ELEFANTÍASE BIBLIOGRÁFICA
Interessantes leituras as do confrade Réprobo. Perante a infinda erudição e a propósito do tema que traz à cena, apetece usar daquela definição que creio inaugurada sobre o Abade Correia da Serra, e dizer que é um verdadeiro elefante científico e literário!
Eu da Tailândia pouco sei, para lá de umas passagens coloridas. Da última já aqui dei conta, em cumprimento de promessa. Estava a meio de uma função muito mais maçadora (sobretudo por oficial) na região, e Bangkok foi uma escapadela de arejo e motivo de dois agradáveis jantares; um aqui (podia bem ser homenagem às preferências aéreas de Port Royal) e outro ali (sei que Miss Pearls gostaria), onde dei de caras nas circunstâncias narradas com o nosso oya ou okprah Miguel, e um outro patrício de letras gordas na res asiatica. A esses sim, deve o confrade Cunha Porto dar o galão, o penacho (ou a orelha de elefante?) de sábios da Royal Siam Society.
Mas para as voyages autour de ma chambre cá está a bibliotecazinha, e nada como a por à prova.
Mas para as voyages autour de ma chambre cá está a bibliotecazinha, e nada como a por à prova.
A tese de Fernandes Costa é pitoresca mas peregrina: o aventureiro Constatino Phaulkon era grego e disso não dúvidas. Avance a bela (e bem rara!) edição do P. de Bèze comentada eruditamente pelo P. Henri Bernard S.j. Uma vida que bem merece o romance (também o há, o de J.Hoskin) na que terá sido a dourada Ayutthaya, hoje reduzida a cacos vetustos mas a sugerir grandeza. O tal Phaulkon, e os Franceses que o apadrinhavam, acabou mal (bem lembrou o MiguelCB a “revolução de 1688”) e sua consorte, a luso-japonesa D. Guiomar, acabou remetida (e com muita sorte) às cozinhas reais, cabendo-lhe a honra de perpetuar na gastronomia tailandesa uma coisa que por fora é igual aos fios-de-ovos e por dentro sabe a peixe seco.
O Embaixador Português Pero Vaz de Siqueira, que pelo Sião andou em 1684, não se iludiu com o figurão, descrevendo-o (há uma recente e boa edição do relatório da embaixada) como “néscio” e “mestre de mil patranhas e embustes”. Outro néscio que pela mesma altura por lá parou foi o embaixador persa Ibn Muhammad Ibrahim, que a terra lhe seja leve, são os meus votos gratos pela deliciosa narrativa diplomática que deixou sobre o Sião, o Safina’i Sulaimani (The Ship of Sulaiman na bela tradução de John O’Kane). Aferrando os Padres Jesuítas que também por ali penaram fazendo a navette com Roma, o tal Muhammad debita esta maravilhosa pérola sobre os Portugueses de então, que pena é não tenha sido aplicada pelos de hoje no trato com os manipansos da cimeira de Lisboa destes últimos dias:
“…Formerly there was a sizable group of Portuguese Franks living in the port and they carried off good profits from trade. They were held in high esteem and treated with the utmost dignity, at least up until a certain time, for it came to pass that their Padres decided to dig a tunnel of deceit with the pickaxe of cunning and soon they had poked the head of their morbid schemes up through the ground of decency.
They began their digging from far off and burrowed their way underground until they reached the base of one of the larger idols. Then they hollowed out the inside of the idol from underneath so that it was possible for a man to raise his head up into the idol's stomach. When this work was finished, someone secretly entered the statue and began delivering wicked sermons from within. Besides this trick they contrived a system of magnets in the ceiling of one of the temples and were able to suspend an iron idol in mid air.
With this kind of fraud and deception they had no difficulty in fooling the simple-minded. Once established by means of artificial miracles, they busied themselves converting the people, calling them to join their foreign faith. Thus they led those poor fools forth from one pit of error into another, the dilemma of the Frank religion. The pickaxe of their schemes was sharp and piercing, leaving its mark in the granite of the people's heart…”
They began their digging from far off and burrowed their way underground until they reached the base of one of the larger idols. Then they hollowed out the inside of the idol from underneath so that it was possible for a man to raise his head up into the idol's stomach. When this work was finished, someone secretly entered the statue and began delivering wicked sermons from within. Besides this trick they contrived a system of magnets in the ceiling of one of the temples and were able to suspend an iron idol in mid air.
With this kind of fraud and deception they had no difficulty in fooling the simple-minded. Once established by means of artificial miracles, they busied themselves converting the people, calling them to join their foreign faith. Thus they led those poor fools forth from one pit of error into another, the dilemma of the Frank religion. The pickaxe of their schemes was sharp and piercing, leaving its mark in the granite of the people's heart…”
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