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Je Maintiendrai

"... Le refus de la politique militante, le privilège absolu concédé à la littérature, la liberté de l'allure, le style comme une éthique, la continuité d'une recherche". Pol Vandromme

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Tuesday, February 28, 2006







DA MESA DO ORIENTAL

AINDA NO FIO DA ESPADA

Bom ponto feito pelo Misantropo em sede da nobre arte. Harrison é um velho clássico, e, ainda que, em meu entender, mais genuíno que o filósofo Herrigel , pertencem ambos à primeira vaga dos divulgadores das artes marciais japoneses no Ocidente, quando pelo Dai-Nippon também andava o nosso Wenceslau, mais dado a outras estéticas e absolutamente imune ao fighting spirit.
Quanto me apercebi, há algum consenso entre os sensei no que respeita à literatura para nanban-jin; nele, a colectânea clássica de Sato, Sword and the Mind, alguns títulos que já aqui trouxe um dia, dos quais se recomenda pelo extremo interesse (apesar do título algo restritivo) o esboço de uma teoria das artes marciais por Kenji Tokitsu.
O melhor de tudo ainda é a prática, in loco, com os sensei da velha guarda, a quem os livros pouco interessam e com quem se aprende mais num dia do que num ano a ler. E para contrabalançar o excesso de entusiasmo cultural no Japão, recomenda-se vivamente Kurt Singer, Mirror, Sword and Jewel -- porventura uma das mais agudas e desapaixonadas análises do espírito japonês, ou numa versão mais light, Kurt Singer, A Japanese Mirror. Heroes and Villains in Japanese Culture.




Uma Espécie de Perfeição

Monday, February 27, 2006




Para lá do Marão… II

O Abade de Baçal! Para muitos um símbolo da própria identidade trasmontana, infatigável obreiro da memória cultural do distrito de Bragança. O bom do Reitor Francisco Manuel Alves há mais de meio século que repousa no resplendor da Luz perpétua, mas em Bragança lá lhe continuam a memória no belo museu que honraram com o seu nome. Para os que hoje só podem palmilhar as estradas que levam a Trás-os-Montes pelas estantes da livraria da casa, deve-se-lhe o arrimo das frondosas Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança --- “Os Fidalgos”, “Os Notáveis”, “Os Judeus” ! --- e uma multitude de outras páginas de arqueologia, de etnografia e arte. Que beleza, que grandeza, que saudade do tempo que se não conheceu…



Para lá do Marão… I

Para lá do Marão, mandam os que lá estão…. E se não mandam, mandam neles próprios o que já não é mau nos tempos que correm. Ainda que laços ténues me recordem que algum do meu sangue vem dessa nobre província, a trasmontanice tem dessas coisas, um orgulho sereno que sobrenada sobre qualquer outra origem que nos calhe em maioria na lotaria do nascimento, e um desejo peculiar de periodicamente lá ir beber não sei que forças anímicas. Em poucos sítios de Portugal me sinto apaziguado com a minha ideia da terra e das gentes, em poucos sítios de Portugal me parece mais arrastado o fluir fatal deste País para a vulgaridade. Não sei se é da altura, da grandeza, da largueza das vistas, da cor, da sobriedade e de um não sei quê que distingue essas gentes dos seus vizinhos mais próximos, da secura austera da Beira ou da paroquialidade que nos assalta do Marão para Ocidente. E depois, de Trás-os-Montes só se lembra quem de lá é; não faz mal, é retribuído…

Sunday, February 26, 2006



Phallus Impudicus


Entram Suetónio e Thoreau.
Sobre Cogumelos.
Aspectos desagradáveis dos cogumelos I.
A morte do Imperador Cláudio, in Suetonius - De Vita XII Caesarum (Divo Claudio, XLIV):
"...Et ueneno quidem occisum conuenit; ubi autem et per quem dato, discrepat. Quidam tradunt epulanti in arce cum sacerdotibus per Halotum spadonem praegustatorem; alii domestico conuiuio per ipsam Agrippinam, quae boletum medicatum auidissimo ciborum talium optulerat. ..."
Aspectos desagradáveis dos cogumelos II.
Má impressão de Thoreau sobre o Phallus Impudicus -- in Henry David Thoreau, Journals, 16.10.1856:
"One of those fungi named [phallus] impudicus, I think. In all respects a most disgusting object, yet very suggestive. [...] It was as offensive to the eye as to the scent, the cap rapidly melting and defiling what it touched with a fetid, olivaceous, semiliquid matter. In an hour or two the plant scented the whole house wherever placed, so that it could not be endured. I was afraid to sleep in my chamber where it had lain until the room had been well ventilated. It smelled like a dead rat in the ceiling, in all the ceilings of the house. Pray, what was Nature thinking of when she made this? She almost puts herself on a level with those who draw in privies!"

Saturday, February 25, 2006


AIDE MÉMOIRE

Já se lembram? E lá está o famoso guarda-chuva.


Para Ler Deitado

Contributo para os roteiros d'O Jansenista

Friday, February 24, 2006



...E O MEU VILÃO

E o meu vilão favorito, herói de juventude: Alain Wheatley - O Sheriff de Nottingham!

"The Sheriff of Nottingham was played to villainous perfection by Alan Wheatley. He schemed and double-crossed his way to defeat each week. One of the sheriff's blind spots was his obvious affection for Maid Marian. He didn't pursue Marian with the vigour that evil suitors usually did, but his fondness for Marian did blind the Sheriff to her true allegiances..."
Allen W. Wright




DA MINHA GAVETA. DÉCADAS DE BARROS

Com a expressa licença de Eurico de Barros, e a bem da homenagem à minha geração, aqui ponho e deixo uma sua bela crónica dos idos de Fevereiro de 95, no Diário de Notícias:

“Nascemos a olhar para ela.
Aviso: esta é uma crónica sobre gerações. Quem sentir que ainda não pertence a ne­nhuma, ou já não tem pachorra para a que devia ser sua, favor passar adiante. Aqui há dias, fiz Porto-Lisboa num carro cheio de amigos e colegas, todos já a jogar no meio campo dos trinta anos, uns ainda thirtysome­thing, outras já thirtytoomuch. Depois do farto conforto das sandes de leitão da Mealhada, e enquanto a viatura zunia pela A-1 abaixo, demos connosco, já não sei por que pirueta da conversa, à procura do nosso património geracio­nal comum. A componente político-ideológica ficou logo de fora. Em ter­mos de antes do Vinte-e-Cinco­-do-Quatro, nenhum tinha sido antifascista por óbvia indisponi­bilidade mental e etária (no máxi­mo, só anti-Matemática no liceu, anti-álbuns dos Kiss em música), ninguém tinha andado na guerra do Ultramar ou fintado a mesma por razões idem. E em termos de pós-Vinte-e-Cinco-do-Quatro, cada um tinha andado, brevemente, a fazer disparates pró-abrileiros ou contra-revolucianários avulsos, uns bandeados com o esquerdelho, outros coladitos ao centro-direi­tista, mas todos sem expressão político-militante que se visse para ser cola de geração. Passou-se depois para a cultura mais a popular que a alta. Tínhamos todos brincado mais ou menos com os mesmos brinquedos, lido alguns dos mesmos livros juvenis e devorado bastantes das mesmas histórias aos quadradi­nhos, ouvido muitos dos mesmos discos e vista uma considerável quantidade dos mesmos filmes, com referências básicas comuns mas preferências flutuantes. Até que alguém se lembrou de falar no dia em que Lisboa ficou deserta para ver na televisão o último episódio do Fugitivo. Toda a gente naquele carro se lembrava limpidamente do Fugi­tivo, das caretas canastronas do David Janssen, que nunca mais deitava a mão ao maneta, e do Barry Morse, que fazia de polícia e depois entrou no Espaço:1999, com o Martin Landau e a Barbara Bain, que tinham sido da Missão Impossível. Era isso, a televisão. Todos nos lembrávamos, do Daktari e dos nomes do actor principal (Mar­shall Thompson), do leão zarolho (Clarence) e da macaca salta-po­cinhas (Judy), do elenco principal do Mister Solo (Robert Vaughn, David McCallum, Leo G. Car­roll) e da UNCLE e de ter possuído o carrinho Matchbox respecti­vo, dos fatos de couro da Diana Rigg (slurp!) e do chapéu-de-chu­va-florete do Patrick Macnee nos Vingadores, onde o detective à paisana do Tight Rope escondia a pistola, do porco do Viver no Campo, do urso de 0 Bom Gigan­te, do golfinho do Flipper, do cão do Rin-Tin-Tin, do canguru esper­to como dez corais do Skippy, do Chuck Connors a laçar girafas no Cowboy em Africa, que era África de estúdio na Califórnia e nós ralados na altura, dos apaches ululantes do High Chaparral, da Barbara Stanwyck no Grande Vale, do papel do Anthony Hopkins na monumental Guerra e Paz da BBC, do guarda-roupa fatela do Tony Curtis e dos enga­tes aristocráticos do Roger Moore nos Persuasores, Roger Moore que quando fazia de Santo aparecia-lhe uma auréola a fazer “plim!” por cima do penteado inatacável, então um efeito espe­cial, hoje um defeito normal. Não havia naquela viatura uma única pessoa que se tivesse esque­cido da música-tema da Bonanza, de ter tido muito medo do fantas­ma do Louvre no Belphegor, de ter desejado pertencer com todas as suas forças ao grupo dos Pe­quenos Vagabundos, estranhado a fauna selvagem do Kimba falar japonês, de ter vibrado sempre que o Roy Thinnes desmascarava um extraterrestre e ele se desfazia em fragmentos de luz nos Invaso­res, da revolução que tinham sido as primeiras emissões à hora do almoço, havia uma série diferente todos os dias, a mais kitsch era A Família Partridge, todos com calças à boca de sino de catedral e a cantar em playback, e a Susan Dey, futura Teias da Lei, a espicaçar-nos a puberdade. Pois é. Nascidos com a televi­são estatal, a preto e branco e a fechar a emissão a horas respeitá­veis, acabámos por argamassar todas as séries estrangeiras em que gastámos os olhos num patri­mónio cultural e afectivo compar­tilhado, no cimento audiovisual de uma geração. Que mal há nisso? Absoluta­mente nenhum. Não crescemos deformadinhos por ficarmos acordados até apare­cer a bandeira e soar o hino nacio­nal no ecrã, não nos transformá­mos em sociopatas por termos engolido tanta violência, fazemos figura de enciclopédias andantes sempre que a televisão dos velhos tempos vem à baila em sociedade e pusemos muito pão e leite na mesa das famílias dos nossos ocu­listas. Além disso, nessa altura, só havia um político na televisão -- o almirante Américo Tomás -- e de­zenas de séries diferentes. Hoje, há dezenas de políticos e séries quase nenhumas. Não têm inveja, putos?”






FREDERICO O GRANDE,
FREDERICO O ÚNICO


Na senda de Combustões, homenagem a um dos vultos mais extraordinários da Europa Setecentista – Frederico II da Prússia, “Rei-Filósofo, melómano, descrente, granadeiro, amigo das crianças e dos animais”.
A registar: a sua grandeza de espírito nas décadas de correspondência de Frederico (“le solitaire de Sans-Souci”) com Voltaire (“le patriarche de Ferney”).
A admirar: a sua sensibilidade no belíssimo Andante da sua Sinfonia Nº 1 em G maior.
A vibrar: (adoro marchas!) com a sua e famosa Hohenfriedberger March
Vale!


ARQUITECTANDO

Arquitectando montarias a Jansenius

Choverá?






THE MASK


Amigo meu (mais da onça do que meu), com dedo acusativo e voz melíflua instilou-me a dúvida se não estaria eu a pecar por mau gosto a associar a vera efígie de S. Inácio com os posts de um blog "dado a divagações de tom hedonista e vagamundo, quando não mesmo eivado de tiradas fesceninas". Justos Céus! Nunca tal coisa me passou pela cabeça quando assim reverentemente prestei homenagem ao Santo navarrês! Cedo. Vou aliviar a consciência e prevenir os confrades que a partir de hoje a severidade inaciana -- sem prejuízo da lição orientadora que por aqui continuará a pairar - é substituída pela severidade de Gôngora, pelo pincel de Velasquez. O que garanto é que Je M. é mais bem apessoado que qualquer um dos dois...


DO ORIENTE

Tenho pena de não ter assistido à prelecção do António Vasconcelos na UC de que nos dá conta Combustões. Gostava de o rever e gostava de o ouvir – tenho-o por sério, por sensato e informado – numa questão que vai bradando aos céus (o desatino da política externa portuguesa no que à Ásia respeita) e que tem a ver com os tristes rumos deste País. Amigo que lá passou assevera-me que os diplomatas presentes e o representante de sexa o MNE saíram de lá com as orelhas a arder. É que o ponto com autoridade mais insistentemente martelado pelo nosso Prof. foi aquele onde mais dói aos funcionários do MNE e ao moribundo satélite Instituto Camões: falta de pensamento, falta de estratégia, falta de acção, falta de dignidade e falta de sentido de Estado na aproximação às nossas responsabilidades históricas na Ásia. Bem, e se calhar é isso: o tempo é de desresponsabilização e de fechar nos armários quanto cheire a ultra-mar… Ou então é só estupidez.

Wednesday, February 22, 2006


VÍNCULOS

Acreditamos em coisas, em princípios, em valores. Acreditar, é a expressão do sistema dinâmico de adesões ou de crenças que constitui a raiz da nossa racionalidade, decorrendo desse sistema de crenças a miríade de vínculos sobre os quais assenta toda a nossa a vida e a nossa Weltanschauung. Abundância ou complexidade de vínculos nunca foi indicativo de felicidade ou paz de espírito. Recordo que a catequética tradicional nos prevenia justa e continuadamente da má selecção, e sobretudo, do excesso de respeitos. E tanto assim é, que o despojamento próprio das asceses religiosas ou de correntes puramente filosóficas como o estoicismo comungam de um mesmo desiderato prático que é o alívio do eu, uns como condição de perfeita e transcendente comunhão na Divindade, outros como utilitária garantia da felicidade no vale de lágrimas do mundo dos homens. A natural ou despretenciosa sabedoria dos simples, dos grandes e dos justos é precisamente marcada pelo despojamento e pelo reducionismo das crenças às essências.
É a crença “nacionalista” uma essência? Corre na confraria um debate intenso sobre “nacionalismo”, não tanto um debate segundo os cânones tradicionais onde a ideia, como unidade, sustenta a polémica, mas um debate que ainda se vai esvaindo na definição conceptual ou na definição dos planos onde (para cada um) assenta a “logística das ideias”.
Penso que me calha também dizer de meu direito. Colho aqui e ali considerações que na generalidade perfilho; que “as nações pertencem realmente ao domínio da construções humanas, das realizações do homem na história, não constituindo factos da natureza, como parecem pensar alguns tolos” (Sexo dos Anjos), um “bom profiláctico contra as dissoluções delirantes que tantas vezes se acoitam sob a bandeira internacionalista”, e, portanto, um “residual inócuo” quando contrastado com o plano superior da ordem moral (O Jansenista), um plano de exercício de cidadania (assim, cidadania nacional) definido por moldes consagrados na tradição, compatível e, em nosso entender, não miscível com o que alguém definiu como a cidadania do género humano, maxime se tivermos bem clara a escala de valores da lição evangélica e das laborações tomísticas e neo-escolásticas (mihi).
Como Português em Portugal, entendo o problema do nacionalismo estreitamente vinculado à questão da tradição. O nacionalismo subsume-se e ganha sentido na viabilidade da tradição específica de uma nação; o nacionalismo é, assim, simultaneamente, a manifestação de fé na existência da tradição, o grito de unidade lançado ao exterior, o auto-sustento anímico de aceitação de uma construída unidade política.
***
Há tempos, em agradável debate com o confrade Corcunda, falou-se de tradição, em sede de Direito e de Justiça. Retenho só o que na altura contrapunha, i.e. que a “tradição” correctamente destacada e invocada, se constitui como a unidade, manifestação palpável do ajuste continuado das formas aos princípios, e, portanto, da legitimidade das mesmas formas, sejam elas um sistema normativo ou um quadro institucional.
A tradição, é traditio no seu sentido exacto, uma dinâmica que se verifica enquanto ao longo dos séculos houver mãos naturalmente dispostas a formar cadeias por onde um património, erguido, flua naturalmente ao longo desses mesmos séculos. A falta de expontaneidade de oferta dessas mãos, mata a tradição e retira-lhe a legitimidade: a tradição deixa então de ser o património que, vivificando, flui serenamente, passando a exibir-se como uma mera carcaça que vamos atirando mecanicamente para a frente.
Constato com dor que Portugal é hoje um país e uma nação com cada vez menos tradição. O fluxo vital dos valores que me são queridos vem de há muito a ser corroído, e até interrompido, pelo iluminismo burguês, pelo positivismo, pelo marxismo, pelo simples laicismo ou pelo demoliberalismo, com o efeito catalizador das rupturas revolucionárias a que a nossa débil estrutura sócio-cultural tem sido sujeita nos últimos dois séculos e meio.
Ora, não acredito sinceramente nem me obrigo à sujeição a uma ideia nacional num país onde a legitimidade dos valores em que acredito deixou ou está em vias de deixar de existir porque deixaram de fluir ou brotar do que alguém definiu como a “consciência nacional portuguesa”, fazendo-se depender a sua persistência de um esforço de imposição, persuasão ou proselitismo doutrinário, por simpáticos que me sejam os seus fautores.
Valerá a pena combater o bom combate, na esperança de melhores dias? É um facto que durante anos e anos, regime após regime, guerra após guerra, paz após paz, a relativa unidade estruturante dos Portugueses permitiu na quadrícula geográfica a laboração e a sobrevivência de uma ideia de “portugalidade” com os correspondentes sentimentos de identificação e adesão, e até de “cumplicidade” entre portugueses. Há uma frondosa corrente de pensamento e de doutrina que assentou a sua vitalidade, a sua sedução, e até, a sua poesia, no dado adquirido da consistência étnica dos velhos habitantes do torrão nacional, nas marcas deixadas pelo contacto e pela luta continuada face ao meio onde secularmente se fixou, na memória da experiência histórica comum, enfim, na maneira de se ser face à vida e aos outros, que é no fundo o resultado depurado da interacção dos anteriores. Registo Teixeira de Pascoais (na Arte de Ser Português), ou Jorge Dias (Estudos do Carácter Nacional Português), ou Cunha Leão (O Enigma Português) como autores dos que mais aguda e realisticamente desceram às profundezas do ethos nacional. Lamento muito deixar de parte as variações de autores como António Quadros ou Agostinho da Silva, cujo simpático delírio causou estragos ainda difíceis de avaliar em termos da acreditação nos meios da intelectualidade tradicionalista de mitos universalistas e interculturais do género do 5º Império da Portugalidade, do “abraço armilar” ou da lusofonia mística. A essa escatologia (no sentido teológico, precise-se) estamos a vê-la todas os dias no Rossio, no Martim Moniz, no Catujal, na Linha de Sintra, no sucesso da CPLP ou na simpatia com que diariamente nos brindam os “irmãos” africanos ou brasileiros…
Durante a maior parte da nossa História a portugalidade, a tradição e as formas de adesão “nacionalista” que ela suscitava, assentaram em expressões particulares e culturalmente distintas de espiritualidade religiosa, de estética, de adopção de determinadas instituições do Poder, de sentimento histórico, de sentimentos de pertença, de formas de relacionamento social interno e de formas de relacionamento no exterior, de sentido crítico, de sensatez e até de sentido de humor.
A quebra demográfica, a globalização acelerada, a introdução em progressão geométrica do elemento alienígena no tecido nacional, a suburbanização das populações e a decadência do espírito crítico são outros tantes golpes a corroer a viabilidade dessa tradição, e, em simultâneo, a criar os fundamentos de um mundo novo. E chegará o dia em que seremos confrontados --- cada vez mais o somos --- com o facto de que o sentirmo-nos portugueses não se traduz num viver digno numa determinada comunidade de cultura, história e etnia, mas numa vil sujeição aos tiques e aos ritmos de uma promiscuidade de vulgaridades, de folclores e de tribus, que nem sequer é ou já será a portuguesíssima “apagada e vil tristeza”.
E assim como a ideia tradicional de cariz jurídico-político do pactum subjectionis era naturalmente assumido ou justamente dissolvido por tirania ou outras formas de desvio, começo a admitir que o pactum que me liga à ideia nacional se dissolve gradualmente por tirânica degradação dos pressupostos da adesão nacionalista. A ideia tradicional de “portugalidade” é cada vez mais distante da realidade social e cultural que se encerra nas fronteiras políticas, limitando ou cerceando a possibilidade de persistirem ou de se desenvolverem os tradicionais sentimentos de identificação e adesão próprios dos crentes daquela. Com a propensão nacional para a simplificação chineleira, essa nova realidade continuará a suscitar identificações e adesões, mas não, decerto, as minhas. Portugal e os Portugueses galopam felizes em direcção a uma nova identidade fandanga, onde, com as anónimas menos-valias comuns ao triste Ocidente dos nossos dias, se amalgam específicos valores nacionais, do pior do que sempre em nós houve mas que agora perdemos a vergonha de exibir porque fomos abençoados com o dom de relativizar os tais “sentimentos passivos” de que falava Almada --- “a resignação, o fatalismo, a indolência, o medo do perigo, o servilismo, a timidez” --- cumulando no resultado já diagnosticado (e quanto nos custou ouvi-lo da boca do galego Camilo José Cela): tristes, invejosos, sem grandeza porque sem auto-estima.
Como não tenho feitio nem gosto para ficar sentado a sonhar com o 5º Império com Tróia a arder à volta, arrogo-me o direito de ponderar se também vale a pena considerar essa vertente poderosa do nacionalismo que é o apego à tradição. E pergunto-me se ainda haveremos de regressar aos tempos heróicos do medioevo em que nos destroços barbarizados do Império Romano a tradição foi piedosamente conservada em ilhas de cultura, geograficamente distantes mas coesas numa noção transcendental do destino humano, alheios a vínculos nacionais (se é que havia nações) e sobreviventes na insistência da possibilidade de ver o mundo, como Dante, sub specie civilitatis.



PEQUENO ALMOÇO COM UTE LEMPER


Berlin Cabaret Songs

"Specifically, these are cabaret songs of the years of the Weimar Republic (1918-1933), written by such composers as Friedrich Hollaender (who became Frederick Hollander when he followed Marlene Dietrich to Hollywood) and Mischa Spoliansky. They reflect the decadence and unfulfilled hopes of a temporary oasis in German history marked by runaway inflation and agitations of the Left and Right, matters treated in the lyrics. The album contains material that provides the perhaps unrealized source of later re-creations like the score for the Broadway musical +Cabaret. Ute Lemper (who has performed extensively in that show) gives bravura readings of songs that treat corruption, homosexuality, and a doomed social idealism with music, provided by the Matrix Ensemble, that recalls Kurt Weill and hot jazz. The looming Nazi era is inescapable in such Hollaender songs as "Oh, How We Wish That We Were Kids Again" and especially "Münchhausen." The latter bears some similarity to the folk song "Last Night I Had the Strangest Dream," except that we know what happened in Germany instead of the dream of peace and social justice Hollaender proposes. More than a mere history lesson, Berlin Cabaret Songs reawakens a lost era that engages issues of tolerance, sexual confusion, and political uncertainty that continue to affect listeners. It also contains some extremely funny numbers. Jeremy Lawrence's English lyrics, based on translations by Alan Lareau, Kathleen L. Komar, and Haas, are amazingly deft, retaining the German flavor but singing well in their adoptive language.
~ William Ruhlmann, All Music Guide

MERDE

Não. Não se trata de qualquer disquisição de história militar, referida ao lendário mot de Cambronne em Waterloo, e muito menos expressão opinativa sobre estilos de governo.
É a, no mínimo, curiosa, obra de Ralph Lewin, descrita na espirituosa crítica de Peter Kurth como uma "scientific excursion into the cultural and social and anthropological and mythological and biological aspects of what we might as well call coprology".

"...Quite apart from its subject matter, this is a perfect book for the john. Shitting doesn't lend itself to any narrative pattern, and "Merde" is best read in short or long installments, depending on the state of your colon. At times, Lewin strives too hard for puns and clever remarks: "We are told that in a single year the French king Louis XV was subjected to more than two hundred purges and a comparable number of enemas. (Evidently not all of his time was spent on the throne.)" But you won't find a more elegant or a wittier treatise on shit in any bookstore this season..."

Tuesday, February 21, 2006



SOUVENIR PIEUX EM NOITE DE FRIO

Chá!






PARA ACABAR DE VEZ COM A CARTEIRA


Com votos que nunca lá encontre patrícios do Centro Nacional de Cultura, desta feita aqui dedico ao Euro-Ultramarino novos e glorious poisos de viagem para esquecer o tango, ler o Somerset, o Conrad, recordar o Auden, e, eventualmente, refrescar o espírito com lucubrações arquitectónicas a condizer. Em Penang. E à volta descanse no Ceilão.

Monday, February 20, 2006









SOZINHO NA MESA DO ORIENTAL

MAUGHAM, CONRAD & RAFFLES

Os posts orientalmente nostálgicos de Combustões têm destas coisas de mexer no foro da saudade, recordando o remanso do Raffles depois de agitada vinda de Bkk directamente das alturas do Sirocco.
Vá lá MCB, recoste-se numa cadeira do mesmo Raffles junto à casuarina onde Somerset escreveu a dita, oiça o Jugend de Joseph Conrad, ou, para sonhar ainda mais, o In a Strange Land de Maugham.

Sunday, February 19, 2006


O Afilhado e o Delfim.

Todos sabemos do que a casa gasta no que ao Prof. Marcelo respeita. A atenção ocasional ao exercício televisivo de persuasiva verbosidade e frenesi manual do bom filho do Dr. Balthazar rende sempre, não pela substância mas pela forma e significado da linha biorritmica da intenção dos dizeres. Tem dias de despudor; hoje foi um deles. O silenciamento do “caso” do Ministro Trocado do Amaral, apesar da sugestão da lesma encaracolada que lhe serve de contraponto, foi gritante. Então o Prof. cala-se limitando-se à óbvia frecha ao diplomata persa e uma garrochada a Ribeiro e Castro? A burricada escandalosa das declarações do MNE não merece a atenção do comentador que preferiu investir nas dispensáveis obscenidades da vida interna do PSD? Vai-se percebendo porque é que o Prof. Trocado se sente à vontade…
E assim, de duas uma: ou Prof. Trocado ainda terá alguma utilidade num qualquer desígnio do laboratório sulfídrico do Prof. Marcelo, ou a questão é mais simples e reduz-se chãmente ao jogo troquilhas e cúmplice das ententes do mundo dos pareceres jurídicos e da FDL.
Ficamos cientes das escolhas de Marcelo.

Saturday, February 18, 2006


VIGNETTES DIPLOMATIQUES ET POTTERIENNES - X
A SEXA o MNE


VIGNETTES DIPLOMATIQUES ET POTTERIENNES - IX
Na Mesa do Secretário-Geral



VIGNETTES DIPLOMATIQUES ET POTTERIENNES - VIII
Concurso! Leitura Obrigatória


VIGNETTES DIPLOMATIQUES ET POTTERIENNES - VII
Instituto Diplomático. A Busca de Marques Guedes



VIGNETTES DIPLOMATIQUES ET POTTERIENNES - VI
Depois de Martins da Cruz


VIGNETTES DIPLOMATIQUES ET POTTERIENNES - V
Saudades de Ana Gomes

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