Je Maintiendrai
"... Le refus de la politique militante, le privilège absolu concédé à la littérature, la liberté de l'allure, le style comme une éthique, la continuité d'une recherche". Pol Vandromme
Friday, December 29, 2006
Thursday, December 28, 2006
ANTES QUE O ANO ACABE - III
FACE TO FACE
FACE TO FACE
O acontecimento cultural do ano em Londres: a exposição Velázquez: Painter of Kings, King of Painters na National Gallery.
“For the first time in Britain, a major exhibition traces the career of one of the very greatest painters - Diego Rodriguez de Silva y Velázquez (1599-1660)... Drawing on the National Gallery's own rich holdings and major loans from the Museo del Prado and other collections, this exhibition includes almost half of the world's surviving works by Velázquez. It demonstrates the artist's extraordinary development through great examples of his religious and mythological paintings, alongside his portraits…”
Meus Senhores, saludos. Já estou de partida.
JÁ ESTÁ NA MINHA GAVETA.
Embaixadas de Portugal
Embaixadas de Portugal
Já tenho o livro. Estive há semanas no lançamento feito com a pompa e a circunstância devidas na Sala dos Espelhos do MNE. Aliás – começo a ficar complexado – é o segundo livro de peso que, no espaço de um mês, é apresentado nas Necessidades saído da pena de antigos companheiros das bancas da escolástica: primeiro, o do António Vasconcelos de Saldanha, e agora o do João Corrêa Nunes. Bela obra que já está na companhia de outras irmãs de género das casas Köneman, Rizzoli ou Laurence King Publishers. Daí que se veja que as fotografias de Miguel Valle de Figueiredo estão à altura das de qualquer outro fotógrafo de arquitectura e de arquitectura de interiores que por esse mundo fora existem com fama de grandes na arte. Talvez que o grafismo peculiar do livro lhes não faça a justiça que merecem, mas isso é outra conversa, e o livro merece no todo a distinção e o louvor.
As ilustrações estão acompanhadas de textos sóbrios e minimamente informativos, porque, de facto, o que conta é a grandeza do global, o gosto e a afirmação de uma imagem e do prestígio de um Estado que já foi grande e que ainda é antigo, só porque a antiguidade não se vende. É justo que se diga que a maior parte desta imagem grandiosa (por quem MNE e turiferários agora se engalanaram) se fica a dever ao cuidado, sentido de Estado e ao patriotismo dos homens do Ancien Régime. Na Secretaria de Estado, na Casa, ou no MNE (para os metecos) a memória, como a mentira, tem perna curta; como, aliás, se vê da estúpida apresentação de José Cutileiro na obra. Com maior ou menor diplomacia no discurso, não teria ficado mal notar esse débito no momento da justa vaidade; que se diga: foi ao empenho pessoal de homens como Salazar, António Ferro, Duarte Pacheco, Teixeira de Sampaio ou Paulo Cunha – certamente estimulados por vários diplomatas in loco (quando os diplomatas portugueses eram homens cultos e eram senhores) – que se fica a dever, repetimos, a grandeza do global, o gosto e a afirmação de uma imagem e do prestígio de um Estado que já foi grande. A mesquinhez a que a mesquinhez de Cutileiro alude, deve ser (aliada à vergonha, que com vergonha cala) mais justamente aplicada à política de desleixo, de mau gosto e de falta de grandeza na gestão da logística das missões portuguesas nos últimos trinta anos, abrilhantada por caladas, inconfessas e escandalosas histórias de depredação e roubo do património público lá colocado à guarda dos senhores diplomatas que agora se apresentam como homens da Renascença. Falo do que sei; basta pedir os inventários. E para testemunhar o cuidado e o empenho desses vilões do Antigo Regime, que pena não ser vivo Luís Possollo -- de quem ninguém falou – homem refinado, artista extraordinário, a quem foi entregue a arquitectura de interiores, a selecção, a compra ou a portuguesíssima artesania das peças que ornamentam as maiores embaixadas deste livro. E Basalisa, o autor de muitos dos frescos e ornamentos. E Luís Benavente, que ninguém hoje conhece, homem de Pacheco, a quem o património artístico nacional tanto deve. E inúmeros artistas ou artesãos desconhecidos que para esta grandeza que aí fica à vista de todos, contribuíram. Na minha família havia uma expressão castiça – “o vilão em casa de seu sogro” – empregue para aludir aos excessos de à vontade de rústicos em casa ou à conta do património alheio que por acidente lhes calhara na rifa. É o que apetece dizer aos catitas das Necessidades de agora: vilões; vilões em casa de seu sogro.
Mas o post é de festa pelo surgimento de um belo livro: parabéns ao João Corrêa Nunes e muitos parabéns ao Miguel Valle de Figueiredo. Para celebrar, escolhi três ilustrações: a escada nobre da embaixada em Londres, a fachada da histórica representação portuguesa em Bangkok, e uma bela vista da embaixada no Vaticano. E com intenção (como quase tudo o que escrevo): em primeiro lugar, uma homenagem ao grande Duque de Palmela e a Pedro Theotónio Pereira, artífices locais do que Portugal justamente se honra em Londres, embora hoje entregue nas unhas de um deslustrado embaixador sindicalista; outra, a José Eduardo de Mello Gouveia (outro omisso), que tanto pugnou pelo antigo prestígio de Portugal na Tailândia e pela dignificação da histórica representação do Sião, um processo longo que só foi concluído há dois anos, mas que vem do antigamente. Outra, enfim, ao diplomata e extraordinário homem de cultura que é António Pinto da França (mais um omisso), e ao muito que lhe deve o brilho artístico da magnífica embaixada do Vaticano e de tudo quanto foi presença de Portugal em Roma. Mais valera pedir-se-lhes a introdução da obra.
Disse.
As ilustrações estão acompanhadas de textos sóbrios e minimamente informativos, porque, de facto, o que conta é a grandeza do global, o gosto e a afirmação de uma imagem e do prestígio de um Estado que já foi grande e que ainda é antigo, só porque a antiguidade não se vende. É justo que se diga que a maior parte desta imagem grandiosa (por quem MNE e turiferários agora se engalanaram) se fica a dever ao cuidado, sentido de Estado e ao patriotismo dos homens do Ancien Régime. Na Secretaria de Estado, na Casa, ou no MNE (para os metecos) a memória, como a mentira, tem perna curta; como, aliás, se vê da estúpida apresentação de José Cutileiro na obra. Com maior ou menor diplomacia no discurso, não teria ficado mal notar esse débito no momento da justa vaidade; que se diga: foi ao empenho pessoal de homens como Salazar, António Ferro, Duarte Pacheco, Teixeira de Sampaio ou Paulo Cunha – certamente estimulados por vários diplomatas in loco (quando os diplomatas portugueses eram homens cultos e eram senhores) – que se fica a dever, repetimos, a grandeza do global, o gosto e a afirmação de uma imagem e do prestígio de um Estado que já foi grande. A mesquinhez a que a mesquinhez de Cutileiro alude, deve ser (aliada à vergonha, que com vergonha cala) mais justamente aplicada à política de desleixo, de mau gosto e de falta de grandeza na gestão da logística das missões portuguesas nos últimos trinta anos, abrilhantada por caladas, inconfessas e escandalosas histórias de depredação e roubo do património público lá colocado à guarda dos senhores diplomatas que agora se apresentam como homens da Renascença. Falo do que sei; basta pedir os inventários. E para testemunhar o cuidado e o empenho desses vilões do Antigo Regime, que pena não ser vivo Luís Possollo -- de quem ninguém falou – homem refinado, artista extraordinário, a quem foi entregue a arquitectura de interiores, a selecção, a compra ou a portuguesíssima artesania das peças que ornamentam as maiores embaixadas deste livro. E Basalisa, o autor de muitos dos frescos e ornamentos. E Luís Benavente, que ninguém hoje conhece, homem de Pacheco, a quem o património artístico nacional tanto deve. E inúmeros artistas ou artesãos desconhecidos que para esta grandeza que aí fica à vista de todos, contribuíram. Na minha família havia uma expressão castiça – “o vilão em casa de seu sogro” – empregue para aludir aos excessos de à vontade de rústicos em casa ou à conta do património alheio que por acidente lhes calhara na rifa. É o que apetece dizer aos catitas das Necessidades de agora: vilões; vilões em casa de seu sogro.
Mas o post é de festa pelo surgimento de um belo livro: parabéns ao João Corrêa Nunes e muitos parabéns ao Miguel Valle de Figueiredo. Para celebrar, escolhi três ilustrações: a escada nobre da embaixada em Londres, a fachada da histórica representação portuguesa em Bangkok, e uma bela vista da embaixada no Vaticano. E com intenção (como quase tudo o que escrevo): em primeiro lugar, uma homenagem ao grande Duque de Palmela e a Pedro Theotónio Pereira, artífices locais do que Portugal justamente se honra em Londres, embora hoje entregue nas unhas de um deslustrado embaixador sindicalista; outra, a José Eduardo de Mello Gouveia (outro omisso), que tanto pugnou pelo antigo prestígio de Portugal na Tailândia e pela dignificação da histórica representação do Sião, um processo longo que só foi concluído há dois anos, mas que vem do antigamente. Outra, enfim, ao diplomata e extraordinário homem de cultura que é António Pinto da França (mais um omisso), e ao muito que lhe deve o brilho artístico da magnífica embaixada do Vaticano e de tudo quanto foi presença de Portugal em Roma. Mais valera pedir-se-lhes a introdução da obra.
Disse.
Wednesday, December 27, 2006
DA MINHA GAVETA.
JÚLIO DE CASTILHO (1840-1919) E A LISBOA ANTIGA
Lisboeta rendido e impeninente, puxando o lustre ao galão prezado de filho, neto e bisneto e por aí adiante, de alfacinha, gabo-me de conhecer muito bem a minha Cidade; palmilho-a, vejo-a, revejo-a e até descubro-a, e não poucas vezes pergunto-me por onde andarão os olisipógrafos, não os curiosos e os interessados nas res olissiponense, mas os sucessores daquela casta de gente de outrora, erudita, sabedora e dedicada à cidade, umas vezes mascarada sob o rótulo antigo de arqueólogos, mas com créditos firmados em obra escrita que ainda hoje lemos com agrado e proveito. E no entanto não creio que faltem os devotados; conheci e conheço vários, alguns com responsabilidades na CML, de mérito discreto, quase clandestino, sabe Deus com que amargura a assistirem impotentes na primeira linha às barbaridades que diariamente aqui se cometem. Ou seja, não duvido dos méritos dos técnicos do Gabinete de Olisipografia, do Museu da Cidade, do Arquivo (sobretudo do fotográfico!) e até de uma nova geração de bloguistas olissiponenses. Falo, porém, dos Castilhos, dos Pastores de Macedo, dos Vieiras da Silva, dos Matos Sequeira, dos Norbertos de Araújo… A boa livraria da CML ao Saldanha tem coisas interessantes, algumas antigas e meritoriamente reeditadas, mas confesso respeitosamente que me ultrapassa a catadupa de literatura de estudos sociológicos, arquitectónicos e paisagísticos em que parece esgotar-se a ciência de Lisboa. Autres temps autres moeurs.
Eu sou um fã de Júlio de Castilho, e o feliz possuidor, por munificência paterna, de algumas das obras do filho do vate, especialmente dos doze volumes da Lisboa Antiga (Bairros Orientais). Que de graça, de erudição, de finura nessa obra que Luís Pastor de Macedo descreveu como “não só a obra dum arqueólogo e dum erudito, profundo conhecedor de bibliotecas e arquivos, mas também a dum artista, sensível como poucos ao espírito do tempo que passou, dum poeta que em cada pedra antiga encontra motivos permanentes de evocação e beleza…”. A minha edição é a 2ª, a de 1934, (baseada na rara 1º, das últimas décadas de XIX e revista até 1915 pelo próprio Castilho), dada à estampa pela CML por proposta desse mesmo olisipógrafo Pastor de Macedo, encarregue a outro olisipógrafo, Augusto Vieira da Silva, e por este dedicada a Joaquim Possidónio da Silva, arquitecto e também olisipógrafo. Felizes tempos de tal abundância!
Para recreio e edificação dos curiosos, e também como bandeira da causa, aqui fica hoje a recordação e umas linhas de Castilho na Lisboa Antiga, que dedico ao Confrade da Bic Laranja.
Eu sou um fã de Júlio de Castilho, e o feliz possuidor, por munificência paterna, de algumas das obras do filho do vate, especialmente dos doze volumes da Lisboa Antiga (Bairros Orientais). Que de graça, de erudição, de finura nessa obra que Luís Pastor de Macedo descreveu como “não só a obra dum arqueólogo e dum erudito, profundo conhecedor de bibliotecas e arquivos, mas também a dum artista, sensível como poucos ao espírito do tempo que passou, dum poeta que em cada pedra antiga encontra motivos permanentes de evocação e beleza…”. A minha edição é a 2ª, a de 1934, (baseada na rara 1º, das últimas décadas de XIX e revista até 1915 pelo próprio Castilho), dada à estampa pela CML por proposta desse mesmo olisipógrafo Pastor de Macedo, encarregue a outro olisipógrafo, Augusto Vieira da Silva, e por este dedicada a Joaquim Possidónio da Silva, arquitecto e também olisipógrafo. Felizes tempos de tal abundância!
Para recreio e edificação dos curiosos, e também como bandeira da causa, aqui fica hoje a recordação e umas linhas de Castilho na Lisboa Antiga, que dedico ao Confrade da Bic Laranja.
“...Como sucede com todas as cidades populosas, há em Lisboa muitas Lisboas. Não se conhecem entre si; não sabem quasi da existência umas das outras; e quando se encontram, por acaso, tratam-se de forasteiras.
Quem explicará ao risonho Buenos-Aires o que é a carrancuda Mouraria?
Quem será capaz de acender na irrequieta Alcântara as devoções do fidalgo S. Vicente?
Quem fará crer aos bastiões mauritanos do castelo de S. Jorge, que el-Rei de Portugal e do Algarve não mora na sua Alcáçova, mas sim no reguengo de Algés, num cabeço chamado da Ajuda?
Quem ensinará às ruas aldeãs de Campo de Ourique e da Cova-da-Moira, que o planeta é habitado muito para lá da Bemposta?
E quem ousará convencer a Junqueira e a Tapada, de que são já cristãos, por mercê de Deus, os moradores do Outeirinho da Amendoeira, de Benabuquel, da Judiaria, ou do Almocavar?
Podem empreender-se verdadeiras jornadas, verdadeiras viagens, de Lisboa para Lisboa. Vão de um bairro a outro estudar-se costumes novos, fisionomias novas, edificações de estilo diverso, pontos controvertidos de Historia pátria, moderna e antiga.
Neste livro que o leitor tem entre mãos explorarei Alfama, a inesgotável Alfama e suas imediações; isto é, remontarei o estudioso aos primeiros séculos da crónica portuguesa, e dir-lhe-ei:
“O que leste, vais vê-lo; o que estudaste nos livros, vais presenciá-lo nos usos, na topografia, na arquitectura. Eis-te no mais ilustre dos incunábulos da Monarquia. Vais visitar a Lisboa pré-histórica, a Lisboa fenícia, a Lisboa romana, a Lisboa sueva, a Lisboa visigoda, a Lisboa moirisca, a Lisboa cristã. Vais a um tempo devassar os paços dos Reis, as moradas dos nobres, os templos cristãos, semi-igrejas, semi-fortalezas, os albergues dos mecânicos, o bulício das Escolas-Gerais, o tráfego marcial e cidadão das ruas e praças”.
Será prometer demasiado, com o risco de não cumprir? Não é; a Lisboa antiga dá para tudo. É Lisboa já hoje uma grande cidade, e foi sempre interessantíssima. O muito que lhe querem seus filhos, e até a gente de fora, consta, e vincou rasto há séculos. Deixemos falar o burlesco personagem andaluz da Aulegrafia de Jorge Ferreira de Vasconcelos, e nos seus desdéns de enjoado, até chamava a Lisboa um riconsillo de Sevilla. Demos também o devido desconto a Frei Nicolau de Oliveira, que a reputava “a maior cidade da Cristandade... e por ventura... a maior do Mundo”. Mas desculpemos o entusiasmo de Cariófilo na comédia Eufrosina que exclamava: “Ah! que não há terra no mundo como Lisboa; a conversação da gente! a arte das mulheres! a liberdade da vida! Nem creiais que se pode viver noutra parte.” E outro actor da mesma engraçada comédia, a qual e, como todas as suas congéneres, espelho de costumes, denomina-a “mãi de todos”. É o que por ventura sentia uma das almas mais admiráveis que tem honrado tronos; a Rainha D. Leonor, mulher de el-Rei D. João II, costumava dizer que o tempo que estava fora de Lisboa não vivia.
Todas estas graciosas amplificações têm sua razão de ser; são traços espontâneos de muita graça e muito afecto; completam o retrato da nossa querida Lisboa. Esse retrato é minha ambição desenhá-lo, ainda que mais não seja a lápis fugitivo. Quero ser contado no número dos que mais a amaram. Neste meu dificílimo labutar observaremos juntos, o leitor e eu. O que ele souber, comigo o irá recordando; o de que se não lembrar, eu lho recordarei; e dos nossos passeios sairá um livro…
Quinta de S. Bento, Olivais, Maio de 1881.”
Saturday, December 23, 2006
Octavo Kalendas Januarii Anno a creatione mundi, quando in principio Deus creavit coelum et terram, quinquies millesimo centesimo nonagesimo nono:A diluvio vero, anno bis millesimo nongentesimo quinquagesimo septimo:A nativitate Abrahae, anno bis millesimo quintodecimo:A Moyse et egressu populi Israel de Aegypto, anno millesimo quingentesimo decimo:Ab unctione David in regem, anno millesimo trigesimo secundo:Hebdomoda sexagesima quinta juxta Danielis prophetiam:Olympiade centesima nongentesima quarta:Ab urbe Roma condita, anno septingentesimo quinquagesimo secundo:Anno imperii Octaviani Augusti quadragesimo secundo:toto urbe in pace composito, sexta mundi aetate, Jesus Christus aeternus Deus, aeternique Patris Filius, mundum volens adventu suo piisimo consecrare, de Spiritu Sancto conceptus, novemque post conceptionem decursus mensibus,in Bethlehem Judae nascitur ex Maria Virgine factus homo: NATIVITAS DOMINI NOSTRI JESU CHRISTI SECUNDUM CARNEM!
***
Thursday, December 21, 2006
PRESENTES DE NATAL
Da Velha Rússia
Dos marchands virtuais, presentes virtuais para a tertúlia virtual, com votos de Santo Natal e de um Bom Ano Novo
A ordem é arbitrária e não se aceitam devoluções
Da Velha Rússia
Dos marchands virtuais, presentes virtuais para a tertúlia virtual, com votos de Santo Natal e de um Bom Ano Novo
A ordem é arbitrária e não se aceitam devoluções
TRATADOS E DIPLOMACIA PORTUGUESA
Um livro novo
Um livro novo
Alertado pelos Confrades de Combustões e do Pasquim, fui ontem à apresentação do livro de A. Vasconcelos Saldanha no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Estava perto, já não via o autor há muito tempo e interessa-me o tema. Casa cheia (e, espante-se, uma boa quantidade de jovens, suponho que alunos) as apresentações a cargo do Embaixador João de Deus Ramos (um dos poucos diplomatas portugueses que percebe alguma coisa da Ásia) e de Armando Marques Guedes, que nos deu uma mini-aula de antropologia jurídica, o que fez bem naquela casa onde agora trabalha como cabeça do Instituto Diplomático, relembrando àqueles cavalheiros de vida fácil a autoridade do académico. Lá do meu canto da sala azulejada vi, antes de mais, que o autor, meu antigo colega, está, fatalmente, como eu, i.e. mais pesado e com mais brancas, mas folgo em vê-lo activo e produtivo depois da ordália dos três anos da que foi talvez a última grande batalha pelos interesses da presença cultural portuguesa na Ásia à frente do Instituto Português do Oriente, instituição hoje afundada pelas canhoneiras mercenárias deste gente que nos governa sem patriotismo e sem saber nada de nada. Enfim. O livro, tanto quanto me é dado ver de o esfolhear desde ontem (onde reconheço a marca da rigorosa escola de Martim de Albuquerque e as matrizes conceptuais de Adriano Moreira) vem na linha de outros que o autor tem produzido sob o signo da análise jurídico-política de instituições e das soluções tradicionais de governação imperial portuguesa; de facto, o magnum opus sobre os tratados e práticas convencionais de Portugal na Ásia, e o estudo sobre o Padroado Português e a diplomacia joanina nas suas frentes chinesa e romana (a que já em tempos me referi) antecedem de algum modo este extenso estudo sobre a conceptualização e a convencionalização jurídica de uma solução para o aparentemente insolúvel problema qual foi a “Questão de Macau” e o "impossível" tratado com a China. Os vinte anos da Declaração Conjunta Luso-Chinês que selou o destino da nossa presença secular na China (e que no ano que entra comemora vinte anos) sugerem uma leitura atenta das condições da elaboração do tratado luso-chinês de 1887, objecto central do estudo de AVS. A esse propósito, gostei que nas breves palavras que o autor ontem proferiu nos desse uma outra chave da compreensão deste livro, qual é a constatação da credibilidade, do patriotismo, da competência e conhecimento de campo da diplomacia portuguesa, sensível numa inegável consistência e coerência, ao longo de vários governos, vários regimes, num período que se espraiou do tempo de Costa Cabral aos dias de Marcelo Caetano. Está vista a conclusão: os homens que agora negociaram a saída portuguesa da China foram precisamente aqueles que mais borraram a pintura, dispensando alegremente as dezenas de caixas com os dossiers da Questão de Macau existentes no MNE e quebrando a prudente tradição diplomática e governativa de gestão da questão de Macau e das relações com a China. Não admira: foi mais uma das belas polkas sucessivamente dansadas sob a batuta soarista, gamista e sampaista, cumulando na actuação desastrosa desse asno falante que, para mofa dos Chineses, chefiou o Grupo de Ligação Luso-Chinês responsável pela gestão do tempo emprestado que se esgotou no dia da transferência da soberania de Macau, um diplomata sindicalista que até há pouco tempo foi embaixador em Pequim e que agora, em vez de um quarto, um banco e um púcaro no Rilhafoles, foi recompensado com a embaixada em Londres. Talvez seja por isso que, adiando para as calendas a ansiada publicação do respectivo Livro Branco (que existe p. ex. para o caso de Goa), os Srs. Ministros dos N. Estrangeiros continuem a fazer pesar o interdito e o black out sobre tudo o que seja papel ou papeleta respeitante às negociações sobre a transferência de Macau. Deus lhes perdoe e a nós nos dê juízo até três dias depois de mortos. Pelo menos, a um livro esclarecedor e justiceiro para um período de respeitabilidade de governação e diplomacia portuguesa já o temos.
“…Don Quijote le rogo le dijese quien era, pues le habia dado parte de su condición y de su vida. A lo que respondio el del Verde Gaban: “Yo, señor Caballero de la Triste Figura, soy un hidalgo natural de un lugar donde iremos a comer hoy, si Dios fuese servido; soy mas que medianamente rico, y es mi nombre don Diego de Miranda; paso la vida con mi mujer y con mis hijos y con mis amigos: mis ejercicios son el de la caza y pesca, pero no mantengo ni halcon ni galgos, sino algun perdigon manso o algun huron atrevido; tengo hasta seis docenas de libros, cuales de romance y cuales de latin, de historia algunos, y de devoción otros: los de caballerias aun no han entrado por los umbrales de mis puertas; hojeo mas los que son profanos que los devotos, como sean de honesto entretenimiento, que deleiten con el lenguaje, y admiren y suspendan con la invención, puesto que destos hay muy pocos en Espana; alguna vez como con mis vecinos y amigos, y muchas veces los convido: son mis convites limpios y aseados, y no nada escasos; ni gusto de murmurar, ni consiento que delante de mi se murmure; no escu-drino las vidas ajenas, ni soy lince de los hechos de los otros; oigo misa cada dia; reparto de mis bienes con los pobres sin hacer alarde de las buenas obras, por no dar entrada en mi corazon a la hipocresia y vanagloria, enemigos que blandamente se apoderan del corazón mas recatado; procure poner en paz los que se que estan desavenidos; soy devoto de nuestra Senora, y confio siempre en la misericordia infinita de Dios nuestro Senor.”
Atentisimo estuvo Sancho a la relacion de la vida y entretenimientos del hidalgo; y pareciendole buena y santa, y que quien lo hacla debia de hacer milagros, se arrojo del rucio, y con gran priesa le fue a asir del estribo derecho, y con devoto corazon y casi con lagrimas le beso los pies una y muchas veces. Visto lo cual por el hidalgo, le pregunto: “Que haceis, hermano? Que besos son estos?” – “Dejenme besar - respondio Sancho - porque me parece vuesa merced el primer santo a la jineta que he visto en todos los dias de mi vida.” -- No soy santo - respondió el hidalgo - sino gran pecador; vos si, hermano, que debeis de ser bueno como vuestra simplicidad lo muestra...”
Miguel de Cervantes, Quijote, P. II Cap. XVI
Tuesday, December 19, 2006
"ESTA É A MOEDA COM QUE EL-REI DE PORTUGAL PAGA OS SEUS TRIBUTOS..."
As últimas batalhas navais de Portugal na Índia
As últimas batalhas navais de Portugal na Índia