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Je Maintiendrai

"... Le refus de la politique militante, le privilège absolu concédé à la littérature, la liberté de l'allure, le style comme une éthique, la continuité d'une recherche". Pol Vandromme

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Sunday, November 19, 2006

OS EXCÊNTRICOS DE PALMEIRIM
Aproveitando as lazeiras do fim de semana, lá busquei Os Excêntricos do meu Tempo, de Luís Augusto Palmeirim, de que, a propósito dos sebastianistas, ainda há pouco tempo nos falava o Confrade Misantropo. A edição é de M.Gomes, Livreiro e editor da R. Garrett, ao Chiado, do já longínquo ano de 1891. Entre os olisipógrafos, p. ex., de Castilho a Mário Costa, foi sempre tradição semearem as suas digressões por Lisboa com alusões e memórias do pitoresco humano da capital. Palmeirim dedicou-se exclusivamente a pincelar os personagens (44!). O texto é engraçadíssimo e não poucas vezes comovente – Palmeirim, literato conhecido, escrevia bem – recheado que é de caracteres hoje totalmente esquecidos, actores, cómicas, moços de recados, tontos, fidalgos janotas, fadistas, toureiros, escritores e músicos, que povoavam a Lisboa paroquial e castiça da 2ª metade do século XIX: o Cabral Maneta, o deputado Julião, o maestro Cazimiro, o Padre Alcaparra, o Barão da Catanea, a Severa, o actor Carreira, D. José Coutinho (“o avô dos Janotas”), o Xavier dos Cartazes, o Sr. Procópio “o último dos sebastianistas”, o doutor Patroni, o Feliciano das seges, o abade Castro, etc. etc. E que pena que hoje, nem que fosse colectivamente, se fizessem e coligissem outros tantos retratos de gente que o tempo vai comendo. A filosofia, por judiciosa, deveria ser a mesma que Palmeirim invoca:
“Será forçoso que nas recordações dos vivos entrem só os homens ilustres pela pena e pela espada, ou pelos episódios acidentados da política, da diplomacia e do teatro? Não mo parece. Na vida, aparentemente obscura, de alguns homens, há às vezes traços característicos, que são como os raios, embora amortecidos, de um sol de Outono, atravessando as nuvens denunciadoras da próxima tempestade. A posteridade não se fez só para os felizes, para os gloriosos, para os potentados. Há na sociedade indivíduos, a quem as circunstâncias negaram os meios de se evidenciar, mas que nem por isso perderam as feições típicas, originais, que os distanciaram das multidões. Foram perfeitamente uns excêntricos? A designação é talvez demasiado ambiciosa. A excentricidade envolve em si a ideia de um modo de vida absolutamente ao avesso do viver comum da mais gente; e os homens de quem vou falar não estão nesse caso. O que eles foram todos, acanhando o epíteto de excêntricos, foram umas boas pessoas, podendo tirar folha corrida, mas diferenciando-se do vulgo, uns pelas suas aptidões intelectuais, outros por serem excepção, no modo de viver e de falar, as prescrições que a sociedade impõe como norma aos que vivem e morrem sem ter dado por isso. Do burguês que come, bebe, contrai matrimónio, ouve missa, faz a barba, e morre passados os cinquenta anos, não há mais nada a dizer senão isto mesmo; ou para variar, inverter contra a lógica a ordem dos acontecimentos, falando de tão estéreis existências. Os heróis pedem Plutarcos. Os modestos, os ignorados, que por momentos nos alegram as horas as vezes aborrecidas da vida, merecem algumas linhas de comemoração, que se não encabecem em necrológio, nem em coisa que cheire a cemitério. É o que eu vou fazer…”

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