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Je Maintiendrai

"... Le refus de la politique militante, le privilège absolu concédé à la littérature, la liberté de l'allure, le style comme une éthique, la continuité d'une recherche". Pol Vandromme

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Location: Portugal

Wednesday, October 25, 2006
















DA MINHA GAVETA
Marinheiros de Portugal

Da pilha de livros portugueses de que vou paulatinamente dando conta por mero gosto de leitura, sem as preocupações do estudo e da informação que nos empurram cada vez mais para fora do que é nosso, acabo de terminar os Marinheiros de Portugal, da pena do Almirante D. Bernardo de Mesquitella, publicado pela Portvgalia Editora em 1923 e distribuído simultaneamente em Lisboa e no Rio de Janeiro.
O Almirante D. Bernardo da Costa de Sousa de Macedo já não era novo quando o livro foi dado à estampa; nascera em 1863, numa família da velha fidalguia lisboeta, e teve uma carreira distinta na Marinha de Guerra e na administração ultramarina até se afastar do serviço por altura da implantação da República. Nele tornou a reingressar voluntariamente para ocupar o seu posto por ocasião da 1ª Guerra. Os quadros apresentados nos Marinheiros têm, assim, um nítido pendor memorialístico; de “apontamentos de vários “livros de quartos”, lhes chama o seu autor, coligidos e dedicados “aos meus camaradas: Homens do mar: Oficiais e Marinheiros”. Não se pense, pois, encontrar nos Marinheiros um repositório literário de memórias de viagem; não; são 35 pequenos quadros da vida da marinharia portuguesa do século XIX, um desfilar de tipos humanos em situações vividas – dos modestos marinheiros Salmonete ou d’Olhão ao lendário Capitão-de-Mar e Guerra Soares de Andrea -- traçados com uma pena cheia da humanidade e do pitoresco das personagens e das múltiplas paragens por onde andou o Almirante D. Bernardo, quadros esses, para mais, escritos no belo português de um marinheiro da velha escola, homem de acção doublé de erudito.
A edição abre com duas “cartas prefácio” de outros dois ilustres homens do mar: uma de Sacadura Cabral e outra de Gago Coutinho, esta datada de 25 de Outubro de 1922, “em viagem” a bordo do Porto, que vale a pena reproduzir por muito bem sintetizar a valia do livro do Almirante Mequitela:
Todos os que já vivemos a vida aventurosa do homem do mar, mesmo sem dotes naturais para lhe apreciar o lado artístico, sabemos, contudo, que ela é, mais do que outra, susceptível de ser romantizada, de modo a interessar o observador ávido de impressões excitantes ou imprevistas. Porque, no meio do materialismo moderno, essa vida de luta, que é a vida do mar, em contacto constante com o perigo, faz homens enérgicos e decididos; torna-os nobres e cavalheirescos. Ali, com a maior simplicidade, se arrisca a vida, às vezes para salvar a do nosso semelhante, mas em muitos casos, banalmente, para evitar que se parta um pau, que arrebente um cabo, que se rasgue uma vela... Eu já vi, no alto mar, arriar um escaler guarnecido de gente para se apanhar um pombo... Assim, mais além do que cumprir a divisa da marinha portuguesa "A Pátria honrai...", se procura honrar a própria humanidade. Era na antiga Marinha, com os seus navios de vela e a maior demora das viagens no mar, à mercê do vento, onde se tornavam mais interessantes os episódios marítimos, as histórias sensacionais de corsários ou de cruzeiro de escravatura, tão bem descritos nos Quadros Navaes de Celestino, hoje fora de moda e esgotados. A vida moderna do homem do mar, a conduzir complicadas máquinas, navios, e até já a conduzir máquinas de voar, tornam a marinha quasi desinteressante e prosaica; a vida de bordo tende a confundir-se com a vida industrial da fábrica, onde os riscos são banalmente cobertos pelas companhias de seguros... Bem difícil se tornou pois, encontrar literatura e poesia no mar. Assim bem haja o autor de estas narrativas que vem continuar a tradição dos escritores portugueses de contos marítimos, onde ressalta a nobreza e o sentimento da vida do mar e é apresentado na sua face real, dedicado, simpático e humano, o Marinheiro Português, em geral tão ignorado”.
A edição dos Marinheiros, tem, além de tudo o mais, a valia considerável de cada um dos 35 quadros ser antecedido de belas vinhetas navais devidas à pena do Comandante Pinto Basto, do Capitão Menezes Ferreira e de Carlos da Motta e Silva. Folhas mortas de uma Marinha que hoje já não há, num País a quem, mais e mais, vão fazendo esquecer que foi constituído por uma gente de mar.

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