Je Maintiendrai
"... Le refus de la politique militante, le privilège absolu concédé à la littérature, la liberté de l'allure, le style comme une éthique, la continuité d'une recherche". Pol Vandromme
Friday, December 30, 2005
"...Et Antonium quidem seras condiciones pacis temptantem ad mortem adegit viditque mortuum. Cleopatrae, quam servatam triumpho magno opere cupiebat, etiam Psyllos admovit, qui venenum ac virus exsugerent, quod perisse morsu aspidis putabatur. Ambobus communem sepulturae honorem tribuit ac tumulum ab ipsis incohatum perfici iussit".
Tuesday, December 27, 2005
LIKE THE ROMAN
Ridículo se não fora trágico, isto é, quando esses produtos brancos da cultura de massas também são consumidos, influenciando, por aqueles a quem compete decidir em sede de governo e causa pública. A Europa tem hoje nas mãos e espera atónita a deflagração da granada social que produziu nos arsenais da má consciência dos anos 60 (desgraçada década!). A França, essa monumental sociedade de cabeleireiros, provou-o há bem pouco. Aliás, é de justiça a primazia, paradoxal também numa cultura que em Le Sanglot de l’Homme Blanc de Pascal Bruckner produziu uma das mais lúcidas análises de sempre sobre os ridículos do mito do terceiromundismo e da interculturalidade.
O tempo aqui está húmido, apesar do bonfire que enche a casa com o cheiro da época. O chá da manhã continua (e continuará) a ser servido escoltado pelos habituais sobreviventes das heróicas legiões dos doces da mesa natalícia, os cães, de fartos, ficam-se num olhar distante, e eu ainda não arranjei coragem para me atirar ao espólio com que a generosidade natalícia alheia me brindou. Isto posto, dá-me para a reflexão, e esta pende morbidamente para o balanço do ano que se esvai. Balanço que nada tem a ver com o rescaldo do tsunami, a economia global, a política europeia, o eveil da China ou quaisquer outros topoi que pela sua sublimidade enobrecem o espírito e suscitem a consideração das gentes. Nada, nada. O meu balanço é chão e comezinho; fica-se por tudo aquilo que nos diários e forçados contactos com o mundo dos homens constituiu ao longo dos idos de 2005 seca, maçada, vulgaridade, hediondez, e que uma intervenção divina (sempre ansiada e sempre adiada sabe-se lá que por insondável desígnio do Senhor das Batalhas) continua a poupar. E para acentuar esse inexplicada tolerância do Senhor para com a vulgaridade que assola o nosso torrão, eu continuo a elaborar inventários até ao momento estéreis. Contudo, dadas as nóveis responsabilidades bloguísticas, decidi partilhar o deste ano com os meus leitores. E já que uns happy few gostaram da oração do Paul Johnson, é da pena sublime deste hibérnio que saíu a moldura das desditas deste ano. Limitem-se a semear no texto os nomes do José Rodrigues dos Santos, do Malato, da Constança Cunha e Sá, da Maria Filomena Mónica, do Cardeal Patriarca, do Berardo, de toda a troupe de Benfica, do PM Sócrates mais o respectivo nariz e enxoval da Boss, do Gama Jaime, do Prof. Trocado, das manas Pinto Correia, do Jardim Gonçalves, do Pinto Balsemão, da Paula Rego (enquanto continuar a copiar o Balthus) da malta de Boliqueime, do Marques Mendes, do Abrunhosa, do malfadado Coelho Jorge, da família Soares, do hediondo Prado Coelho, do Maestro V. d’Almeida a fazer anúncios, do canarim F. Quadros, do alucinado Gago Mariano, da chinelácia Embx. Ana Gomes, do Loureiro Valentim, do Dr. Santana, do Saramago, da loira de Felgueiras, do Dr. Antunes dos livros, do odioso zarolho Ferreira Medeiros, e de mais tutti quanti que vão para o alforge genérico dos comentadores políticos, da geração da Av. de Roma, do "politicamente correcto", dos historiadores de "género" e das "mentalidades", da gente que faz férias na neve, da pseudo-elite do Porto, da “esquerda caviar” e da direita burguesa, de gente que de animais só conheceu as galinhas do berço e que agora tem enormes cães de raça que embostam os passeios, dos magistrados e advogados que usam camisola de lã debaixo da toga, dos meninos bancários que fumam charuto e usam gravatas de palhaço rico, da mania do golf, das universidades privadas e dos seus ersatz de académicos, de Fundações, dos genealogistas, dos neo-liberais, da “etnia cigana”, de 80% do corpo diplomático, de padres que tocam viola, dos deslumbrados das Américas, da fauna de Bruxelas, dos europeístas, dos que gostam de Mercedes e de lofts, de monárquicos sem doutrina, de doutrina sem cultura, de cultura sem bondade.
Posto isto, leiam o Paul Johnson. That is why I love Britain.
“Christmas is a time of goodwill and I must, as usual, suspend my dislikes for the season. What are they? The list lengthens every year. It now includes Scotch announcers on the BBC and radio reporters who use what I call Elementary School Sing-song when reading their (often ungrammatical) dispatches. All footballers and their managers (and mistresses) and football fans. Men who shave their heads; Welshmen (not Welshwomen, far from it); TV producers, and especially their assistants who ring me up and ask me to appear on their beastly programmes and call me ‘Paul’; all New Labour MPs and life peers and, a fortiori, Social Democrats — David Owen, who knew, rightly called them ‘Labour with syphilis’; gossip columnists, whatever paper they work for; newspaper photographers, who waste my time and then connive with picture editors to show close-ups of me looking blind, toothless and senile; writers of Gobble Columns — not cookery writers and especially not Tamasin Day-Lewis, who is not only a brilliant stylist but a cuisinière of extraordinary skill — you should taste her caramel orange ice cream! I dislike Yags and Chromos, Lugs, Voidies and Snagereens; pushy people who are always grabbing the headlines, like Nigella Lawson, the Archbishop of Canterbury (and the Bishop of Oxford), Michael Winner, Richard Branson and Philip Green; anyone connected with the Turner and Booker Prizes, and so dedicated to the destruction of art and literature; nearly all intellectuals, and especially anti-American ones, who curse the United States, all its inhabitants and everything it stands for in one breath while puffing their way across the Atlantic with the next to collect their royalties from the generous Joe Public. I dislike mullahs who enjoy our hospitality and tolerance and plan to slit our throats; Jacques Chirac and his latest puppy-dog camp-follower, poodle and yes-man, the Spanish Prime Minister; anti-Semites who pretend they are anti-Zionists and who really want to begin again where Hitler left off — and a great many other monsters, real and imaginary, Dongerites, Toileys, Loabs and Somerset Shingoes. I particularly dislike the Secretary of State for Culture and her horrible fountain in Kensington Gardens. Indeed, I dislike all ministers except Tony Blair and the Home Secretary.
Let me assure readers I am totally without prejudice. I do not prejudge. I have formed my dislikes on the basis of long experience. I tried explaining this once to James Baldwin, who complained to me that it was sheer race prejudice and homophobia which made people dislike him: ‘No, James, it is not prejudice, it is actual experience of how awful you are.’ He said, ‘What experience have you had of prejudice?’ I replied, ‘Listen, old sod, if, like me, you were born in England red-haired, left-handed and a Roman Catholic, there’s nothing you don’t know about prejudice.’ At this point he stumped off in a rage...”
Paul Johnson, A Christmas message to New Labour: give up preaching class hatred
RESCALDO DE ALGUMAS LEITURAS DA BLOGOSFERA. A PREPARAR 2006
Montaigne, Essais 2.17
RESCALDO DE CONSOADA E A ENCERRAR 2005. MEDITAÇÃO SOBRE PRESENTES RATÉS.
"...Personally, I can't see where the difficulty in choosing suitable presents lies. No boy who had brought himself up properly could fail to appreciate one of those decorative bottles of liqueurs that are so reverently staged in Morel's window -- and it wouldn't in the least matter if one did get duplicates. And there would always be the supreme moment of dreadful uncertainty whether it was crême de menthe or Chartreuse -- like the expectant thrill on seeing your partner's hand turned up at bridge. People may say what they like about the decay of Christianity; the religious system that produced green Chartreuse can never really die."
Friday, December 23, 2005
MAIS NATAL! LOPE DE VEGA
¿Qué tengo yo que mi amistad procuras?
¿Qué interés se te sigue, Jesús mío,
que a mi puerta, cubierto de rocío,
pasas las noches del invierno escuras?
¡Oh, cuánto fueron mis entrañas duras
pues no te abrí! ¡Qué extraño desvarío
si de mi ingratitud el yelo frío
secó las llagas de tus plantas puras!
¡Cuántas veces el ángel me decía:
¡Alma, asómate agora a la ventana,
verás con cuánto amor llamar porfía!
¡Y cuántas, hermosura soberana:
Mañana le abriremos,
respondía, para lo mismo responder mañana!
É NATAL! MAIS GÔNGORA
AL NACIMIENTO DE CRISTO, NUESTRO SEÑOR
Pender de un leño, traspasado el pecho,
Y de espinas clavadas ambas sienes,
Dar tus mortales penas en rehenes
De nuestra gloria, bien fue heroico hecho;
Pero más fue nacer en tanto estrecho,
Donde, para mostrar en nuestros bienes
A donde bajas y de donde vienes,
No quiere un portalillo tener techo.
No fue esta más hazaña, oh gran Dios mío,
Del tiempo por haber la helada ofensa
Vencido en flaca edad con pecho fuerte
(Que más fue sudar sangre que haber frío),
Sino porque hay distancia más inmensa
De Dios a hombre, que de hombre a muerte.
NO NATAL, A UM ESTÓICO DEVENDO-LHE UM SALVE! DE ACOLHIMENTO
LA NOCHE CÍCLICA
Lo supieron los arduos alumnos de Pitágoras:
los astros y los hombres vuelven cíclicamente;
los átomos fatales repetirán la urgente
Afrodita de oro, los tebanos, las ágoras.
En edades futuras oprimirá el centauro
con el casco solípedo el pecho del lapita;
cuando Roma sea polvo, gemirá en la infinita
noche de su palacio fétido el minotauro.
Volverá toda noche de insomnio: minuciosa.
La mano que esto escribe renacerá del mismo vientre.
Férreos ejércitos construirán el abismo.
(David Hume de Edimburgo dijo la misma cosa).
No sé si volveremos en un ciclo segundo
como vuelven las cifras de una fracción periódica;
pero sé que una oscura rotación pitagórica
noche a noche me deja en un lugar del mundo
que es de los arrabales. Una esquina remota
que puede ser del Norte, del Sur o del Oeste,
pero que tiene siempre una tapia celeste,
una higuera sombría y una vereda rota.
Ahí está Buenos Aires. El tiempo que a los hombres
trae el amor o el oro, a mí apenas me deja
esta rosa apagada, esta vana madeja
de calles que repiten los pretéritos nombres
de mi sangre: Laprida, Cabrera, Soler, Suárez...
Nombres en que retumban (ya secretas) las dianas,
las repúblicas, los caballos y las mañanas,
las felices victorias, las muertes militares.
Las plazas agravadas por la noche sin dueño
son los patios profundos de un árido palacio
y las calles unánimes que engendran el espacio
son corredores de vago miedo y de sueño.
Vuelve la noche cóncava que descifró Anaxágoras;
vuelve a mi carne humana la eternidad constante
y el recuerdo ¿el proyecto? de un poema incesante:
«Lo supieron los arduos alumnos de Pitágoras…»
Jorge Luís Borges, 1940
LEITURAS DE VÉSPERAS DE NATAL IV
BORGES SOBRE CAMÕES
A LUIS DE CAMÕENS
Sin lástima y sin ira el tiempo mella
las heroicas espadas. Pobre y triste
a tu patria nostálgica volviste,
oh capitán, para morir en ella
y con ella. En el mágico desierto
la flor de Portugal se había perdido
y el áspero español, antes vencido,
amenazaba su costado abierto.
Quiero saber si aquende la ribera
última comprendiste humildemente
que todo lo perdido, el Occidente
y el Oriente, el acero y la bandera,
perduraría (ajeno a toda humana
mutación) en tu Eneida lusitana
LEITURAS DE VÉSPERAS DE NATAL III
LUÍS DE CAMÕES
Os Cavaleiros tende em muita estima,
Pois com seu sangue intrépido e fervente
Estendem não sòmente a Lei de cima,
Mas inda vosso Império preminente.
Pois aqueles que a tão remoto clima
Vos vão servir, com passo diligente,
Dous inimigos vencem: uns, os vivos,
E (o que é mais) os trabalhos excessivos.
Fazei, Senhor, que nunca os admirados
Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses,
Possam dizer que são pera mandados,
Mais que pera mandar, os Portugueses.
Tomai conselho só d’exprimentados
Que viram largos anos, largos meses,
Que, posto que em cientes muito cabe.
Mais em particular o experto sabe.
De Formião, filósofo elegante,
Vereis como Anibal escarnecia,
Quando das artes bélicas, diante
Dele, com larga voz tratava e lia.
A disciplina militar prestante
Não se aprende, Senhor, na fantasia,
Sonhando, imaginando ou estudando,
Senão vendo, tratando e pelejando.
Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo,
De vós não conhecido nem sonhado?
Da boca dos pequenos sei, contudo,
Que o louvor sai às vezes acabado.
Tem me falta na vida honesto estudo,
Com longa experiência misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se acham raramente.
Pera servir-vos, braço às armas feito,
Pera cantar-vos, mente às Musas dada;
Só me falece ser a vós aceito,
De quem virtude deve ser prezada.
Se me isto o Céu concede, e o vosso peito
Dina empresa tomar de ser cantada,
Como a presaga mente vaticina
Olhando a vossa inclinação divina,
Ou fazendo que, mais que a de Medusa,
A vista vossa tema o monte Atlante,
Ou rompendo nos campos de Ampelusa
Os muros de Marrocos e Trudante,
A minha já estimada e leda Musa
Fico que em todo o mundo de vós cante,
De sorte que Alexandro em vós se veja,
Sem à dita de Aquiles ter enveja.
LEITURAS DE VÉSPERAS DE NATAL II
BORGES SOBRE GONGORA
Marte, la guerra. Febo, el sol. Neptuno,
el mar que ya no pueden ver mis ojos
porque lo borra el dios. Tales despojos
han desterrado a Dios, que es Tres y es Uno,
de mi despierto corazón. El hado
me impone esta curiosa idolatría.
Cercado estoy por la mitología.
Nada puedo. Virgilio me ha hechizado.
Virgilio y el latín. Hice que cada
estrofa fuera un arduo laberinto
de entretejidas voces, un recinto
vedado al vulgo, que es apenas, nada.
Veo en el tiempo que huye una saeta
rígida y un cristal en la corriente
y perlas en la lágrima doliente.
Tal es mi extraño oficio de poeta.
¿Qué me importan las befas o el renombre?
Troqué en oro el cabello, que está vivo.
¿Quién me dirá si en el secreto archivo
de Dios están las letras de mi nombre?
Quiero volver a las comunes cosas:
el agua, el pan, un cántaro, unas rosas…
LEITURAS DE VÉSPERAS DE NATAL I
LUÍS DE GONGORA
Ilustre y hermosísima María,
mientras se dejan ver a cualquier hora
en tus mejillas la rosada aurora,
Febo en tus ojos, y en tu frente el día,
y mientras con gentil descortesía
mueve el viento la hebra voladora
que la Arabia en sus venas atesora
y el rico Tajo en sus arenas cría;
antes que de la edad Febo eclipsado,
y el claro día vuelto en noche oscura,
huya la aurora del mortal nublado;
antes que lo que hoy es rubio tesoro
venza a la blanca nieve su blancura,
goza, goza el color, la luz, el oro.
Thursday, December 22, 2005
Já lá vai o tempo do bloqueio do Império Otomano, os basileus Paleólogos não voltarão e a Turquia encerra tesouros que não cabe ignorar. Tarkan é um deles. Quantos notaram a sua passagem por Lisboa? E está nas excepções à prece do P. Johnson...
"Durante diez años he vivido dentro del pensamiento kantiano: lo he respirado como una atmósfera y ha sido a la vez mi casa y mi prisón...".
Pé ante pé, para não perturbar o remanso musicado do Jansenista, aqui lhe deixo junto ao recanto da bronzea oratória, o registo destas palavras em páginas de Ortega y Gasset. Se as não tem e não conhece já, perca algum tempo para saborear o que o Mestre, sob o título de "Reflexiones de Centenario" lançou nos números de Abril Maio de 1924 da Revista de Occidente. Soberbas e cristalinas páginas, dignas de ser lidas ao som de Rodrigo dedilhado por Yepes...
Wednesday, December 21, 2005
DA IMPERTINÊNCIA DA PERTINÊNCIA
O tom algo desencantado do último post do nosso jansénico Cardeal de Noailles (para nos mantermos cada um à beira do Rei Sol, o La Chaise de um lado e o Noailles do outro) faz-me pensar que o recente pelourinho de Combustões, é, de facto, qual caveira do asceta, um motivo de meditação sisuda. Está em tela de juízo a questão magna da pertinência, e uma situação prática de impertinência livremente declarada.
Para não ficarem a pensar que fui presa de qualquer arroubo fescinino ao meditar sobre a anterior e nobre tela de Rubens, dou-vos conta de outra das minhas mais recentes e sérias meditações. De facto, no remanso do meu claustro e sem me poder mexer porque tenho o focinho do meu dormente cão em cima do meu já dormente pé, assumo que para os que comungam de uma determinada formação, são sobejamente conhecidas, em termos de eficácia formativa, as virtualidades dos Exercícios Espirituais. Comungando da natureza da meditação, do diálogo interior e colectivo, cristalizam as vantagens das múltiplas formas da oração. A lógica sucessão de verdades ilustradas, um coeficiente elevado de plasticidade conjugado com o poderoso interesse subjectivo do meu bem ou da minha felicidade, levam a que os Exercícios se tenham tornado, como sabem, um meio poderoso de elevação moral e espiritual.
Ora, muitas vezes me interroguei se as tais verdades ilustradas pelo verbo poderiam de alguma forma ser substituídas na economia da disciplina dos Exercícios, pelas "verdades musicadas", id est expressões musicais daquelas que mais acerbamente nos suscitem a ideia do sopro divino no acto da sua criação. O acto meramente deleitoso de ouvir música, constituir-se-ia para o crente um adjutório eficaz de elevação (já todos sabemos que opera) mas potenciado pela disciplina formal do exercício, onde o orientador dosearia sabiamente as tais verdades musicadas. Confesso que nunca troquei impressões sobre a questão com inaciano prático nos mistérios da ascese (ainda os há por cá?), ficando assim por demonstrar a praticabilidade da substituição. Avanço para quem se arroje a tal arroubo a sugestão laboratorial da música do Barroco, música não obrigatoriamente religiosa, cujo cânone, como é próprio do Barroco, é essencialmente dirigista. Não me recordo se disso tratou o saudoso José António Maravall na sua La Cultura do Barroco, mas ninguém mo tira da cabeça.
MEDITAÇÃO POÉTICA SOBRE UMA TELA DE RUBENS
HIMNO A LA CELULITIS
Deja la carne dura
para el recio colmillo de las fieras
y cata la blandura de las asentaderas que tiemblan como líquidas esferas.
Ignora las mudanzas
del gusto popular y rastacuero.Sigue las enseñanzas de Rubens y Botero
en materia de busto y de trasero.
Si el vulgar desatino
del firme glúteo idolatrar te abruma,
recuerda que previnola hija de la espuma
a batallas de amor nalgas de pluma.
¡Oh encanto de la gorda
pierna con robustez elefantina
que en grasa se desborda!
¡Oh majestad divina del muslo rebozado en gelatina!
¡Oh esponjas del deseo,
colchón para los huesos de la amada,
de los ojos recreo,
de los dedos almohada,
cremosa invitación a la nalgada!
Mueran las saltarinas
esclavas del aerobics y las dietas,
Jane Fonda y sus cretinas,
desnalgadas atletas
sin gracia, sin sabor, sin sal, sin tetas.
Vivan las perezosas
sacerdotisas del esfuerzo nulo
que dejan las odiosas
fatigas para el mulo
y son felices sin mover el culo!
(Infelizmente anotado em registo anónimo…)
Tuesday, December 20, 2005
TRÊS LEITURAS DE NATAL
E que por último não perca nesta mesa armada da consoada literária, registe-se o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, editado pela Principia, sob a chancela do Conselho Pontifício “Justiça e Paz”. Debaixo da umbela abrangente da ideia de “Um Humanismo Integral e Solidário”, o leitor interessado verá desenrolar-se em harmoniosa sucessão capítulos onde se alinham os ensinamentos luminosos de sete Pontífices romanos de gloriosa memória; ensinamentos em matéria da lei natural inscrita na consciência do ser: o Desígnio Divino e a Humanidade, a Doutrina Social, a Pessoa, a Família, o Trabalho, a Vida Económica, a Comunidade Política, a Comunidade Internacional, o Ambiente, a Paz, a acção pastoral. Bem oportuna edição nos tempos correntes. Como escreve o Cardeal Martino, na Apresentação, “a Igreja, perita em humanidade, numa espera confiante e ao mesmo tempo operosa, continua a olhar para os «céus novos» e para a «nova terra» e a indicá-los a cada homem, para ajudá-lo a a viver a sua vida na dimensão do sentido autêntico. Gloria Dei vivens homo: o homem que vive em plenitude a sua dignidade dá glória a Deus, que lha conferiu”.
Cuidadosamente concebida e ordenada para ser fruida não somente ad intra, entre os Católicos, mas também ad extra, isto é, para aqueles que o não sendo, serão porventura homens de boa vontade de outros credos, é salutar a leitura ou a mera consulta deste compêndio. Quanto mais não seja por nos lançar um quo vadis, em tempo oportuno quando por tantas e desvairadas páginas buscamos as essências.
Autore: M. SEUTTEREpoca: 1740Tecnica: Incisione in rameMisure: 27x20,7
.... E já que tutti quanti se afobam em pedinchar presentes, hoje correntemente chamados de prendas, i.e. relógios, livros, musiquetas e adereços burgueses, rogo ao honrado velho da Lapónia que se não esqueça dos pobrezinhos e que inflicta o rumo da rena por sobre o antigo ducado dos Visconti, desça sobre a casa Pettinaroli e que me pilhe o suficiente para deixar esta criança feliz. Não me alargo e para evitar as confusões próprias da idade que a barba sugere, aqui vai o 1º da lista.
Monday, December 19, 2005
LUÍS XVI
Associando-me ao pesar de Combustões pelo magnicídio de Luís XVI, sugiro àqueles dos legitimistas que estiverem em Paris na data do aniversário (21 de Janeiro) que sacrifiquem umas horas ao tour das livrarias, ou os mais vulgares grand magazins e passem pela igreja memorial, perto do boulevard Haussman, onde decorre a tradicional cerimónia. É de aproveitar para rezar uma Avé Maria pela alma do Príncipe de Talleyrand (o despudorado regicida que durante o Congresso de Viena, em 1815, promoveu as grandiosas exéquias celebradas) já que não poucas vezes o admiramos sem reservas de maior.
Sunday, December 18, 2005
De facto. De facto, saído das sombras da discrição das cartuxas, não das trevas, e ainda com a veste cândida dos neófitos, olho maravilhado para os ritmos da bloguística. O res mirabillis! Obrigado Jansenista por me dar a honra de ser o meu apresentador e o meu Virgilío neste círculo que não é infernal:
che porta il lume dietro e sé non giova,
ma dopo sé fa le persone dotte...
Todavia, o caro Jansenista não acertou uma, do que não lhe vem mácula. De minimis non curat praetor. Mas é o risco da armadilha das associações. Je mantiendrai aponta, não aos Orange-Nassau (hoje Lippe-Biesterfeld), mas à postura que me esforço de conservar perante o desvario dos tempos. Au plaisir de Dieu, já muito antes do d’Ormesson ter aprendido a ler, condensava um princípio basilar que se bebia no 1º catecismo. Finalmente, a vera efígie ignaciana considere-a uma homenagem aos mestres que me formaram a mente e da qual (da efígie) não vem mal ao mundo. Quanto a detectar Batávio no horizonte, claudicou no apontar do falconete: sou dos que comungo com o P. António Vieira do juízo de que tudo aquilo lá de cima não passa de “um inferno alagado”, confinando as preferências geográficas europeias àquelas terras para cá do limes outrora marcado pelas águias de Roma.
Registo a cautela teológica do Jansenista que, a crer no seu texto inaugural nos idos de 2004, não contava eu fosse um tão sério discípulo de Jansenius, ficando-se pelo pietismo (e pelo cromo colorido) de Kant e pelas formas da sobriedade jansenista. Contudo, apesar de (padecendo de ligeireza) poder pensar que o Jansenista tem mão leve a apodar os outros de obscurantistas, prometo-lhe que não lhe rogarei pela conversão, aliás anunciada in fieri pela Misa Criolla. À propos espero que a sua versão seja a esplendorosa do Quarteto de los Andes, com Zamba Quipildor como solista). Quanto ao modernismo da Patricia Barber, para esse peditório já eu dei quando era mais novo. Fico-me e finco-me no P. Johnson, com a sugestão de ajuste musical do Eurico de Barros e o esclarecimento de que apensei à prece uma “lista de Shindler” onde salvaguardei o Robby Williams. E agora vou curar os restos da gripe que certamente apanhei depois de passar por tantas varandas, lagos e sítios ventosos que o Jansenista postou em sucessão só comparável às brochuras do RCI, da P&O ou da Wagon Lits.
Saturday, December 17, 2005
Friday, December 16, 2005
Perguntado um dia porque razão não voltava a França, pacificada que era dos excessos da Revolução, o Príncipe de Ligne (esse attardé do espírito do Grand Siècle cujas memórias a Mercure de France em boa hora reeditou) terá replicado: “L’honneur, l’horreur et l’humeur”.
Assim estava eu no respeitante à participação activa na blogosfera, quedando-me no quietismo do meu cadeirão e do meu claustro, saboreando passiva e ocasionalmente os frutos que ela nos depõe no regaço. As ideias expendidas, as formas literárias ou as subtilezas manifestas do sentido de oportunidade da intervenção, que tanto revelam sobre a ideossincrasia dos interventores em blogues próprios ou alheios, eram sobejas --- aceite um critério estrito de selecção dos mesmos --- para compensar o tempo roubado às formas tradicionais de preechimento dos ócios e investido na net. Se Somerset Maugham usasse de igual cadeirão que emparelha solitário com o meu (o que sinceramente lamento não possa já fazer) estou certo que usaria do mesmo recurso para imaginar novas e pitorescas personagens duma nova série de “short stories”.
Eis-me rendido e candidato à observação alheia. Eva quando provou da maçã edénica também percebeu que estava nua... A tentação da participação bloguística terá desses inconvenientes, aceito. Contudo, o aparente desalento do Miguel Castelo Branco nas suas Combustões e a ameaça do seu silêncio --- terrível, vinda de um dos meus preferidos --- despertou-me para a possibilidade triste de ver transposto para a bloguística, o sentimento acre de frustração que se tem quando, inopinadamente, acabou o stock do Madeira preferido: “Que maçada! Já não há... Que falta me faz!” Não aspiro a fazer falta, mas realmente talvez haja mais virtù na assunção total da bloguística, pela participação que está já para lá do voyeurismo, admito, egoísta. Contem com mais um no café.
E já que estamos naquele tempo indistintamente apodado pela gente dos media e pelos lojistas de “quadra natalícia”, trago à colação o incontornável Paul Johnson, que, num delicioso texto publicado no The Spectator do último dia 3 --- “Things to pray for in this season of Advent” --- recordava que Deus responde às preces “if they are earnest, worthy and just”. As dele são as dele, mas a juntar às minhas que guardo para a intimidade do meu oratório, não posso deixar de pedir que se associem com as adaptações devidas ao torrão pátrio, à prece do articulista:
“I pray for the return of England to the Holy Mother Church, for the end of pop music and TV, for the destruction of Modern Art, Picassoism and all that rubbish, the demolition of Tate Modern (though I’m not sure that is lawful), the collapse of militant Islam, the freeing of China, North Korea and Cuba and the rescue of England from vulgarity and the European Union. I am patient…”.
Boas Festas!