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Je Maintiendrai

"... Le refus de la politique militante, le privilège absolu concédé à la littérature, la liberté de l'allure, le style comme une éthique, la continuité d'une recherche". Pol Vandromme

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Tuesday, February 07, 2006


A Tentação da Cruzada

Entre a esfrangalhada herança que nos ficou de tempos mais culturais, os europeus continuam a acarinhar o Romantismo e a pender para as suas formas coloridas de auto-ilusão. A crise dos cartoons despoletou as mais variegadas reacções, dentre as quais um romântico apelo cruzadístico que nos sugere uma farândola de imagens de Épinal e de posters propagandísticos franceses anti-huno. Tal como com essas santas imagens se queria fazer outrora crer ao bom cidadão, agrada-nos pensar que somos partícipes ou testemunhas de um Gottesdämerung, de um choque titânico de civilizações onde a cada um cabe o direito e a obrigação de envergar as cores flamejantes do Ocidente. Desgraçada hipocrisia que nos leva a procurar as flâmulas da cruzada no santuário que desgraçadamente conspurcámos!
Uma Europa que miseravelmente acabou de renegar no projecto da sua Constituição a menção filial à sua origem e às suas matrizes culturais. Uma Europa que liquidou ou se apresta para liquidar o que lhe resta das obrigações políticas, sociais e científicas de transmissão da herança do Humanismo às gerações futuras. Uma Europa que delapidou a sua espiritualidade nas aras do relativismo. Uma Europa cuja miserável debilidade será recordada nos anais da História do Pensamento pela adopção imbecilizante dos cânones do Politicamento Correcto. Uma Europa que nessas valetas perdeu o sentido do amigo e do inimigo. Uma Europa que se desgraça diariamente pelo reconhecimento da respeitabilidade e do mérito absoluto de sevandijas como os plutocratas e o lumpen dos media. Enfim, uma Europa onde – sob os cascos das quatro bestas apocalípticas do consumismo, do relativismo, da cobardia e da ignorância -- se espezinha diariamente o espírito crítico, a criatividade, a generosidade, a coerência de pensamento e de conduta, a cultura, enfim, a humanitas no seu sentido clássico.
Contas feitas, cá no meu foro, em termos de barbaridade e de obscurantismo, vale tanto o desgraçado de um homem-bomba manipulado por meia dúzia de mullahs ignorantes como um europeu que diariamente sacrifica nas aras do “politicamente correcto”, e que pauta as suas posturas intelectuais por conveniências de consumidor, ou, nos casos mais elaborados, por exercícios de hipocrisia. Qual é a legitimidade desta Europa acanalhada pelo soft power alienígena e pelas fístulas que gerou internamente? Não se falava ainda há dias do triste espectáculo da intelectualidade francesa, da emasculação do espírito crítico e do individualismo britânico, da ruína do magistério eclesial minado pelas tonteiras interculturais da Congregação De Propaganda Fide e pelos lémures do Vaticano II? Não vale a pena pregar a cruzada e buscar o desforço no campo de Saladino enquanto nos mantivermos surdos ao reconhecimento de que foi no nosso próprio campo que deveríamos ter fincado a lança e combatermos o bom combate.
Não vale a pena dizer mais porque já foi dito e melhor dito. Senhores meus: que se enganam no cenário histórico; isto não são as cruzadas; isto é o desmoronar miserável de Bizâncio, atascada nos lamaçais que gerou. Para quê sacrificar uma vez mais às modas e dizer que estamos em pleno “choque de civilizações” quando o que à vista de todos está é simplesmente o avanço intuitivo de qualquer horda de chacais que sente no ar o cheiro a podridão? Não aspire a uma morte togada, quem não merece sequer um trapo para limpar as mãos sujas.

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