição do europeu que mais influência gozou junto do Imperador da China Kangxi. Fica aí o livro para quem se interesse por esta história fantástica. Que é muito mais vasta: é a história da missão multinacional dos Jesuítas da China, sustentados pelo Régio Padroado Português, verdadeiros brokers culturais que aí deixaram um rasto monumental, cultural e religioso ainda hoje reconhecido pelos Chineses. Lá está em Pequim a Igreja de Nantang, outrora chamada de S. José dos Portugueses, o antigo observatório, negrejando entre arranha céus, o cemitério dos Jesuítas crivado de monumentais pedras comemorativas da memória dos chamados Padres da Corte, conselheiros, músicos, matemáticos, astrónomos e confidentes de Imperadores até meados do século XVIII. Mais uns que não estão nas listas dos notáveis da historiografia mediática.
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