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Je Maintiendrai

"... Le refus de la politique militante, le privilège absolu concédé à la littérature, la liberté de l'allure, le style comme une éthique, la continuité d'une recherche". Pol Vandromme

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Tuesday, December 20, 2005





TRÊS LEITURAS DE NATAL


O tempo é de resistir. E também de resistir à tentação de nos lançarmos como gato a bofe sobre todas as maravilhas livrescas que, como as famosas pedrinhas da De Beers, cintilam nos catálogos, nas revistas e nos escaparates de terra alheia. Leiamos em português, até porque, para variar das patetices da clique das meninas publicistas e dos canastrões como o Dr. Antunes, muitas vezes o ego nacional não sai mal do empenho. Posto isto, três confessas preferências convenientemente palatadas.
Seja a primeira, Império à deriva. A Corte Portuguesa no Rio de Janeiro, de Patrick Wilcken. A crer na imbecilidade do texto da carta anunciadora do lançamento desta obra, texto esse autorizado pela Ed. Civilização e pela Academia Portuguesa da História, pouca vontade haveria de manusear mais dissertações alienígenas sobre o nosso passado, na dita carta apodado de "piolhoso". Todavia, feliz supresa: o australiano Wilcken saíu-se bem; bem nas fontes manuseadas, bem nos juízos expendidos, bem na moderação, bem no ritmo das linhas, bem na economia do texto. Não estamos perante uma summa como o clássico Oliveira Lima (que aqui tenho à beira em dois volumes noutra belíssima encadernação, esta do desaparecido Almeida, da R. António Maria Cardoso), mas diante de uma obra de lavra desprentenciosa e sensata sobre um dos tão pitorescos como dramáticos episódios da história lusa, interessante ademais por pincelar com agradáveis cores a figura d'El-Rei D. João VI, mais amado fora do que aqui.
Isto dito, traga-se a juízo a segunda sugestão.
Perante as desvairadas e hodiernas andanças da historiografia nacional, oscilante entre as cómodas "fotobiografias", as bastardias metodológicas dos Analles e os excursos em forma de excusas abertas e envergonhadas ao outro (o "outro" no meu tempo era outra coisa...), há que atentar na obra de A. Vasconcelos de Saldanha, compreensivelmente evitada pela historiografia politicamente correcta por aposição da chapola da leprosaria "nacionalista". Há tempos Miguel Castelo Branco saíu à liça a defendê-lo nas Combustões; fez bem e foi oportuno. Na senda da monumental monografia historico-jurídica Iustum Imperium. Dos Tratados como Fundamento do Império dos Portugueses no Oriente (que oiço será reeditada em breve; ouvem também Instituto Diplomático e Prof. Trocado?) saíu há tempos a obra barrocamente titulada De Kangxi para o Papa pela via de Portugal. Memória e Documentos relativos à intervenção de Portugal e da Companhia de Jesus na questão dos Ritos Chineses e nas relações entre o Imperador Kangxi e a Santa Sé. Como o autor já se não lembra deste seu amigo e admirador, comprei-o na Feira do Livro, na providencial barraquinha da "Livros do Oriente" e guardei-o, com duas meias garrafas de Sauternes com que fui presenteado na altura (não pela editora mas por gaulês amigo da Calçada do Marquês d'Abrantes) para o remanso do Natal. Tardei (que a obra é grande, 1+2 vols de aparato documental) mas arrecadei.
Resultado do que parece uma vastíssima e scholarly operação de arrasto, sobretudo no Archivio Segreto Vaticano e no Archivum Romanum Societas Iesu (espero meu caro António que também tenha aproveitado para umas férias romanas), as 450 páginas da memória (1º vol.) lêem-se num ápice sustentado. Monumental trabalho de história diplomática, saltamos numa sucessão movimentada de cenários de Pequim, para Roma ou para Lisboa, por dentre causes célèbres de Setecentos --- o Padroado Régio, a Questão dos Ritos, a acção da Companhia de Jesus, a rivalidade inaciana-jansenista (ojo Jansenista!), a diplomacia joanina na China e em Roma, nomeadamente a embaixada do Marquês de Fontes e a expedição marítima anti-otomana --- e uma interessante e exótica digressão pelas intrigas e escaninhos da corte celestial do sínico Imperador Kangxi, o protector indefectível dos Jesuítas portugueses. Mais uma obra a acariciar-nos o ego fazendo-nos recordar que já fomos grandes...
E que por último não perca nesta mesa armada da consoada literária, registe-se o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, editado pela Principia, sob a chancela do Conselho Pontifício “Justiça e Paz”. Debaixo da umbela abrangente da ideia de “Um Humanismo Integral e Solidário”, o leitor interessado verá desenrolar-se em harmoniosa sucessão capítulos onde se alinham os ensinamentos luminosos de sete Pontífices romanos de gloriosa memória; ensinamentos em matéria da lei natural inscrita na consciência do ser: o Desígnio Divino e a Humanidade, a Doutrina Social, a Pessoa, a Família, o Trabalho, a Vida Económica, a Comunidade Política, a Comunidade Internacional, o Ambiente, a Paz, a acção pastoral. Bem oportuna edição nos tempos correntes. Como escreve o Cardeal Martino, na Apresentação, “a Igreja, perita em humanidade, numa espera confiante e ao mesmo tempo operosa, continua a olhar para os «céus novos» e para a «nova terra» e a indicá-los a cada homem, para ajudá-lo a a viver a sua vida na dimensão do sentido autêntico. Gloria Dei vivens homo: o homem que vive em plenitude a sua dignidade dá glória a Deus, que lha conferiu”.
Cuidadosamente concebida e ordenada para ser fruida não somente ad intra, entre os Católicos, mas também ad extra, isto é, para aqueles que o não sendo, serão porventura homens de boa vontade de outros credos, é salutar a leitura ou a mera consulta deste compêndio. Quanto mais não seja por nos lançar um quo vadis, em tempo oportuno quando por tantas e desvairadas páginas buscamos as essências.

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