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Je Maintiendrai

"... Le refus de la politique militante, le privilège absolu concédé à la littérature, la liberté de l'allure, le style comme une éthique, la continuité d'une recherche". Pol Vandromme

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Wednesday, December 21, 2005






DA IMPERTINÊNCIA DA PERTINÊNCIA

O tom algo desencantado do último post do nosso jansénico Cardeal de Noailles (para nos mantermos cada um à beira do Rei Sol, o La Chaise de um lado e o Noailles do outro) faz-me pensar que o recente pelourinho de Combustões, é, de facto, qual caveira do asceta, um motivo de meditação sisuda. Está em tela de juízo a questão magna da pertinência, e uma situação prática de impertinência livremente declarada.
Saíu a terreiro o primeiro campeão. A periodificação etária das pertinências esboçada pelo nosso kantiano amigo é sedutora e muito verdadeira; subscrevo-a gostosamente bem como às notas marginais sobre os lémures que também são os do meu tempo...
Conceda-me, porém, a precisão conceptual: a "pertinência" pressupõe a adesão a estruturas formalmente norteadas por princípios ou afeições; a estrutura assume assim um rôle intermédio ou mediador (propiciado por uma série complexa de razões que o colega Jansenista bem inventaria como "receio de exclusão" ou "necessidade de apoio nos grandes batalhões") ou de referência negativa, também indispensável para aqueles que optam pela que chamaria de não-pertinência referenciada.
Neste pé, permito-me agora ir um pouco mais longe sugerindo a existência de outras vias. Ou seja, a adesão a princípios ou a afeições ("sentimentos certos") não tem necessariamente que ser mediada, ou sublinhada pela afirmação da não pertinência. A independência, o distanciamento, o não-alinhamento, o estoicismo et al. --- quando genuinamente pensados e vividos --- não significam mais que a dispensa das pertinências e o contacto directo, não mediado, com a dimensão dos referenciais e das essências. Felizes o que o conseguem cedo, dispensando a paragem em todas ou nalgumas estações da pertinência, incluindo aquela que o colega jansénico (quanto a mim diminuindo a força do seu raciocínio) define como "maturidade intermédia".
Falamos de coisas diversas: o repúdio da pertinência, mais exactamente a constatação da ociosidade da necessitas mediationis, não creio seja um estágio intermédio, mas uma posição estática alcançada em graus diversos da régua da vida. Felizes, repito, os que a encontram no 1º centímetro da dita. Quanto aos outros, os que segundo um processo absolutamente natural alcançam a consciência daquela necessidade em período mais avançado, padecerão sempre da emulação dos que sentem a fraqueza inerente à dependência das mediações aconchegantes para ter princípios ou referenciais, e essa maturidade (final) que implica uma atitude existencial de despojamento de formas, será sempre mal interpretada, como implicando uma variação das essências ou um renegar dos princípos. "O facto de se ter deixado de pertencer não significa renegar coisa alguma", declara e bem o estóico/kantiano/Noailles, com mais facilidade que eu, que já não consigo chegar a lado nenhum sem o bordão singelo dos tomistas.
Das lages do seu pelourinho o MCB poderá lobrigar este equívoco lavrando entre os que o verberam. Já lhes respondeu sobejamente com a sua coerência intrínseca e com uma ou outra frase suficiente; "não quero viver como um velho de oitenta anos", creio que escreveu. Tem consciência que atingiu a maturidade, encontrando-se sem mediadores com os seus princípios?


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