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Je Maintiendrai

"... Le refus de la politique militante, le privilège absolu concédé à la littérature, la liberté de l'allure, le style comme une éthique, la continuité d'une recherche". Pol Vandromme

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Thursday, March 09, 2006


PRECISÕES CONCEPTUAIS

Tornou-se frequente, nas veredas das escolhidas confrarias que frequento e espreito, o apelo à “tradição”. E ainda bem. Entendo que o tom badinneur da intervenção bloguística não dispensa alguma intervenção em prol daquilo que nos arrepelamos que se traia, que se esvaia, que se esqueça. Mas estaremos na realidade a discutir a “tradição”?
Poder-se-á dizer que a “tradição” cuja defesa valeu a já longínquo avô o exílio no rescaldo das lutas civis, não é bem a mesma do meu bisavô que por pouco não deixou a pele nas andanças de Paiva Couceiro, ou a do filho, meu avô, na lama das trincheiras francesas, como a dele já é diversa daquela cujo apego me fez andar por bolandas pós-abrilistas tão familiares a outros camaradas desta confraria.
E como assim poderá a “tradição” ser diversa de geração para geração? Porque confundimos conceitos, misturando substância e adjectividade, confundindo “tradição” com “lealdades”, lealdades cujo tom ou cuja escala de prioridades podem ser bem diferentes, mas que de comum a todos só tem o facto de que a todos nos pareceu garantir a “tradição” sobre qual acreditámos e acreditamos assentar a própria ideia nacional.
Contudo, há entre a nossa gente, e entre a nossa gente mais nova, uma cartilha onde persiste a tendência a confundir ou assimilar “tradição” a “lealdade” ou a “fidelidade”, em ambiente “nacionalista” onde se proclama um “conservadorismo” cuja sugestão de estática induz erroneamente a “fidelidade à tradição”. Um carrossel de ideias generosas, mas que não leva a lado nenhum por girar à volta de um eixo que é a indeterminação das ideias, das categorias intelectuais e das referências culturais. Falta de doutrina, dirão uns, falta de doutrina digo eu também, mas de doutrina nacional, e, sobretudo, de reflexão sobre a portugalidade, já que é patente o escandaloso deficit de memória artística, literária, de pensamento filosófico, jurídico ou político nacional, por contraste com a superabundância de doutrina e cultura livresca estrangeira. Ils ont tout lu mais n’ont [encore] rien compris…, apetece dizer.
Em texto anterior, espanejei umas ideias onde procurava defender este ponto, e, sobretudo, marcar outro, que apontava à necessidade de considerar o valor de sustento da “tradição” em qualquer discussão ou reflexão onde se afronte e enfrente a questão “nacional” ou do “nacionalismo”. A discussão tem esmorecido, mas constato que pouco se adiantou, salvo no plano que aventei ser o da mera e individualística “logística das ideias”. Por mim continuo a pensar que a conversa avançou pouco pelo lado da “tradição”, considerada não apenas no seu mérito de sustento, mas também na sua própria natureza, conteúdo e alcance. Não por falta de manuseio escrito e verbal: “tradições” e “tradição” são invocadas recorrentemente, mas repare-se, quase sempre como se de uma entidade tutelar, infusa e etérea, se tratasse, ou, em formas mais sofisticadas, como se um dado adquirido constituísse. Um cela va sans dire de inegáveis potencialidades -- tão formais quanto estéreis.
Mas como nesse meu escrito procurei sublinhar, a “discussão nacional” e/ou a discussão da nossa própria posição face à questão, tem a ver com a consciência prévia dos referenciais de essência que constituem a tradição. E onde estão eles? Escrevi nessa ocasião que entendia a substância da tradição como composta de “expressões particulares e culturalmente distintas de espiritualidade religiosa, de estética, de adopção de determinadas instituições do Poder, de sentimento histórico, de sentimentos de pertença, de formas de relacionamento social interno e de formas de relacionamento no exterior, de sentido crítico, de sensatez e até de sentido de humor.”A essa luz, e no âmbito da bloguística, o apelo português de Mendo Ramires é muito oportuno e faz todo o sentido no processo de divulgação e de combate cultural onde cabe a crítica, a ironia, o repente opinativo, a memória de outros combates e de outros despiques (por palavra, canto ou imagem) a homenagem aos que antes de nós também pensaram, no fundo, tudo aquilo que constitui a nossa própria oportunidade de assegurar a dinâmica da traditio.

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