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Je Maintiendrai

"... Le refus de la politique militante, le privilège absolu concédé à la littérature, la liberté de l'allure, le style comme une éthique, la continuité d'une recherche". Pol Vandromme

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Wednesday, October 17, 2007



Memória fugaz de um miúdo exilado
Nesse S. Paulo de 1976, depois de um copo num dos bares do Bexiga, metíamo-nos no jipe desengonçado do Zequinha e marchávamos para o Som de Cristal, a melhor e a maior gafieira da cidade; uma enorme pista de soalho parafinado a forçar o passo miúdo, orquestras rodando até às 6 da manhã ribombando forrós. Gonzaguinha, Gonzagão, Elba Ramalho, Gal e até os Demônios da Garoa por ali passaram, levando ao delírio multidões numa alegria democrática que só no Brasil tem sentido. As 6 da matina e o “Trem das 11” atacado pela banda eram invariavelmente o sinal da partida; e era saír de perna trôpega e amezandar num barzinho não longe, devorando um baurú, um sanduichezão como só há S.Paulo.
Recordo-me de um mês em que o Primo Archie nos deu um alegrão em casa, a visitar aqueles a quem graciosamente chamava “les eymigrrées”. Era ainda um cinquentão janota, que uma noite a moçada arrastou para o forró paulistano. Archie não tinha qualquer dificuldade em alinhar na rotina desses estouvados. E depois de uma votação apressada nesse grupo luso-tropical onde o mais velho dos pândegos não tinha mais de 20 anos, escalámos para a iniciação de Archie nos arcanos do forró Elsinha, uma mulatona que estudava Antropolgia na USP. Elsinha era de longe a melhor forrózeira, mestra reboluda de todos nós na coreografia complexa do “forró de cabo a rabo”, ou do ainda mais difícil “forró nº1”.
Passaram trinta anos, mas como hoje estou a ver o Primo Archie no seu imaculado terno de linho branco, de olho muito azul, pendurado no braço moreno duma risonha Elsinha que o ultrapassava num palmo bem medido, marchando para a sanzala dançante, confusa e suada que era a pista do “Som de Cristal”; e com aquele fairplay que só os Ingleses sabem ter nas situações mais delicadas como Waterloo ou Balaclava, hesitar por um segundo e atirar-me por cima do ombro “Dear me, should I have painted my face black?”

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