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Je Maintiendrai

"... Le refus de la politique militante, le privilège absolu concédé à la littérature, la liberté de l'allure, le style comme une éthique, la continuité d'une recherche". Pol Vandromme

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Saturday, June 09, 2007


É TRISTE DIZÊ-LO

Tem razão o autor d'o Portugal dos Pequeninos e como compreendo que chegue ao tanto do brado de Jorge de Sena. Entre o Estado, com a cara, os tiques e as disfunções da má moeda de Boliqueime, a lista estafada dos medalhados no dia que só por mofa se associa ao nome-símbolo do que isto foi e já não é, a assunção abusiva da celebração nacional quando ainda há dias se assistia ao folclore da prostituição ou bodo aos pobres da própria nacionalidade, o estendal das misérias e das vilanias da governança que merecemos bem escarrado na lista do Dr. Costa (que às outras nem vale a pena ver), só apetece dizer como o vencido da vida: "isto dá vontade de morrer..."


A Portugal

Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.

Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
a pouca sorte de nascido nela.
Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos são
por serem meus amigos, e mais nada.
Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões; salsugem porca
de esgoto atlântico; irrisória face
de lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fatua ignorância;
terra de escravos, cu pró ar ouvindo
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;
terra de funcionários e de prostitutas,
devotos todos do milagre, castos
nas horas vagas de doença oculta;
terra de heróis a peso de ouro e sangue,
e santos com balcão de secos e molhados
no fundo da virtude; terra triste
à luz do sol calada, arrebicada, pulha,
cheia de afáveis para os estrangeiros
que deixam moedas e transportam pulgas,
oh pulgas lusitanas, pela Europa;
terra de monumentos em que o povo
assina a merda o seu anonimato;
terra-museu em que se vive ainda,
com porcos pela rua, em casas celtiberas;
terra de poetas tão sentimentais
que o cheiro de um sovaco os põe em transe;
terra de pedras esburgadas, secas
como esses sentimentos de oito séculos
de roubos e patrões, barões ou condes;
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:
eu te pertenço.
És cabra, és badalhoca,
és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração.
Eu te pertenço mas seres minha, não.

Jorge de Sena

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