Da Mesa do Oriental. Zen e Artes Marciais
Para acabar de vez com as fantasias zen. A oportuna queda de um mito: Eugen Herrigel e Zen in the Art of Archery.
O Zen (seja lá o que os gurus americanos propagandeiam que seja em arrepio ao que verdadeiramente é) está na moda e as míriades de livrinhos que o explicam e aplicam às mais diferentes vicissitudes da vida estão já ao nível da famosa série Chicken Soup for the Soul. Já não bastava a Jane Fonda e o misticismo tibetano ou a nauseante tratadística que se esforçou por aplicar as teses seculares de Sun Tzu à metodologia crapulosa do mundo yuppie, temos agora as artes marciais japonesas clássicas a prestarem-se cada vez mais às extrapolações e às fantasias naives dos que descobriram em três dias a espiritualidade oriental nos best seller da Amazon ou no Last Samurai de Tom Cruise. Salvaguardando-se alguns valores seguros aqui sugeridos em tempos (maxime as obras de Kenji Tokitsu e Taisen Dashimaru) notamos a novidade da redescoberta do filósofo germânico Eugen Herrigel e da sua obra Zen in the Art of Archery (1956). Arvorado em paradigma tanto da descodificação zen da nobre arte do kyudo (tiro ao arco nipónico) como da revelação das vias de acesso da mente ocidental às transcendências do zen, a experiência mística do sábio teutão sofreu um rude golpe vindo precisamente da banda do sol nascente. Colocando-a muito polidamente ao nível de um episódio pícaro de Lost in Translation, um ensaio recente de Yamada Shoji ("The Myth of Zen in the Art of Archery" in JJRS 2001 28/1-2) sugere-nos o quanto se devem rir os Japoneses destas "levitações"...
Infelizmente, nestas áreas ou se comunica chãmente com quem sabe e/ou onde se ensina e vive a arte, ou mais vale ficar em casa a ver a bola...
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