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Je Maintiendrai

"... Le refus de la politique militante, le privilège absolu concédé à la littérature, la liberté de l'allure, le style comme une éthique, la continuité d'une recherche". Pol Vandromme

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Friday, December 30, 2005



SALVE 2006! AQUI VOU EU!
Gastando as últimas luzes do que me resta do espírito com glosas às bombardadas de Port Royal, retiro-me do cenóbio e, já com o pé no estribo, preparo-me para celebração condigna do novo ano em terras de ortodoxia duvidosa mas onde os seus reis já ostentaram o título de Defensor Fidei! A todos os confrades da blogosfera de 2005 --- apostólicos romanos, hereges da seita de jansénio, pagãos adoradores do Sol, ateus empedernidos pela leitura de Darwin, infiéis seguidores de Mafoma e outros filhos do Livro propensos aos cabalismos e a bater com a cachimónia nas pedras restantes do templo de Salomão --- votos de um bom Ano!



Tales nos esse putamus, ut iure laudemur

"Nay, marvel not to see these scholars fight,
In brave disdain of certain scath and scar;
'Tis but the genuine, old, Hellenic spite,--
"When Greek meets Greek, then comes the tug of war!"

John G. Saxe, On a Recent Classic Controversy








COLE PORTER


Da minha gaveta. Para o club dos porterianos enragés em fim de ano musical.


A ÚLTIMA DOS PTOLOMEUS

"...Et Antonium quidem seras condiciones pacis temptantem ad mortem adegit viditque mortuum. Cleopatrae, quam servatam triumpho magno opere cupiebat, etiam Psyllos admovit, qui venenum ac virus exsugerent, quod perisse morsu aspidis putabatur. Ambobus communem sepulturae honorem tribuit ac tumulum ab ipsis incohatum perfici iussit".
C. Suetonii Tranquilli, De Vita XII Caesarum - Divus Augustus


No rescaldo da fabulosa questão da tez de Cleópatra VII, o meu modesto contributo para a memória da última dos Ptolomeus, que teimosamente continuarei a associar às cores divinais de Elizabeth Taylor. Para os fãs da vítima da áspide, vide aqui.

Tuesday, December 27, 2005


LIKE THE ROMAN

Uma prosa recente de Combustões e a clássica biografia de Enoch Powel (incenso e mirra que também a minha Tia Mary, uma simpática e nonagenária recordação das minhas ligações familiares à pérfida Albion, largou com animus natalitius no meu timberland de fim de semana) desviaram-me as meditações para paragens onde não esperava aventurar-me antes da auto infligida purga intelectual do termo do ano. Vamos ao argumento.
O problema das sociedades multiraciais “construídas” --- como as europeias --- é o facto de assentarem no inconfesso postulado de que as outras raças, que não as nativas do torrão germânico, anglo-saxão ou neo-latino, têm de sofrer um upgrading, de modo a sustentar a tese de que o emparelhamento é lícito e até desejável com vista posta no eldorado da chamada “interculturalidade”. Falácias como divinização das culturas africanas, a sublimização dos tesouros do Islão, ou a intangibilidade espiritual do Oriente são outras tantas manifestações dessa operação onde os destinatários gostosamente se embrulham, não sei se mais ou menos conscientes de quão tansos são eles como quem lhes dá as chitas, os espelhinhos e as contas de vidro. De há muito que conhecemos a outillage com a qual, da nossa banda, o espírito crítico e o conexo sentido do ridículo têm sido miseravelmente emasculados: dos subtis mecanismos intelectuais do relativismo ético e religioso, à fisga primitiva do “politicamente correcto” onde têm sede as folclóricas variações das “desculpas civilizacionais”, as omissões formais (v.g. a questão das raízes cristãs na defunta constituição europeia), o vocabulário ajustado (v.g. Merry Xmas vs. Happy Holidays) os pitorescos da africanização (de S. Agostinho aos faraós) ou semitização de nações inteiras (v.g. Portugal "cadinho de judeus e árabes"), que parece dar muito gosto às gerações presentes dos bem pensantes. Ridículo, simplesmente ridículo.
Ridículo se não fora trágico, isto é, quando esses produtos brancos da cultura de massas também são consumidos, influenciando, por aqueles a quem compete decidir em sede de governo e causa pública. A Europa tem hoje nas mãos e espera atónita a deflagração da granada social que produziu nos arsenais da má consciência dos anos 60 (desgraçada década!). A França, essa monumental sociedade de cabeleireiros, provou-o há bem pouco. Aliás, é de justiça a primazia, paradoxal também numa cultura que em Le Sanglot de l’Homme Blanc de Pascal Bruckner produziu uma das mais lúcidas análises de sempre sobre os ridículos do mito do terceiromundismo e da interculturalidade.
A Grã-Bretanha também teve o seu quinhão de presciência ainda nos anos 60, presciência de que foi paradigma a palavra de Enoch Powell, um dos últimos tribunos da política tory britânica, sobretudo no famoso discurso no Parlamento sobre a vexata quaestio da emigração “Like the Roman I seem to see the River Tiber foaming with much blood”. É, aliás, também a Powell que se deve a denúncia ainda hoje válida (cada vez mais válida) "...We are told in terms of arrogant moral superiority that we have got a 'multi-racial society' and had better like it".
Não me recordo que às praias do Tejo as águas tenham trazido qualquer pedaço que se visse duma discussão que para nós foi e é candente por constituir-se elemento essencial da estrutura intelectual da governance. E a verdade é que cá também não faria mal, mas a crassa da estupidez e do ridículo é tal que nem a chapões de água-raz será possível topar com um oríficio por onde, no invés do percurso de Minerva na testa de Júpiter, a sabedoria penetre e ilumine a mioleira dos nossos decisores...
A continuar.


THAT IS WHY I LOVE BRITAIN!

O tempo aqui está húmido, apesar do bonfire que enche a casa com o cheiro da época. O chá da manhã continua (e continuará) a ser servido escoltado pelos habituais sobreviventes das heróicas legiões dos doces da mesa natalícia, os cães, de fartos, ficam-se num olhar distante, e eu ainda não arranjei coragem para me atirar ao espólio com que a generosidade natalícia alheia me brindou. Isto posto, dá-me para a reflexão, e esta pende morbidamente para o balanço do ano que se esvai. Balanço que nada tem a ver com o rescaldo do tsunami, a economia global, a política europeia, o eveil da China ou quaisquer outros topoi que pela sua sublimidade enobrecem o espírito e suscitem a consideração das gentes. Nada, nada. O meu balanço é chão e comezinho; fica-se por tudo aquilo que nos diários e forçados contactos com o mundo dos homens constituiu ao longo dos idos de 2005 seca, maçada, vulgaridade, hediondez, e que uma intervenção divina (sempre ansiada e sempre adiada sabe-se lá que por insondável desígnio do Senhor das Batalhas) continua a poupar. E para acentuar esse inexplicada tolerância do Senhor para com a vulgaridade que assola o nosso torrão, eu continuo a elaborar inventários até ao momento estéreis. Contudo, dadas as nóveis responsabilidades bloguísticas, decidi partilhar o deste ano com os meus leitores. E já que uns happy few gostaram da oração do Paul Johnson, é da pena sublime deste hibérnio que saíu a moldura das desditas deste ano. Limitem-se a semear no texto os nomes do José Rodrigues dos Santos, do Malato, da Constança Cunha e Sá, da Maria Filomena Mónica, do Cardeal Patriarca, do Berardo, de toda a troupe de Benfica, do PM Sócrates mais o respectivo nariz e enxoval da Boss, do Gama Jaime, do Prof. Trocado, das manas Pinto Correia, do Jardim Gonçalves, do Pinto Balsemão, da Paula Rego (enquanto continuar a copiar o Balthus) da malta de Boliqueime, do Marques Mendes, do Abrunhosa, do malfadado Coelho Jorge, da família Soares, do hediondo Prado Coelho, do Maestro V. d’Almeida a fazer anúncios, do canarim F. Quadros, do alucinado Gago Mariano, da chinelácia Embx. Ana Gomes, do Loureiro Valentim, do Dr. Santana, do Saramago, da loira de Felgueiras, do Dr. Antunes dos livros, do odioso zarolho Ferreira Medeiros, e de mais tutti quanti que vão para o alforge genérico dos comentadores políticos, da geração da Av. de Roma, do "politicamente correcto", dos historiadores de "género" e das "mentalidades", da gente que faz férias na neve, da pseudo-elite do Porto, da “esquerda caviar” e da direita burguesa, de gente que de animais só conheceu as galinhas do berço e que agora tem enormes cães de raça que embostam os passeios, dos magistrados e advogados que usam camisola de lã debaixo da toga, dos meninos bancários que fumam charuto e usam gravatas de palhaço rico, da mania do golf, das universidades privadas e dos seus ersatz de académicos, de Fundações, dos genealogistas, dos neo-liberais, da “etnia cigana”, de 80% do corpo diplomático, de padres que tocam viola, dos deslumbrados das Américas, da fauna de Bruxelas, dos europeístas, dos que gostam de Mercedes e de lofts, de monárquicos sem doutrina, de doutrina sem cultura, de cultura sem bondade.
Posto isto, leiam o Paul Johnson. That is why I love Britain.

“Christmas is a time of goodwill and I must, as usual, suspend my dislikes for the season. What are they? The list lengthens every year. It now includes Scotch announcers on the BBC and radio reporters who use what I call Elementary School Sing-song when reading their (often ungrammatical) dispatches. All footballers and their managers (and mistresses) and football fans. Men who shave their heads; Welshmen (not Welshwomen, far from it); TV producers, and especially their assistants who ring me up and ask me to appear on their beastly programmes and call me ‘Paul’; all New Labour MPs and life peers and, a fortiori, Social Democrats — David Owen, who knew, rightly called them ‘Labour with syphilis’; gossip columnists, whatever paper they work for; newspaper photographers, who waste my time and then connive with picture editors to show close-ups of me looking blind, toothless and senile; writers of Gobble Columns — not cookery writers and especially not Tamasin Day-Lewis, who is not only a brilliant stylist but a cuisinière of extraordinary skill — you should taste her caramel orange ice cream! I dislike Yags and Chromos, Lugs, Voidies and Snagereens; pushy people who are always grabbing the headlines, like Nigella Lawson, the Archbishop of Canterbury (and the Bishop of Oxford), Michael Winner, Richard Branson and Philip Green; anyone connected with the Turner and Booker Prizes, and so dedicated to the destruction of art and literature; nearly all intellectuals, and especially anti-American ones, who curse the United States, all its inhabitants and everything it stands for in one breath while puffing their way across the Atlantic with the next to collect their royalties from the generous Joe Public. I dislike mullahs who enjoy our hospitality and tolerance and plan to slit our throats; Jacques Chirac and his latest puppy-dog camp-follower, poodle and yes-man, the Spanish Prime Minister; anti-Semites who pretend they are anti-Zionists and who really want to begin again where Hitler left off — and a great many other monsters, real and imaginary, Dongerites, Toileys, Loabs and Somerset Shingoes. I particularly dislike the Secretary of State for Culture and her horrible fountain in Kensington Gardens. Indeed, I dislike all ministers except Tony Blair and the Home Secretary.
Let me assure readers I am totally without prejudice. I do not prejudge. I have formed my dislikes on the basis of long experience. I tried explaining this once to James Baldwin, who complained to me that it was sheer race prejudice and homophobia which made people dislike him: ‘No, James, it is not prejudice, it is actual experience of how awful you are.’ He said, ‘What experience have you had of prejudice?’ I replied, ‘Listen, old sod, if, like me, you were born in England red-haired, left-handed and a Roman Catholic, there’s nothing you don’t know about prejudice.’ At this point he stumped off in a rage...”
Paul Johnson, A Christmas message to New Labour: give up preaching class hatred


REFLEXÕES MÍNIMAS NO CERRAR DO ANO


Yol bilen kervana katilmaz.

(He who knows the road does not join the caravan.)


RESCALDO DE ALGUMAS LEITURAS DA BLOGOSFERA. A PREPARAR 2006

"Mais je ne sçay comment il advient, et si advient sans doubte, qu'il se trouve autant de vanité et de foiblesse d'entendement, en ceux qui font profession d'avoir plus de suffisance, qui se meslent de vacations lettrées, et de charges qui despendent des livres, qu'en nulle autre sorte de gens: ou bien par ce que lon requiert et attend plus d'eux, et qu'on ne peut excuser en eux les fautes communes: ou bien que l'opinion du sçavoir leur donne plus de hardiesse de se produire, et de se descouvrir trop avant, par où ils se perdent, et se trahissent."

Montaigne, Essais 2.17


RESCALDO DE CONSOADA E A ENCERRAR 2005. MEDITAÇÃO SOBRE PRESENTES RATÉS.

"...Personally, I can't see where the difficulty in choosing suitable presents lies. No boy who had brought himself up properly could fail to appreciate one of those decorative bottles of liqueurs that are so reverently staged in Morel's window -- and it wouldn't in the least matter if one did get duplicates. And there would always be the supreme moment of dreadful uncertainty whether it was crême de menthe or Chartreuse -- like the expectant thrill on seeing your partner's hand turned up at bridge. People may say what they like about the decay of Christianity; the religious system that produced green Chartreuse can never really die."
Hector Hugh Munro, Reginald on Christmas Presents

Friday, December 23, 2005


MAIS NATAL! LOPE DE VEGA

¿Qué tengo yo que mi amistad procuras?
¿Qué interés se te sigue, Jesús mío,
que a mi puerta, cubierto de rocío,
pasas las noches del invierno escuras?

¡Oh, cuánto fueron mis entrañas duras
pues no te abrí! ¡Qué extraño desvarío
si de mi ingratitud el yelo frío
secó las llagas de tus plantas puras!

¡Cuántas veces el ángel me decía:
¡Alma, asómate agora a la ventana,
verás con cuánto amor llamar porfía!

¡Y cuántas, hermosura soberana:
Mañana le abriremos,
respondía, para lo mismo responder mañana!


É NATAL! MAIS GÔNGORA

AL NACIMIENTO DE CRISTO, NUESTRO SEÑOR

Pender de un leño, traspasado el pecho,

Y de espinas clavadas ambas sienes,
Dar tus mortales penas en rehenes
De nuestra gloria, bien fue heroico hecho;
Pero más fue nacer en tanto estrecho,

Donde, para mostrar en nuestros bienes
A donde bajas y de donde vienes,
No quiere un portalillo tener techo.

No fue esta más hazaña, oh gran Dios mío,

Del tiempo por haber la helada ofensa
Vencido en flaca edad con pecho fuerte
(Que más fue sudar sangre que haber frío),

Sino porque hay distancia más inmensa
De Dios a hombre, que de hombre a muerte.




NO NATAL, A UM ESTÓICO DEVENDO-LHE UM SALVE! DE ACOLHIMENTO


LA NOCHE CÍCLICA

Lo supieron los arduos alumnos de Pitágoras:

los astros y los hombres vuelven cíclicamente;
los átomos fatales repetirán la urgente
Afrodita de oro, los tebanos, las ágoras.
En edades futuras oprimirá el centauro

con el casco solípedo el pecho del lapita;
cuando Roma sea polvo, gemirá en la infinita
noche de su palacio fétido el minotauro.

Volverá toda noche de insomnio: minuciosa.

La mano que esto escribe renacerá del mismo vientre.
Férreos ejércitos construirán el abismo.
(David Hume de Edimburgo dijo la misma cosa).

No sé si volveremos en un ciclo segundo
como vuelven las cifras de una fracción periódica;
pero sé que una oscura rotación pitagórica
noche a noche me deja en un lugar del mundo

que es de los arrabales. Una esquina remota
que puede ser del Norte, del Sur o del Oeste,
pero que tiene siempre una tapia celeste,
una higuera sombría y una vereda rota.

Ahí está Buenos Aires. El tiempo que a los hombres
trae el amor o el oro, a mí apenas me deja
esta rosa apagada, esta vana madeja
de calles que repiten los pretéritos nombres

de mi sangre: Laprida, Cabrera, Soler, Suárez...

Nombres en que retumban (ya secretas) las dianas,
las repúblicas, los caballos y las mañanas,
las felices victorias, las muertes militares.

Las plazas agravadas por la noche sin dueño
son los patios profundos de un árido palacio
y las calles unánimes que engendran el espacio
son corredores de vago miedo y de sueño.

Vuelve la noche cóncava que descifró Anaxágoras;

vuelve a mi carne humana la eternidad constante
y el recuerdo ¿el proyecto? de un poema incesante:
«Lo supieron los arduos alumnos de Pitágoras…»

Jorge Luís Borges, 1940



LEITURAS DE VÉSPERAS DE NATAL IV

BORGES SOBRE CAMÕES













A LUIS DE CAMÕENS


Sin lástima y sin ira el tiempo mella

las heroicas espadas. Pobre y triste
a tu patria nostálgica volviste,
oh capitán, para morir en ella

y con ella. En el mágico desierto

la flor de Portugal se había perdido
y el áspero español, antes vencido,
amenazaba su costado abierto.

Quiero saber si aquende la ribera

última comprendiste humildemente
que todo lo perdido, el Occidente

y el Oriente, el acero y la bandera,
perduraría (ajeno a toda humana
mutación) en tu Eneida lusitana



LEITURAS DE VÉSPERAS DE NATAL III

LUÍS DE CAMÕES












Os Cavaleiros tende em muita estima,
Pois com seu sangue intrépido e fervente
Estendem não sòmente a Lei de cima,
Mas inda vosso Império preminente.
Pois aqueles que a tão remoto clima
Vos vão servir, com passo diligente,
Dous inimigos vencem: uns, os vivos,
E (o que é mais) os trabalhos excessivos.

Fazei, Senhor, que nunca os admirados
Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses,
Possam dizer que são pera mandados,
Mais que pera mandar, os Portugueses.
Tomai conselho só d’exprimentados
Que viram largos anos, largos meses,
Que, posto que em cientes muito cabe.
Mais em particular o experto sabe.

De Formião, filósofo elegante,
Vereis como Anibal escarnecia,
Quando das artes bélicas, diante
Dele, com larga voz tratava e lia.
A disciplina militar prestante
Não se aprende, Senhor, na fantasia,
Sonhando, imaginando ou estudando,
Senão vendo, tratando e pelejando.

Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo,
De vós não conhecido nem sonhado?
Da boca dos pequenos sei, contudo,
Que o louvor sai às vezes acabado.
Tem me falta na vida honesto estudo,
Com longa experiência misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se acham raramente.

Pera servir-vos, braço às armas feito,
Pera cantar-vos, mente às Musas dada;
Só me falece ser a vós aceito,
De quem virtude deve ser prezada.
Se me isto o Céu concede, e o vosso peito
Dina empresa tomar de ser cantada,
Como a presaga mente vaticina
Olhando a vossa inclinação divina,

Ou fazendo que, mais que a de Medusa,
A vista vossa tema o monte Atlante,
Ou rompendo nos campos de Ampelusa
Os muros de Marrocos e Trudante,
A minha já estimada e leda Musa
Fico que em todo o mundo de vós cante,
De sorte que Alexandro em vós se veja,
Sem à dita de Aquiles ter enveja.



LEITURAS DE VÉSPERAS DE NATAL II

BORGES SOBRE GONGORA






Marte, la guerra. Febo, el sol. Neptuno,
el mar que ya no pueden ver mis ojos
porque lo borra el dios. Tales despojos
han desterrado a Dios, que es Tres y es Uno,
de mi despierto corazón. El hado
me impone esta curiosa idolatría.
Cercado estoy por la mitología.

Nada puedo. Virgilio me ha hechizado.
Virgilio y el latín. Hice que cada
estrofa fuera un arduo laberinto
de entretejidas voces, un recinto
vedado al vulgo, que es apenas, nada.
Veo en el tiempo que huye una saeta
rígida y un cristal en la corriente
y perlas en la lágrima doliente.

Tal es mi extraño oficio de poeta.
¿Qué me importan las befas o el renombre?
Troqué en oro el cabello, que está vivo.
¿Quién me dirá si en el secreto archivo
de Dios están las letras de mi nombre?
Quiero volver a las comunes cosas:

el agua, el pan, un cántaro, unas rosas…





LEITURAS DE VÉSPERAS DE NATAL I

LUÍS DE GONGORA














Ilustre y hermosísima María,
mientras se dejan ver a cualquier hora
en tus mejillas la rosada aurora,
Febo en tus ojos, y en tu frente el día,
y mientras con gentil descortesía

mueve el viento la hebra voladora
que la Arabia en sus venas atesora
y el rico Tajo en sus arenas cría;
antes que de la edad Febo eclipsado,

y el claro día vuelto en noche oscura,
huya la aurora del mortal nublado;
antes que lo que hoy es rubio tesoro

venza a la blanca nieve su blancura,
goza, goza el color, la luz, el oro.

Thursday, December 22, 2005








FARE COSE TURCHE

Para os iniciados na gíria da língua de Petrarca, a frase tem o seu sentido...

Já lá vai o tempo do bloqueio do Império Otomano, os basileus Paleólogos não voltarão e a Turquia encerra tesouros que não cabe ignorar. Tarkan é um deles. Quantos notaram a sua passagem por Lisboa? E está nas excepções à prece do P. Johnson...


DA MINHA GAVETA. KANT

"Durante diez años he vivido dentro del pensamiento kantiano: lo he respirado como una atmósfera y ha sido a la vez mi casa y mi prisón...".
Pé ante pé, para não perturbar o remanso musicado do
Jansenista, aqui lhe deixo junto ao recanto da bronzea oratória, o registo destas palavras em páginas de Ortega y Gasset. Se as não tem e não conhece já, perca algum tempo para saborear o que o Mestre, sob o título de "Reflexiones de Centenario" lançou nos números de Abril Maio de 1924 da Revista de Occidente. Soberbas e cristalinas páginas, dignas de ser lidas ao som de Rodrigo dedilhado por Yepes...

Wednesday, December 21, 2005






DA IMPERTINÊNCIA DA PERTINÊNCIA

O tom algo desencantado do último post do nosso jansénico Cardeal de Noailles (para nos mantermos cada um à beira do Rei Sol, o La Chaise de um lado e o Noailles do outro) faz-me pensar que o recente pelourinho de Combustões, é, de facto, qual caveira do asceta, um motivo de meditação sisuda. Está em tela de juízo a questão magna da pertinência, e uma situação prática de impertinência livremente declarada.
Saíu a terreiro o primeiro campeão. A periodificação etária das pertinências esboçada pelo nosso kantiano amigo é sedutora e muito verdadeira; subscrevo-a gostosamente bem como às notas marginais sobre os lémures que também são os do meu tempo...
Conceda-me, porém, a precisão conceptual: a "pertinência" pressupõe a adesão a estruturas formalmente norteadas por princípios ou afeições; a estrutura assume assim um rôle intermédio ou mediador (propiciado por uma série complexa de razões que o colega Jansenista bem inventaria como "receio de exclusão" ou "necessidade de apoio nos grandes batalhões") ou de referência negativa, também indispensável para aqueles que optam pela que chamaria de não-pertinência referenciada.
Neste pé, permito-me agora ir um pouco mais longe sugerindo a existência de outras vias. Ou seja, a adesão a princípios ou a afeições ("sentimentos certos") não tem necessariamente que ser mediada, ou sublinhada pela afirmação da não pertinência. A independência, o distanciamento, o não-alinhamento, o estoicismo et al. --- quando genuinamente pensados e vividos --- não significam mais que a dispensa das pertinências e o contacto directo, não mediado, com a dimensão dos referenciais e das essências. Felizes o que o conseguem cedo, dispensando a paragem em todas ou nalgumas estações da pertinência, incluindo aquela que o colega jansénico (quanto a mim diminuindo a força do seu raciocínio) define como "maturidade intermédia".
Falamos de coisas diversas: o repúdio da pertinência, mais exactamente a constatação da ociosidade da necessitas mediationis, não creio seja um estágio intermédio, mas uma posição estática alcançada em graus diversos da régua da vida. Felizes, repito, os que a encontram no 1º centímetro da dita. Quanto aos outros, os que segundo um processo absolutamente natural alcançam a consciência daquela necessidade em período mais avançado, padecerão sempre da emulação dos que sentem a fraqueza inerente à dependência das mediações aconchegantes para ter princípios ou referenciais, e essa maturidade (final) que implica uma atitude existencial de despojamento de formas, será sempre mal interpretada, como implicando uma variação das essências ou um renegar dos princípos. "O facto de se ter deixado de pertencer não significa renegar coisa alguma", declara e bem o estóico/kantiano/Noailles, com mais facilidade que eu, que já não consigo chegar a lado nenhum sem o bordão singelo dos tomistas.
Das lages do seu pelourinho o MCB poderá lobrigar este equívoco lavrando entre os que o verberam. Já lhes respondeu sobejamente com a sua coerência intrínseca e com uma ou outra frase suficiente; "não quero viver como um velho de oitenta anos", creio que escreveu. Tem consciência que atingiu a maturidade, encontrando-se sem mediadores com os seus princípios?













RES NON VERBA

...E para que me não me arremessem um irritado res non verba, aqui vai um punhado de sugestões cecilianas...



EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS
“….Infatti, come il passeggiare, il camminare e il correre sono esercizi corporali, così si chiamano esercizi spirituali i diversi modi di preparare e disporre l'anima a liberarsi da tutte le affezioni disordinate…”
S.I.L

Para não ficarem a pensar que fui presa de qualquer arroubo fescinino ao meditar sobre a anterior e nobre tela de Rubens, dou-vos conta de outra das minhas mais recentes e sérias meditações. De facto, no remanso do meu claustro e sem me poder mexer porque tenho o focinho do meu dormente cão em cima do meu já dormente pé, assumo que para os que comungam de uma determinada formação, são sobejamente conhecidas, em termos de eficácia formativa, as virtualidades dos Exercícios Espirituais. Comungando da natureza da meditação, do diálogo interior e colectivo, cristalizam as vantagens das múltiplas formas da oração. A lógica sucessão de verdades ilustradas, um coeficiente elevado de plasticidade conjugado com o poderoso interesse subjectivo do meu bem ou da minha felicidade, levam a que os Exercícios se tenham tornado, como sabem, um meio poderoso de elevação moral e espiritual.
Ora, muitas vezes me interroguei se as tais verdades ilustradas pelo verbo poderiam de alguma forma ser substituídas na economia da disciplina dos Exercícios, pelas "verdades musicadas", id est expressões musicais daquelas que mais acerbamente nos suscitem a ideia do sopro divino no acto da sua criação. O acto meramente deleitoso de ouvir música, constituir-se-ia para o crente um adjutório eficaz de elevação (já todos sabemos que opera) mas potenciado pela disciplina formal do exercício, onde o orientador dosearia sabiamente as tais verdades musicadas. Confesso que nunca troquei impressões sobre a questão com inaciano prático nos mistérios da ascese (ainda os há por cá?), ficando assim por demonstrar a praticabilidade da substituição. Avanço para quem se arroje a tal arroubo a sugestão laboratorial da música do Barroco, música não obrigatoriamente religiosa, cujo cânone, como é próprio do Barroco, é essencialmente dirigista. Não me recordo se disso tratou o saudoso José António Maravall na sua La Cultura do Barroco, mas ninguém mo tira da cabeça.



MEDITAÇÃO POÉTICA SOBRE UMA TELA DE RUBENS


HIMNO A LA CELULITIS

Deja la carne dura
para el recio colmillo de las fieras
y cata la blandura de las asentaderas que tiemblan como líquidas esferas.
Ignora las mudanzas
del gusto popular y rastacuero.Sigue las enseñanzas de Rubens y Botero
en materia de busto y de trasero.
Si el vulgar desatino
del firme glúteo idolatrar te abruma,
recuerda que previnola hija de la espuma
a batallas de amor nalgas de pluma.
¡Oh encanto de la gorda
pierna con robustez elefantina
que en grasa se desborda!
¡Oh majestad divina del muslo rebozado en gelatina!
¡Oh esponjas del deseo,
colchón para los huesos de la amada,
de los ojos recreo,
de los dedos almohada,
cremosa invitación a la nalgada!
Mueran las saltarinas
esclavas del aerobics y las dietas,
Jane Fonda y sus cretinas,
desnalgadas atletas
sin gracia, sin sabor, sin sal, sin tetas.
Vivan las perezosas
sacerdotisas del esfuerzo nulo
que dejan las odiosas
fatigas para el mulo
y son felices sin mover el culo!


(Infelizmente anotado em registo anónimo…)

Tuesday, December 20, 2005

ULTRA PETITUM

...E pronto! É a glória! Apresentado pelo Jansenista e recomendado por Combustões, que mais se quer para um neófito da blogosfera? Stare decisis...





TRÊS LEITURAS DE NATAL


O tempo é de resistir. E também de resistir à tentação de nos lançarmos como gato a bofe sobre todas as maravilhas livrescas que, como as famosas pedrinhas da De Beers, cintilam nos catálogos, nas revistas e nos escaparates de terra alheia. Leiamos em português, até porque, para variar das patetices da clique das meninas publicistas e dos canastrões como o Dr. Antunes, muitas vezes o ego nacional não sai mal do empenho. Posto isto, três confessas preferências convenientemente palatadas.
Seja a primeira, Império à deriva. A Corte Portuguesa no Rio de Janeiro, de Patrick Wilcken. A crer na imbecilidade do texto da carta anunciadora do lançamento desta obra, texto esse autorizado pela Ed. Civilização e pela Academia Portuguesa da História, pouca vontade haveria de manusear mais dissertações alienígenas sobre o nosso passado, na dita carta apodado de "piolhoso". Todavia, feliz supresa: o australiano Wilcken saíu-se bem; bem nas fontes manuseadas, bem nos juízos expendidos, bem na moderação, bem no ritmo das linhas, bem na economia do texto. Não estamos perante uma summa como o clássico Oliveira Lima (que aqui tenho à beira em dois volumes noutra belíssima encadernação, esta do desaparecido Almeida, da R. António Maria Cardoso), mas diante de uma obra de lavra desprentenciosa e sensata sobre um dos tão pitorescos como dramáticos episódios da história lusa, interessante ademais por pincelar com agradáveis cores a figura d'El-Rei D. João VI, mais amado fora do que aqui.
Isto dito, traga-se a juízo a segunda sugestão.
Perante as desvairadas e hodiernas andanças da historiografia nacional, oscilante entre as cómodas "fotobiografias", as bastardias metodológicas dos Analles e os excursos em forma de excusas abertas e envergonhadas ao outro (o "outro" no meu tempo era outra coisa...), há que atentar na obra de A. Vasconcelos de Saldanha, compreensivelmente evitada pela historiografia politicamente correcta por aposição da chapola da leprosaria "nacionalista". Há tempos Miguel Castelo Branco saíu à liça a defendê-lo nas Combustões; fez bem e foi oportuno. Na senda da monumental monografia historico-jurídica Iustum Imperium. Dos Tratados como Fundamento do Império dos Portugueses no Oriente (que oiço será reeditada em breve; ouvem também Instituto Diplomático e Prof. Trocado?) saíu há tempos a obra barrocamente titulada De Kangxi para o Papa pela via de Portugal. Memória e Documentos relativos à intervenção de Portugal e da Companhia de Jesus na questão dos Ritos Chineses e nas relações entre o Imperador Kangxi e a Santa Sé. Como o autor já se não lembra deste seu amigo e admirador, comprei-o na Feira do Livro, na providencial barraquinha da "Livros do Oriente" e guardei-o, com duas meias garrafas de Sauternes com que fui presenteado na altura (não pela editora mas por gaulês amigo da Calçada do Marquês d'Abrantes) para o remanso do Natal. Tardei (que a obra é grande, 1+2 vols de aparato documental) mas arrecadei.
Resultado do que parece uma vastíssima e scholarly operação de arrasto, sobretudo no Archivio Segreto Vaticano e no Archivum Romanum Societas Iesu (espero meu caro António que também tenha aproveitado para umas férias romanas), as 450 páginas da memória (1º vol.) lêem-se num ápice sustentado. Monumental trabalho de história diplomática, saltamos numa sucessão movimentada de cenários de Pequim, para Roma ou para Lisboa, por dentre causes célèbres de Setecentos --- o Padroado Régio, a Questão dos Ritos, a acção da Companhia de Jesus, a rivalidade inaciana-jansenista (ojo Jansenista!), a diplomacia joanina na China e em Roma, nomeadamente a embaixada do Marquês de Fontes e a expedição marítima anti-otomana --- e uma interessante e exótica digressão pelas intrigas e escaninhos da corte celestial do sínico Imperador Kangxi, o protector indefectível dos Jesuítas portugueses. Mais uma obra a acariciar-nos o ego fazendo-nos recordar que já fomos grandes...
E que por último não perca nesta mesa armada da consoada literária, registe-se o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, editado pela Principia, sob a chancela do Conselho Pontifício “Justiça e Paz”. Debaixo da umbela abrangente da ideia de “Um Humanismo Integral e Solidário”, o leitor interessado verá desenrolar-se em harmoniosa sucessão capítulos onde se alinham os ensinamentos luminosos de sete Pontífices romanos de gloriosa memória; ensinamentos em matéria da lei natural inscrita na consciência do ser: o Desígnio Divino e a Humanidade, a Doutrina Social, a Pessoa, a Família, o Trabalho, a Vida Económica, a Comunidade Política, a Comunidade Internacional, o Ambiente, a Paz, a acção pastoral. Bem oportuna edição nos tempos correntes. Como escreve o Cardeal Martino, na Apresentação, “a Igreja, perita em humanidade, numa espera confiante e ao mesmo tempo operosa, continua a olhar para os «céus novos» e para a «nova terra» e a indicá-los a cada homem, para ajudá-lo a a viver a sua vida na dimensão do sentido autêntico. Gloria Dei vivens homo: o homem que vive em plenitude a sua dignidade dá glória a Deus, que lha conferiu”.
Cuidadosamente concebida e ordenada para ser fruida não somente ad intra, entre os Católicos, mas também ad extra, isto é, para aqueles que o não sendo, serão porventura homens de boa vontade de outros credos, é salutar a leitura ou a mera consulta deste compêndio. Quanto mais não seja por nos lançar um quo vadis, em tempo oportuno quando por tantas e desvairadas páginas buscamos as essências.



E o 5º. Já fico contente...

Autore: M. SEUTTEREpoca: 1745Tecnica: incisione in rameMisure: 58x50,5



E o 4º - Iedo!

Autore: P. VAN DER AAEpoca:1707Tecnica:Incisione su acciaioMisure:78X29



E o 3º


Autore: G. CASSINI Epoca: 1790Tecnica: Incisione in rameMisure: 48x35



E o 2º

Autore: G. CASSINI Epoca: 1790Tecnica: Incisione in rameMisure: 48x35


MAIS PRESENTES

Autore: M. SEUTTEREpoca: 1740Tecnica: Incisione in rameMisure: 27x20,7

.... E já que tutti quanti se afobam em pedinchar presentes, hoje correntemente chamados de prendas, i.e. relógios, livros, musiquetas e adereços burgueses, rogo ao honrado velho da Lapónia que se não esqueça dos pobrezinhos e que inflicta o rumo da rena por sobre o antigo ducado dos Visconti, desça sobre a casa Pettinaroli e que me pilhe o suficiente para deixar esta criança feliz. Não me alargo e para evitar as confusões próprias da idade que a barba sugere, aqui vai o 1º da lista.

Monday, December 19, 2005


LUÍS XVI

Associando-me ao pesar de Combustões pelo magnicídio de Luís XVI, sugiro àqueles dos legitimistas que estiverem em Paris na data do aniversário (21 de Janeiro) que sacrifiquem umas horas ao tour das livrarias, ou os mais vulgares grand magazins e passem pela igreja memorial, perto do boulevard Haussman, onde decorre a tradicional cerimónia. É de aproveitar para rezar uma Avé Maria pela alma do Príncipe de Talleyrand (o despudorado regicida que durante o Congresso de Viena, em 1815, promoveu as grandiosas exéquias celebradas) já que não poucas vezes o admiramos sem reservas de maior.

Sunday, December 18, 2005


EX ORIENTE LUX

De facto. De facto, saído das sombras da discrição das cartuxas, não das trevas, e ainda com a veste cândida dos neófitos, olho maravilhado para os ritmos da bloguística. O res mirabillis! Obrigado Jansenista por me dar a honra de ser o meu apresentador e o meu Virgilío neste círculo que não é infernal:
Facesti come quei che va di notte,
che porta il lume dietro e sé non giova,
ma dopo sé fa le persone dotte...

Todavia, o caro Jansenista não acertou uma, do que não lhe vem mácula. De minimis non curat praetor. Mas é o risco da armadilha das associações. Je mantiendrai aponta, não aos Orange-Nassau (hoje Lippe-Biesterfeld), mas à postura que me esforço de conservar perante o desvario dos tempos. Au plaisir de Dieu, já muito antes do d’Ormesson ter aprendido a ler, condensava um princípio basilar que se bebia no 1º catecismo. Finalmente, a vera efígie ignaciana considere-a uma homenagem aos mestres que me formaram a mente e da qual (da efígie) não vem mal ao mundo. Quanto a detectar Batávio no horizonte, claudicou no apontar do falconete: sou dos que comungo com o P. António Vieira do juízo de que tudo aquilo lá de cima não passa de “um inferno alagado”, confinando as preferências geográficas europeias àquelas terras para cá do limes outrora marcado pelas águias de Roma.
Registo a cautela teológica do Jansenista que, a crer no seu texto inaugural nos idos de 2004, não contava eu fosse um tão sério discípulo de Jansenius, ficando-se pelo pietismo (e pelo cromo colorido) de Kant e pelas formas da sobriedade jansenista. Contudo, apesar de (padecendo de ligeireza) poder pensar que o Jansenista tem mão leve a apodar os outros de obscurantistas, prometo-lhe que não lhe rogarei pela conversão, aliás anunciada in fieri pela Misa Criolla. À propos espero que a sua versão seja a esplendorosa do Quarteto de los Andes, com Zamba Quipildor como solista). Quanto ao modernismo da Patricia Barber, para esse peditório já eu dei quando era mais novo. Fico-me e finco-me no P. Johnson, com a sugestão de ajuste musical do Eurico de Barros e o esclarecimento de que apensei à prece uma “lista de Shindler” onde salvaguardei o Robby Williams. E agora vou curar os restos da gripe que certamente apanhei depois de passar por tantas varandas, lagos e sítios ventosos que o Jansenista postou em sucessão só comparável às brochuras do RCI, da P&O ou da Wagon Lits.

Saturday, December 17, 2005


A NOSSA VELHA GOA


A atenção devida e equanimemente partilhada entre os meus cães, os meus livros e dois ou três mapas cuja vetetusta papelaça os faz carentes de atenção, privaram-me da possibilidade de confirmar as mais sinistras previsões de MCB nas Combustões sobre as alusões comemorativas em mais um aniversário decorrido sobre a invasão do Estado Português da Índia pela União Indiana. Espero que não. Ou que sim, porque tal esquecimento constituiria uma pungente dúvida sobre a coerência no desatino da consciência nacional, que considero programático e infalível.
O choroso romance goês continua, mas hoje confinado às gavetas das Necessidades, nos nédios processos das inépcias consulares lusas, nos desmandos majestáticos das Fundações lá deixadas à redea solta, no oportunismo de freedom fighters reconvertidos à esperteza de sugar a teta das bolsas, dos apoios, et al. que a tradicional palermice correctamente pensante por cá prodigaliza com medo de parecer mal...
Entretanto, a memória do que interessa pelas águas cálidas do Mandovi se dilui... Ó jus-historiadores e jus-internacionalistas e mais peritos (tantos, ó céus!) das Relações Internacionais! Para quando um estudo completo e objectivo sobre o que foi a nobre campanha travada em Haia, no Tribunal Internacional de Justiça sobre os nossos direitos na Índia? Para quando a justiça feita a Galvão Telles, Silva Cunha e ao quase esquecido Alexandre Lobato que, sozinhos, arcaram com as responsabilidades da batalha? Porque de resto, já sabemos tudo da bondade, da ternura e das lágrimas de Vassalo e Silva ou da habilidade do último Patriarca das Índias, tanto quanto da dignidade das forças que se quiseram bater e o que fizeram e tantas outras a quem esse direito sonegaram. Dizem-me que jovem doutora granjeou o grau escorada em imponente tese sobre a queda do nosso Estado da Índia. Xeque-mate em Goa é o título. A ver o que dali sai. A imagem xadrezística promete.
Entretanto, não sei se alguém notou, passaram este ano os 400 sobre a fundação do Estado da Índia por D. Francisco de Almeida. Não notaram, já calculo. E é pena porque entre tanta comemoração que não vale a casca acarvalhada de um melão de Almeirim, ninguém se lembrou de picar uma dessas fundações da av. de Berna ou do Salitre e levá-las a fazer ao menos o que qualquer nação de marchantes anafados, como a Holanda, fez com as estrondosas comemorações da sua malfadada VOC. Perdão, parece que houve alguém, mas lá das bandas das Necessidades disseram que era melhor estar quieto para não ofender os Indianos...

Friday, December 16, 2005

PÉROLAS

Uma fieira de pérolas para a toilette da manhã ou para o tónico do fim de tarde; ou como se lo quiera...




PÓRTICO

Perguntado um dia porque razão não voltava a França, pacificada que era dos excessos da Revolução, o Príncipe de Ligne (esse attardé do espírito do Grand Siècle cujas memórias a Mercure de France em boa hora reeditou) terá replicado: “L’honneur, l’horreur et l’humeur”.
Assim estava eu no respeitante à participação activa na blogosfera, quedando-me no quietismo do meu cadeirão e do meu claustro, saboreando passiva e ocasionalmente os frutos que ela nos depõe no regaço. As ideias expendidas, as formas literárias ou as subtilezas manifestas do sentido de oportunidade da intervenção, que tanto revelam sobre a ideossincrasia dos interventores em blogues próprios ou alheios, eram sobejas --- aceite um critério estrito de selecção dos mesmos --- para compensar o tempo roubado às formas tradicionais de preechimento dos ócios e investido na net. Se Somerset Maugham usasse de igual cadeirão que emparelha solitário com o meu (o que sinceramente lamento não possa já fazer) estou certo que usaria do mesmo recurso para imaginar novas e pitorescas personagens duma nova série de “short stories”.
Eis-me rendido e candidato à observação alheia. Eva quando provou da maçã edénica também percebeu que estava nua... A tentação da participação bloguística terá desses inconvenientes, aceito. Contudo, o aparente desalento do Miguel Castelo Branco nas suas Combustões e a ameaça do seu silêncio --- terrível, vinda de um dos meus preferidos --- despertou-me para a possibilidade triste de ver transposto para a bloguística, o sentimento acre de frustração que se tem quando, inopinadamente, acabou o stock do Madeira preferido: “Que maçada! Já não há... Que falta me faz!” Não aspiro a fazer falta, mas realmente talvez haja mais virtù na assunção total da bloguística, pela participação que está já para lá do voyeurismo, admito, egoísta. Contem com mais um no café.
E já que estamos naquele tempo indistintamente apodado pela gente dos media e pelos lojistas de “quadra natalícia”, trago à colação o incontornável Paul Johnson, que, num delicioso texto publicado no The Spectator do último dia 3 --- “Things to pray for in this season of Advent” --- recordava que Deus responde às preces “if they are earnest, worthy and just”. As dele são as dele, mas a juntar às minhas que guardo para a intimidade do meu oratório, não posso deixar de pedir que se associem com as adaptações devidas ao torrão pátrio, à prece do articulista:
“I pray for the return of England to the Holy Mother Church, for the end of pop music and TV, for the destruction of Modern Art, Picassoism and all that rubbish, the demolition of Tate Modern (though I’m not sure that is lawful), the collapse of militant Islam, the freeing of China, North Korea and Cuba and the rescue of England from vulgarity and the European Union. I am patient…”.


Boas Festas!

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