Ainda a Direita instalada e a instalar
Com vénia ao Sexo dos Anjos, que para este apontamento de Jaime Nogueira Pinto chamou a atenção. As últimas linhas são singelas, mas o ponto, como um aparente “obviema”, está aí; a marcar o contraste com o brando caldo que em uníssono nos preparam…
"Volta alguma agitação político-mediática sobre os conceitos de “direita” e “esquerda”: por um lado, uma discussão (que podia ser interessante) sobre o que significam, o que valem, o que os distingue, se servem ainda como instrumento de análise de posições substanciais; por outro, uma “guerra” pela identidade da direita - se é conservadora, se é liberal, se é nacional, ou até ordinariamente, se é “mole” ou “dura”.Perante a consolidação governativa do PS “socrático”, ideologicamente asséptico, com autoridade q.b., com uma certa eficiência, um PS que deixou o discurso esquerdista para o BE e o memorialismo antifascista para o PC, a oposição tem que deitar contas à vida.Estando o PP na permanente “guerra” de baixa intensidade “direcção – oposição à direcção” e o PSD calado e translúcido em termos de pensamento e política alternativa, explicam-se os regressos encenados de alguns “reservistas” e “reservados” da República; e a busca da ribalta por lóbis de académicos, executivos e “gurus” com sede de protagonismo e novas sensações.É que nas questões substantivas, a nível de sociedade e de política externa - como o aborto, as drogas, os casamentos homossexuais, a Europa, o atlantismo - os dois partidos principais estão agora próximos: o PSD deixou ou vai deixar cair a sua oposição à despenalização do aborto, podendo os militantes escolher “a la carte”; o PP está à procura de uma solução de compromisso que poupe "as mulheres presas" por abortarem. (Quantas são?). No resto, PSD e PS são europeus, atlânticos e pelos vistos, de brandos costumes. Como o PP.Quanto às questões internas, económicas e sociais, também há um diagnóstico e que está feito: cortar na despesa pública, isto é “emagrecer” o Estado, usando a linguagem dietética, que além da futebolística e da rodoviária revela a fina erudição dos notáveis.E parece ser mais fácil as reformas difíceis - as políticas “de direita” no plano económico-social - serem feitas por governos “de esquerda”. As excepções a esta regra foram Reagan e Thatcher, mas era o mundo anglo-saxónico dos anos 80 e da Guerra Fria, outro tempo e outro planeta!Vem daqui esta agitação de colóquios, compromissos, “Estados Gerais”, os balões de ensaio de personalidades ou grupos informais candidatos à chefia do “espaço da direita”.A marca “direita”, geralmente “desvalorizada” no «marketing» político desde Abril de 1974, tornou-se atractiva e, além dos suspeitos do costume, há novos candidatos ao «take-over» ou à inspiração do “povo da Direita”.Ora este espaço tem valores próprios, valores de orientação permanente que é preciso lembrar, saber e sentir: prioridade do bem comum; liberdade e independência da Nação; cristianismo social; solidariedade com os mais fracos e vulneráveis; liberdade na economia, que não atinja os valores enunciados; e uma política externa que acautele a independência nacional, privilegie os espaços que conhecemos, guiada por um “realismo ético” que, sem pôr de parte o ocidente euroamericano, não busque a conversão forçada das outras “civilizações”, e aspire a um “mundo melhor” só a partir do mundo como ele é."
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