Je Maintiendrai
"... Le refus de la politique militante, le privilège absolu concédé à la littérature, la liberté de l'allure, le style comme une éthique, la continuité d'une recherche". Pol Vandromme
Wednesday, January 31, 2007
Pour l'enfant, amoureux de cartes et d'estampes,
L'univers est égal à son vaste appetit.
Ah! que le monde est grand à la clarté des lampes!
Aux yeux du souvenir que le monde est petit!
Un matin nous partons, le cerveau plein de flamme,
Le coeur gros de rancune et de désirs amers,
Et nous allons, suivant le rythme de la lame,
Berçant notre infini sur le fini des mers:
Les uns, joyeux de fuir une patrie infâme;
D'autres, l'horreur de leurs berceaux, et quelques-uns,
Astrologues noyés dans les yeux d'une femme,
La Circé tyrannique aux dangereux parfums.
Pour n'être pas changés en bêtes, ils s'enivrent
D'espace et de lumiere et de cieux embrasés;
La glace qui les mord, les soleils qui les cuivrent,
Effacent lentement la marque des baisers.
Mais les vrais voyageurs sont ceux-là seuls qui partent
Pour partir; coeur légers, semblables aux ballons,
De leur fatalité jamais ils ne s'ecartent,
Et, sans savoir pourquoi, disent toujours: Allons!
Ceux-là dont les désirs ont la forme des nues,
Et qui rêvent, ainsi qu'un conscrit le canon,
De vastes voluptés, changeantes, inconnues,
Et dont l'esprit humain n'a jamais su le nom!
Charles Baudelaire
(à Miss Pearls, pelo tempo que aqui perde)
Tuesday, January 30, 2007
55 DIAS EM PEQUIM
Oxalá fossem 55! Ou 40, ou 10, ou 1 semana. Mas não, em Pequim 1 dia e 1/2, outro tanto em Xangai e a mesma dose em Macau. Ou seja, nos dois primeiros casos, pouco tempo sobrará daquele tempo que ali se gasta em ir de um lado ao outro. Ou melhor, pouco não, muito, porque ainda se está para ver qual dos hierarcas chineses irá perder tempo com o que na defunta dinastia Qing se classificaria como uma embaixada de tributários de 3ª classe.
Vale a pena ver o site do Sr. PM e ouvir e ver o ar convincente com que se proclama aos Portugueses o sentido da "missão" (é esse aliás o nome do site oficial da visita: "Missão China 2007"!... à la James Bond) que visa (S. Exª o diz) "melhorar as relações políticas" e alcançar "objectivos económicos estratégicos" para "defender a presença de Portugal no mundo". Tudo em menos dias que dedos numa mão, num país de marretas como é a China, com a importância que por lá nos dão, "no preciso momento (repara oportunamente Notas Verbais) em que outro séquito chinês vai andar com o Presidente Hu Jintao e ministros homólogos dos homólogos portugueses pela África do Sul, Moçambique e Sudão. Ora, na China, Hu Jintao não é tudo mas politicamente é quase isso..." Do nosso lado avança a numerosa maltinha dos gabinetes e assessorias lusas (que o site prudentemente omite: 50? 100?), 4 ministros de enfeite para falar às paredes, 4 Secretários de Estado sortidos, 2 Reitores, 4 "institucionais" (quem é a Nini Andrade Silva?!) 23 catitas representantes dos media, 71 empresários com cadeira reservada (olha, o Mota da Engil está classificado como "diverso"!) todos a digerir ainda o caril e as chamuças da viagem de Cavaco, uns há muito descrentes do negócio na China, e outros, no oposto, gente que no íntimo dispensa bem o Governo para fazer negócios da China. A recebê-los, um embaixador solitário numa embaixada (a de Pequim) previamente desertificada por um asno que já dali desandou, com um conselheiro cultural sem fundos, que, aliás, é o único, porque -- espante-se -- não há conselheiro económico. Em Xangai anda por lá solitário um Cônsul que se passeia de táxi à procura de destino, e em Macau (onde o Cônsul já deve andar aflito a ver como vai pagar a recepção do Bela Vista) já sabemos como é, hoje com muito mais filipinos, australianos e americanos que portugueses "do Reino", e um governo local mais preocupado em safar a pele dos tremendos escândalos de corrupção do que dar troco a lero-lero. Pelo meio muito turismo, daquele que os chinas dão aos pretos que os visitam, e vá lá que desta vez houve vergonha e não vai nem a Ministra da Cultura nem a pertinaz Simonetta para não verem a desgraça que por lá têm feito. E SÓ 1 diplomata! Não acredito!
E que vai lá fazer o Sr. PM? Não sei; ao saber do desinteresse a que hoje aqui se vota a Ásia e ao ver o chibante video de promoção (turística) ainda fico mais intrigado... E já que tiveram a fineza e a franqueza de indicar a extensão da comitiva no site, já agora não querem dizer quanto vai custar ao erário a passeata dos 4 dias?
Monday, January 29, 2007
Friday, January 26, 2007
Thursday, January 25, 2007
E fê-lo, como habitualmente, de um modo tentadoramente perspicaz, mas que não posso inteiramente aceitar por divergências nas categorias lógicas. E passo a esclarecer o fio do raciocínio que me guia em coerência e expressão das minhas crenças e das minhas ideias. Raciocínio que assenta em dois postulados: um, no plano objectivo das ideias, e, outro, no plano circunstancial dos factos. A saber:
a) o aborto é atentatório do valor sagrado e objectivo da vida
b) o referendo de 11/2 sugere o que já defini como a imposição ínvia, cobarde e prepotente das qualificações e formas iníquas e aberrantes de uma normatividade que indicia o nascimento ou o crescimento de um Estado vicioso e pervertido por alimentador, não apenas da guerra ideológica e da fractura social interna, mas da própria dissolução de valores estruturantes de uma civilização que o gerou.
Aceites estes postulados, os casos que apresenta como de opcional utilização argumentativa (ora como sintoma, ora como causa), são, assim, para mim, consequências de postulados anteriores. E por isso (e para usar das suas palavras): à face do primeiro postulado, a prática do aborto incrimina a civilização que o tornou possível, ergo, à face do segundo, a defesa da nossa civilização impõe a criminalização do aborto.
Se a constatação do declínio civilizacional conduz à exoneração de culpas dos supervenientes praticantes do aborto – ainda que me pareça que o Confrade traz o argumento a fortiori – conhece pior sintoma de barbárie, essa situação onde o nexo causal de responsabilidade conduz, em matéria de valores, à mera culpa?!
Wednesday, January 24, 2007
Tuesday, January 23, 2007
Um esclarecimento sobre a compatibilidade do desencanto e da intervenção.
Um leitor e comentador, entre várias expressões que me penhoram (sobretudo a lembrança de linhas que já julgava sepultadas nos arquivos) teve a virtude de me fazer pensar e repensar posturas declaradas em formas que já são antigas ao ritmo da blogosfera. Nesse passado post interrogava-me eu se
“…valerá a pena combater o bom combate, na esperança de melhores dias? É um facto que durante anos e anos, regime após regime, guerra após guerra, paz após paz, a relativa unidade estruturante dos Portugueses permitiu na quadrícula geográfica a laboração e a sobrevivência de uma ideia de “portugalidade” com os correspondentes sentimentos de identificação e adesão, e até de “cumplicidade” entre portugueses. Há uma frondosa corrente de pensamento e de doutrina que assentou a sua vitalidade, a sua sedução, e até, a sua poesia, no dado adquirido da consistência étnica dos velhos habitantes do torrão nacional, nas marcas deixadas pelo contacto e pela luta continuada face ao meio onde secularmente se fixou, na memória da experiência histórica comum, enfim, na maneira de se ser face à vida e aos outros, que é no fundo o resultado depurado da interacção dos anteriores. Registo Teixeira de Pascoais (na Arte de Ser Português), ou Jorge Dias (Estudos do Carácter Nacional Português), ou Cunha Leão (O Enigma Português) como autores dos que mais aguda e realisticamente desceram às profundezas do ethos nacional. Lamento muito deixar de parte as variações de autores como António Quadros ou Agostinho da Silva, cujo simpático delírio causou estragos ainda difíceis de avaliar em termos da acreditação nos meios da intelectualidade tradicionalista de mitos universalistas e interculturais do género do 5º Império da Portugalidade, do “abraço armilar” ou da lusofonia mística. A essa escatologia (no sentido teológico, precise-se) estamos a vê-la todas os dias no Rossio, no Martim Moniz, no Catujal, na Linha de Sintra, no sucesso da CPLP ou na simpatia com que diariamente nos brindam os “irmãos” africanos ou brasileiros…
Durante a maior parte da nossa História, a portugalidade, a tradição e as formas de adesão “nacionalista” que ela suscitava, assentaram em expressões particulares e culturalmente distintas de espiritualidade religiosa, de estética, de adopção de determinadas instituições do Poder, de sentimento histórico, de sentimentos de pertença, de formas de relacionamento social interno e de formas de relacionamento no exterior, de sentido crítico, de sensatez e até de sentido de humor.
A quebra demográfica, a globalização acelerada, a introdução em progressão geométrica do elemento alienígena no tecido nacional, a suburbanização das populações e a decadência do espírito crítico são outros tantos golpes a corroer a viabilidade dessa tradição, e, em simultâneo, a criar os fundamentos de um mundo novo. E chegará o dia em que seremos confrontados -- cada vez mais o somos -- com o facto de que o sentirmo-nos portugueses não se traduz num viver digno numa determinada comunidade de cultura, história e etnia, mas numa vil sujeição aos tiques e aos ritmos de uma promiscuidade de vulgaridades, de folclores e de tribus, que nem sequer é ou já será a portuguesíssima “apagada e vil tristeza”.
E assim como a ideia tradicional de cariz jurídico-político do pactum subjectionis era naturalmente assumido ou justamente dissolvido por tirania ou outras formas de desvio, começo a admitir que o pactum que me liga à ideia nacional se dissolve gradualmente por tirânica degradação dos pressupostos da adesão nacionalista. A ideia tradicional de “portugalidade” é cada vez mais distante da realidade social e cultural que se encerra nas fronteiras políticas, limitando ou cerceando a possibilidade de persistirem ou de se desenvolverem os tradicionais sentimentos de identificação e adesão próprios dos crentes daquela. Com a propensão nacional para a simplificação chineleira, essa nova realidade continuará a suscitar identificações e adesões, mas não, decerto, as minhas. Portugal e os Portugueses galopam felizes em direcção a uma nova identidade fandanga, onde, com as anónimas menos-valias comuns ao triste Ocidente dos nossos dias, se amalgam específicos valores nacionais, do pior do que sempre em nós houve mas que agora perdemos a vergonha de exibir porque fomos abençoados com o dom de relativizar os tais “sentimentos passivos” de que falava Almada -- “a resignação, o fatalismo, a indolência, o medo do perigo, o servilismo, a timidez” -- cumulando no resultado já diagnosticado (e quanto nos custou ouvi-lo da boca do galego Camilo José Cela): tristes, invejosos, sem grandeza porque sem auto-estima.
Como não tenho feitio nem gosto para ficar sentado a sonhar com o 5º Império com Tróia a arder à volta, arrogo-me o direito de ponderar se também vale a pena considerar essa vertente poderosa do nacionalismo que é o apego à tradição. E pergunto-me se ainda haveremos de regressar aos tempos heróicos do medioevo em que nos destroços barbarizados do Império Romano a tradição foi piedosamente conservada em ilhas de cultura, geograficamente distantes mas coesas numa noção transcendental do destino humano, alheios a vínculos nacionais (se é que havia nações) e sobreviventes na insistência da possibilidade de ver o mundo, como Dante, sub specie civilitatis…”
Posição desanimada alguém lhe chamou. Será, mas quod scripsit, scripsit. Talvez a isso melhor se chame desilusão, admitida a ilusão na acepção que hoje perdemos e que tanto quanto creio só subsiste, formosamente, no tão espanhol e profundo conceito de ilusión.
O texto veio à colação pela pena do leitor-comentador, que falou de tradição, falou do bom combate, falou da resistência, falou de degradação; e de tudo falou aludindo ao referendo do próximo dia 11/2, e evocando “o terramoto moral que se anuncia [que] significa o colapso do Estado de Direito e a sepultura da vida social portuguesa no abismo da desumanidade”. Concordo com essencial da opinião. Aliás, tenho a maior das facilidades em declarar-me pelo “não”, sem complicações, sem especiosidades, sem circunlóquios. Decorre por lógica intrínseca da minha própria natureza de crente e de crente cristão; decorreria do próprio feixe de valores inerentes a um conceito de humanismo que certamente perfilharia caso não tivesse o amparo do quadro mais rico dessa crença. Decorre, enfim (e não é pouco) da necessidade de marcar, ainda que simbolicamente, a inaceitabilidade da imposição ínvia, cobarde e prepotente das formas iníquas e aberrantes de uma normatividade que sugere o nascimento ou o crescimento de um Estado vicioso e pervertido, em tudo contrastante com o que de facto, mal e bem, foi a nossa tradição ético-jurídica, ou, com maior amplitude, a “consciência nacional portuguesa”. Nisto – diga-se o que se disser -- confesso a minha satisfação pelo salutar sinal que, neste campo (e sem desprimor para outros) um significativo número de juristas portugueses, tanto criadores, como intérpretes e aplicadores da Lei, vêm dando.
E que tem isto tudo a ver com a posição que há tempos declarei como minha? Tem a ver que se o “sim” prevalecer, irei ler tal postura como um sintoma mais do estado cadaveroso deste triste País que -- por demissão ou inexistência das chamadas elites e da pertinaz ignorância de uma massa que já só se interessa e interroga sobre a sua memória histórica nas arenas da televisão -- cada vez mais se distancia daquilo que foi justificação da identificação e adesão de gerações sucessivas de portugueses, num mecanismo que acima procurei esboçar. Mas mais do que uma posição que no plano da tradição entendo como portuguesa ou consentânea com valores enformadores de uma “consciência nacional portuguesa” -- e por todas as razões que pessoalmente acima invoco -- entendo que uma postura de “não” é, em profundidade e nos tempos que correm, mais uma expressão teimosa de, face à barbárie e à rebelião das massas de que falava Ortega, continuar a afirmar o mundo e a nossa posição no mundo sub specie civilitatis.
Monday, January 22, 2007
Estes dias deu-me prazer ler o camiliano escalpe efectuado por Combustões sobre a temática já vergastada das direitas, uma bela prosa de Miss Pearls sobre flores, os diálogos parlamentares recordados no Dragoscópio, de amititia no Diário de T. Galvão, a oportuna nota para francófilos do Euroultramarino, o comentário de JAMaltez sobre a morte de Ruy de Albuquerque. E já faz falta o Misantropo.
Saturday, January 20, 2007
Friday, January 19, 2007
Janina Gavankar e o mais fantástico motor de busca de sempre!
(ex blog Idolatrica)
Entrava-se na primeira sala, guarnecida de magníficos panos de arrás e de talhas da Índia, e, depois, para o gabinete onde estavam os Condes e que era dos mais elegantes da época. Tremós e as bancas estavam cheios de preciosa louça do Japão e da Índia e de muitas curiosidades do Brasil, onde o Conde tinha sido Vice-Rei.
Estes meus parentes eram muito originais. O Conde era um homem alto, muito empoado e a cabeça muito cheia de pomada, grande rabicho e cara comprida. Não dizia uma palavra nem fazia o menor cumprimento quando entravámos; apenas, de tempos a tempos, lhe ouvíamos: Com que, a minha prima Oyenhausen... e nada concluía. Entretanto passava por ter sido um excelente Vice-Rei no Rio de Janeiro. Não largava o uniforme de Tenente General, mesmo em casa, e por cima do uniforme trazia um grande capote com um belo bordado na gola, correspondente à sua alta patente.
Sua mulher, a Condessa, ao contrário d'ele, falava sempre, mas dizendo sempre a mesma coisa. A sua conversação limitava-se a contar as graças das primas que tinha em diferentes conventos. A toilette de que usava, só a tornei a ver nas danças do teatro de S. Carlos, no tempo dos grotescos. Usava d'uma grande cabeleira loura, anelada, uma touca enfeitada com plumas de diferentes cores, tudo de pasmosa originalidade, vestido de cetim com grandes ramos de muito vivas cores, Sapatos com enormes saltos encarnados, e, nos dedos das mãos, muitos anéis de pedras preciosas. A um canto do gabinete estava ordinariamente assentado, junto a uma mesa de charão e fazendo paciências sem cessar, o ilustre Reitor da Universidade, o Principal Castro, irmão do Conde…”
(D. José Trasimundo Mascarenhas Memórias do Marquês de Fronteira e de Alorna)