A atenção devida e equanimemente partilhada entre os meus cães, os meus livros e dois ou três mapas cuja vetetusta papelaça os faz carentes de atenção, privaram-me da possibilidade de confirmar as mais sinistras previsões de MCB nas Combustões sobre as alusões comemorativas em mais um aniversário decorrido sobre a invasão do Estado Português da Índia pela União Indiana. Espero que não. Ou que sim, porque tal esquecimento constituiria uma pungente dúvida sobre a coerência no desatino da consciência nacional, que considero programático e infalível.
O choroso romance goês continua, mas hoje confinado às gavetas das Necessidades, nos nédios processos das inépcias consulares lusas, nos desmandos majestáticos das Fundações lá deixadas à redea solta, no oportunismo de freedom fighters reconvertidos à esperteza de sugar a teta das bolsas, dos apoios, et al. que a tradicional palermice correctamente pensante por cá prodigaliza com medo de parecer mal...
Entretanto, a memória do que interessa pelas águas cálidas do Mandovi se dilui... Ó jus-historiadores e jus-internacionalistas e mais peritos (tantos, ó céus!) das Relações Internacionais! Para quando um estudo completo e objectivo sobre o que foi a nobre campanha travada em Haia, no Tribunal Internacional de Justiça sobre os nossos direitos na Índia? Para quando a justiça feita a Galvão Telles, Silva Cunha e ao quase esquecido Alexandre Lobato que, sozinhos, arcaram com as responsabilidades da batalha? Porque de resto, já sabemos tudo da bondade, da ternura e das lágrimas de Vassalo e Silva ou da habilidade do último Patriarca das Índias, tanto quanto da dignidade das forças que se quiseram bater e o que fizeram e tantas outras a quem esse direito sonegaram. Dizem-me que jovem doutora granjeou o grau escorada em imponente tese sobre a queda do nosso Estado da Índia. Xeque-mate em Goa é o título. A ver o que dali sai. A imagem xadrezística promete.
Entretanto, não sei se alguém notou, passaram este ano os 400 sobre a fundação do Estado da Índia por D. Francisco de Almeida. Não notaram, já calculo. E é pena porque entre tanta comemoração que não vale a casca acarvalhada de um melão de Almeirim, ninguém se lembrou de picar uma dessas fundações da av. de Berna ou do Salitre e levá-las a fazer ao menos o que qualquer nação de marchantes anafados, como a Holanda, fez com as estrondosas comemorações da sua malfadada VOC. Perdão, parece que houve alguém, mas lá das bandas das Necessidades disseram que era melhor estar quieto para não ofender os Indianos...
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