RETRATOS DE TRABALHO VIII - REZENDE
“…Também íamos ver os primos co-irmãos de minha Avó, os velhos Condes de Rezende, ao seu palácio encantado no Campo de Santa Clara. A entrada aqui era difícil, pois que quasi que era preciso arrombar a porta, mas, logo que ela se abria, ficava-se surpreendido com a beleza da escada, de magnifica e elegante arquitectura, e com o grande número de criados que apareciam com velas acesas em castiçais de prata.
Entrava-se na primeira sala, guarnecida de magníficos panos de arrás e de talhas da Índia, e, depois, para o gabinete onde estavam os Condes e que era dos mais elegantes da época. Tremós e as bancas estavam cheios de preciosa louça do Japão e da Índia e de muitas curiosidades do Brasil, onde o Conde tinha sido Vice-Rei.
Estes meus parentes eram muito originais. O Conde era um homem alto, muito empoado e a cabeça muito cheia de pomada, grande rabicho e cara comprida. Não dizia uma palavra nem fazia o menor cumprimento quando entravámos; apenas, de tempos a tempos, lhe ouvíamos: Com que, a minha prima Oyenhausen... e nada concluía. Entretanto passava por ter sido um excelente Vice-Rei no Rio de Janeiro. Não largava o uniforme de Tenente General, mesmo em casa, e por cima do uniforme trazia um grande capote com um belo bordado na gola, correspondente à sua alta patente.
Sua mulher, a Condessa, ao contrário d'ele, falava sempre, mas dizendo sempre a mesma coisa. A sua conversação limitava-se a contar as graças das primas que tinha em diferentes conventos. A toilette de que usava, só a tornei a ver nas danças do teatro de S. Carlos, no tempo dos grotescos. Usava d'uma grande cabeleira loura, anelada, uma touca enfeitada com plumas de diferentes cores, tudo de pasmosa originalidade, vestido de cetim com grandes ramos de muito vivas cores, Sapatos com enormes saltos encarnados, e, nos dedos das mãos, muitos anéis de pedras preciosas. A um canto do gabinete estava ordinariamente assentado, junto a uma mesa de charão e fazendo paciências sem cessar, o ilustre Reitor da Universidade, o Principal Castro, irmão do Conde…”
(D. José Trasimundo Mascarenhas Memórias do Marquês de Fronteira e de Alorna)
Entrava-se na primeira sala, guarnecida de magníficos panos de arrás e de talhas da Índia, e, depois, para o gabinete onde estavam os Condes e que era dos mais elegantes da época. Tremós e as bancas estavam cheios de preciosa louça do Japão e da Índia e de muitas curiosidades do Brasil, onde o Conde tinha sido Vice-Rei.
Estes meus parentes eram muito originais. O Conde era um homem alto, muito empoado e a cabeça muito cheia de pomada, grande rabicho e cara comprida. Não dizia uma palavra nem fazia o menor cumprimento quando entravámos; apenas, de tempos a tempos, lhe ouvíamos: Com que, a minha prima Oyenhausen... e nada concluía. Entretanto passava por ter sido um excelente Vice-Rei no Rio de Janeiro. Não largava o uniforme de Tenente General, mesmo em casa, e por cima do uniforme trazia um grande capote com um belo bordado na gola, correspondente à sua alta patente.
Sua mulher, a Condessa, ao contrário d'ele, falava sempre, mas dizendo sempre a mesma coisa. A sua conversação limitava-se a contar as graças das primas que tinha em diferentes conventos. A toilette de que usava, só a tornei a ver nas danças do teatro de S. Carlos, no tempo dos grotescos. Usava d'uma grande cabeleira loura, anelada, uma touca enfeitada com plumas de diferentes cores, tudo de pasmosa originalidade, vestido de cetim com grandes ramos de muito vivas cores, Sapatos com enormes saltos encarnados, e, nos dedos das mãos, muitos anéis de pedras preciosas. A um canto do gabinete estava ordinariamente assentado, junto a uma mesa de charão e fazendo paciências sem cessar, o ilustre Reitor da Universidade, o Principal Castro, irmão do Conde…”
(D. José Trasimundo Mascarenhas Memórias do Marquês de Fronteira e de Alorna)
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