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Je Maintiendrai

"... Le refus de la politique militante, le privilège absolu concédé à la littérature, la liberté de l'allure, le style comme une éthique, la continuité d'une recherche". Pol Vandromme

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Friday, March 10, 2006


A SOPA DE ARROIOS

Lembrando-me de Talleyrand que dizia de Napoleão “que pena um homem tão inteligente ser tão mal educado”, apetece-me dizer uma vez mais de VPV – que pena um homem tão inteligente ter impulsos tão baixos.
VPV saiu à liça a desancar Cavaco Silva. Na diatribe, a quota disponível para discordar das ideias do novo PR esgotou-a desta feita o intelectual sem brilho e sem proveito. Quase que apetece, como ele próprio, dizer: nem uma ideia nova, nem uma justeza objectiva, nada, nada na crítica que a distinga de outras recém-ouvidas nas mercearias eleitorais dos Drs. Soares ou Louçã sobre o então candidato de Boliqueime.
Mas é no resto que VPV desce e demonstra alguma dose daquela baixaria que só prova que o brilho intelectual não anda necessariamente acompanhado da elevação do carácter. Basicamente, VPV acusa Cavaco de precisar “crescentemente de esconder a sua fraqueza com pompa e circunstância”, manifesta na recente cerimónia de tomada de posse.
Já sabemos que o PR não é um Brummel, que os notáveis da República não são um paradigma de aprumo e que há pontos de ridículo e de ignorância na coreografia do cerimonial do Estado. Mas, qual o mal do estilo da tomada de posse de Cavaco Silva? Foi demais para a investidura do Chefe de um Estado soberano, que por acaso é um dos mais antigos da Europa? Acha que era dispensável a presença dos representantes dos órgãos de soberania em digna atitude de solidariedade de Estado? Acha que a Assembleia da República com a assistência dos deputados da Nação não era um lugar digno para a cerimónia? Acha ocioso o juramento sobre a Constituição? Qual o mal de sermos formalmente honrados com a presença de outros Chefes de Estado de países vizinhos ou amigos? Preferia orgulhosamente só? Banquetes e recepções oficiais devem ser inovatoriamente proscritas da agenda da Presidência? Preferia foguetes em vez dos 21 tiros de salva da tradição internacional? O pessoal uniformizado da AR deveria envergar fatos de treino? A GNR da guarda de honra deveria limitar-se à patrulha de estrada? E já agora, acha que tudo isto merece ser contrastado com a “democrática pobreza” de outros PR? E a propósito, quais? Nenhum e não certamente o Dr. Soares e a sua tendência escandalosa para a promiscuidade entre a oficialidade festiva e o gosto pessoal pelo luxo e pelo exibicionismo de um bon vivant parvenu.
VPV demonstra nisto (com espanto de quem lhe conhece o contexto familiar onde foi nado e criado) ser um cultor daquela “sem cerimónia”, que nada tem de franqueza mas de simples facilitismo a puxar para a chinela, própria da falta de educação e do comodismo. Facilitismo muito comum hoje na Universidade, no Foro, na Igreja, na Política. Nivelamento pela mediocridade do comodismo ou da incapacidade invejosa de assumir determinadas posturas de civilidade e bem viver. “Democrática pobreza” chama-lhe cinicamente VPV. Mas o cidadão nacional tem no seu pior essa tendência fácil para chamar de “pompa” a “dignidade” e de “pomposos” os que se preocupam com a dignidade das instituições e a imagem de civilidade própria e de quem representam... Nisso, e na opinião de VPV, os portugueses, na compreensão do conceito de “democrática pobreza” no Estado, devem estar muito à frente dos ridículos dos Franceses, dos Ingleses, dos Espanhóis, e de outros ridículos estados europeus que ainda acreditam que a “forma” também tem a ver com a dignidade própria. Sabe, um pouco como nos indivíduos os hábitos de higiene, de dignidade de vestuário, de postura. Mas VPV nega esse direito a Cavaco (quando implicitamente já o reconhece como de “direito divino” nesse Trimalchyon que é o Dr. Soares) com base no falso postulado dessa “democrática pobreza”. Na opinião de VPV o novo PR deveria ter-lhe sacrificado, assumindo porventura uma de duas opções: uma grande “sopa de Arroios”, ou então, mais estilo “Avante”, a churrasqueira, as mangas arregaçadas, o fato de treino, a linguagem de caserna, muita “emotividade”, e, certamente VPV, os “copos”, muitos “copos”.
Uma coisa deverá ter VPV por certa: há uma maioria de Portugueses que comungam da rusticidade de Cavaco que acharam muito bem que a cerimónia assim tenha sido, quanto mais não fosse num fenómeno de identificação com a democrática apoteose de um igual. Com as suas opiniões e gostos, o VPV possivelmente só encontrará almas gémeas entre o punhado de filhos-família de uma certa burguesia urbana cuja história pungente e os tiques vergonhosos a MFMónica oportunamente trouxe à praça pública.
Mas o problema é que a esta manifestação de falta de educação na dignidade e no civismo, VPV parece juntar outra pecha, aliás um dos mais baixos traços da cultura portuguesa: a inveja misturada com um excesso de auto-conceito. Dava um saco de libras para saber se VPV teria destas diatribes se fosse convidado para o conselho ou outra sinecura da órbita do PR. Talvez seja aí que lhe doa. Felizmente, além do PR, haverá ainda muita gente que dispensa tê-lo por perto.

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