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Je Maintiendrai

"... Le refus de la politique militante, le privilège absolu concédé à la littérature, la liberté de l'allure, le style comme une éthique, la continuité d'une recherche". Pol Vandromme

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Sunday, December 16, 2007

ANJOS DE FAFE E MORGADOS DE AGRA DE FREIMAS
O confrade Jansenista tem chumbo de sobra e dispensará a Purdey do vizinho, mas não fica mal mostrar solidariedade. Lá vão dois arrimos: conhecia esta versão de Tu vuo fa l’Americano? E já agora, umas páginazitas de Camilo e o seu impagável Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda, que vão a matar…

“….Santa audácia! Bizarra índole de antigo cavaleiro, que abriga no peito a generosidade com que os heróis dos Lobeiras, Cervantes, Barros e Morais se lançavam às aventurosas lides, no intento de corrigir vícios e endireitar as tortuosidades da humana maldade! Não desanimou Calisto Elói, tão desabridamente rebatido por D. Catarina Sarmento.
Averiguou quem fosse o galã daquela cega dama, e facilmente lho nomearam. Era um gentil moço, useiro e vezeiro de semelhantes baldas, enfatuado dela, e respondendo por si com sabre ou florete, quando gente intrometida em vidas alheias lhe falava à mão.
O informador do morgado explanou difusamente as qualidades do sujeito, relatando as vítimas, e os acutilados na defesa delas.
Ocorreu à memória de Calisto aquela apostólica e heróica intrepidez de Fr. Bartolomeu dos Mártires, quando foi a defrontar-se com um criminoso e façanhudo balio, que prometia engolir o arcebispo de Braga, e o colégio dos cardeais com o próprio papa, se necessário fosse! Grande coisa é ter lido os bons clássicos, se desejamos saber a língua portuguesa, e criar alentos para atacar velhacos!
Aí vai o esforçado Calisto Elói de Silos em demanda de D. Bruno de Mascarenhas. Um escudeiro anuncia ao fidalgo um ratazana.
– Quem é um ratazana? – pergunta D. Bruno.
– É um sujeitório – diz o criado – vestido ratonamente, e não diz o nome, porque V. Ex.a o não conhece.
– Que quer ele?
– Falar com V. Ex.a.
– Vai perguntar-lhe quem é, donde vem, e que quer.
Interrogou o criado com mau semblante o morgado.
Calisto escreveu numa página rasgada da carteira, e perguntou ao criado se sabia ler. Disse que não o interrogado.
– Pois entrega esse papel a S. Ex.a.
D. Bruno leu, meditou algum espaço, e perguntou:
– Sabes se em casa do desembargador Sarmento há algum criado chamado Custódio?
– Não, senhor, não havia até ontem; só se entrou hoje.
– Esse homem que aí está dá ares de criado? – Não, senhor: é assim um jarreta vestido à antiga, com uma gravata que parece um colete.
– Manda o entrar para aqui.
D. Bruno releu a linha escrita a lápis, e disse entre si:
– Que Custódio é este!?
Nisto, assomou Calisto Elói.
Bruno de Mascarenhas adiantou-se a recebê-lo, e disse-lhe maravilhado:
– Eu já tive a honra de cumprimentar a V. Ex.a no escritório da Nação. V. Ex.a é o sr. Calisto Elói de Barbuda.
– Sou, e agora me recordo que já tive o prazer de o encontrar...
– Mas V. Ex.a neste bilhete diz que é Custódio! – tornou Bruno.
– Custódio, que é sinónimo de anjo-da-guarda, ou anjo-custódio da Ex.ma Sr.a D. Catarina Sarmento.
Abriu o moço a boca, e disse:
– Ah! ... Agora é que eu percebo ... Mas ... queira V. Ex.a sentar– se... Eu não sei que alusão possa ser esta... que... a respeito de...
Calisto sentou-se, estendeu o braço direito com a mão aberta, e atalhou o enleio de Bruno dizendo solenemente:
– Vou falar.
E, após curta pausa, relanceou discretamente os olhos à porta, como quem receia ser ouvido.
– Pode V. Ex.a falar, que eu fecho a porta – disse o confuso Mascarenhas.
(...)
Camilo Castelo Branco, A Queda de um Anjo, Cap. XII "O Anjo Custódio"

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