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Je Maintiendrai

"... Le refus de la politique militante, le privilège absolu concédé à la littérature, la liberté de l'allure, le style comme une éthique, la continuité d'une recherche". Pol Vandromme

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Monday, November 27, 2006


Adieu, farewell! JM voa de manhã cedo e este blogue encerra até meados de Dezembro!

LIES

Yes Prime Minister

Sunday, November 26, 2006

A ACTUAL FAVORITA NO SERRALHO MUSICAL
As delícias da conjugação do violino e da guitarra
Paganini, Sonata Concertata
















CARL SCHMITT E BENITO CERENO

Ficou em baixo um post (desses que, com un clin d’oeil, ocasionalmente deixamos àqueles que um outro Confrade chama bem de blogo-friends, entendendo que se refere a parceiros de tertúlia, cúmplices de alguns gostos, companheiros neste electrónico jogo de berlinde) com a remessa exibicionista para três títulos que poderiam sugerir as adesões dessa cumplicidade. Dois livros e um artigo. Este último, um texto de António Truyol y Serra, pouco acessível e ao mesmo tempo (pelo menos para os menos familiarizados com os detalhes da obra e vida de Schmitt) essencial para a compreensão da oportunidade de juntar Ex captivitate salus a Benito Cereno de H. Melville. Nesse mesmo jogo de berlinde (ainda se jogará, o antigo?) acabou por notar-se alguma da trapaça de se citar o que se não alcança. Com injustiça sobretudo para os AA e DD que se citam, e cuja lição gostariam, decerto, de ver acompanhar a citação. Estou certo que seria esse o caso de D. António Truyol, com quem tive o privilégio de aprender, que me iniciou no interesse por Carl Schmitt, e que isso fez um dia simbolicamente acompanhar pela oferta da separata e do exemplar de Melville que as imagens do post anterior reproduzem. Na compreensão da associação destes três textos, não colhem aspectos particulares da personalidade e postura de Schmitt, como p. ex. o seu anti-semitismo (que, segundo Truyol, merecera de Raymond Aron o desabafo “un grand esprit et un tout petit homme”) nem directamente outros aspectos fascinantes do seu pensamento como as teses sobre legalidade/legitimidade, amigo/inimigo, teoria da constituição, etc. Colhe sobretudo o seu pensamento internacional, que ainda há não muito tempo a Universidade de Leiden pôs em destaque em termos de actualidade e vero impacto na actual ciência das Relações Internacionais e do Direito Internacional. Porque o Schmitt que remete para a alegoria de Benito Cereno, é, sobretudo o Schmitt do Der Nomos der Erde im Volkerrecht des Jus Publicum Europaeum (El Nomos de la Tierra en el Derecho de Gentes del “Jus Publicum Europaeum” na minha ed. do Centro de Estudios Constitucionales, de Madrid, que, curiosamente, antecede em quase 30 anos a 1ª edição em língua inglesa, de 2003), o fabuloso estudo de geopolítica e de geopolítica histórica, extramemente inovador na conceptualização de uma ordem global europeia, a que corresponderia a armadura jurídica do ius publicum europaeum. Fruto do acerbo realismo político de Schmitt – “a soberania do Direito significa unicamente a soberania dos homens que impõem as normas jurídicas e se servem delas” – a concepção do ius publicum europaeum é tributária de uma manifestação do mais vasto anti-liberalismo de Schmitt, que também assenta no repúdio da construção de uma legalidade internacional concebida à semelhança da legalidade vigente no interior dos Estados liberais, factor de esvaziamento e de despersonalização da política em favor do direito, e, portanto, elemento de contradição fatal da própria política, que só admite passível de extinção num horizonte ideal onde se esgotasse a dialética do amigo/inimigo. Testemunha de uma época em que assistiu à destruição e à menorização da Europa, e da construção e instucionalização de uma ordem jurídica internacional, supra-estatal e de tendência universal, em tudo contraditória das teses que defendera, não surpreende que Schmitt assim afirmasse, amargamente, em Ex Captivitate, “eu sou o último, consciente representante do ius publicum Europaeum, o último a tê-lo ensinado e investigado num sentido existencial, vivendo o fim como Benito Cereno viveu a viagem no barco pirata”.
Ora, a edição de Der Nomos der Erde é praticamente coincidente com a de Ex captivitate salus (1950), onde, como se sabe, transpiram dramaticamente as reflexões de Schmitt durante o cativeiro e o trauma do imediato pós-guerra, e assim, precisamente, se referem Melville e Benito Cereno; foi o trecho que escolhi no post abaixo. As palavras de D. Antonio Truyol evocam-nos a “obsessão” de Schmitt pelo drama e pelo valor alegórico de Benito Cereno, já notado por outros autores mas ampliado por Schmitt à dimensão simbólica da situação da inteligência num sistema de massas, via do que Truyol define como a trajectória da sua vida e experiência de jurista na Alemanha da República de Weimar e do Terceiro Reich. Truyol aponta também, em benefício da interpretação do pensamento schmittiano sobre o texto de Melville, para as considerações de outro companheiro da iniciação que adiante se relatará, o Prof. Enrique Tierno Galván, o jurista e o politólogo. Considerações que Tierno lançara num escrito, publicado e dedicado a Schmitt em 1952 com o título de Benito Cereno o el mito de Europa, e reeditado em Epirrhosis, o monumental livro de homenagem ao jurista alemão, publicado em 1968, precisamente quando Tierno Galván participava na fundação do PSI e regressava do exílio de Princeton, onde se acolhera depois de expulso da sua cátedra pelo regime franquista. Um texto onde Truyol afirma conceber-se o destino do capitão Benito, mais do que como uma situação da inteligência num sistema de massas, como “la situación de nuestro continente en el mundo”. De facto, para Tierno, Schmitt tivera a presciência de escolher o mito que encerra a narração de Melville como “el unico […] que permite interpretar rectamente la situación actual de Europa”. Como Cereno, cativo no navio dos escravos rebelados e sem rumo fixo, “los europeos de hoy estamos "embarcados", como don Benito, en la situación definida por un barco que meramente flota. Como el, sin embargo, nos agarramos a eso que queda aún a sabiendas de que es mentira, porque creemos -- y esto tampoco es cierto -- que refleja en cierta medida la verdad […] Cereno significa en el mito la consciencia de la elite, que ve y sufre […] Don Benito sabe que el barco no va a ninguna parte, y que el intento de gobernarlo es inútil. De aqui su abandono y descaecimiento”. Como sublinha Truyol, “de aqui también su continuo oscilar entre la rebelión, la dejadez y el miedo. La razón aconseja huír del barco a la primera oportuni­dad, emigrar a América “en el chinchorro filantrópico de Mr. Delano”, el capi­tán del barco que con el suyo se encuentra. Pero “los escogidos, conciencia de Europa, pueden, no ya deben, saltar del barco, decirle adiós y bogar sin más?”; pues Don Benito “ya no es capaz de lo heróico, ni siquiera de lo trágico”, y sustituye la rebelión por una “fatigada dignidad”.
D. António Truyol acabou por rematar as suas reminiscências, comentando o ponto de divergência da sua rota e de Tierno, jovens europeístas, do do velho Schmitt, “apegado al ius publicum Europaeum, basado en el difícil equilíbrio de poderes celosos de su soberania”. Cabe, porventura, a cada um retirar as conclusões que hoje é lícito retirar 50 anos passados sobre as teses de Schmitt e a sua associação ao mito de Benito Cereno. Pessoalmente, entendo que esta mantém toda a sua força e as potencialidades para suscitar uma reflexão sobre o triste destino desta Europa, e, sobretudo, sobre o papel de cada um de nós face à situação. Substituir “la rebelión por una “fatigada dignidad”? “decirle adiós y bogar sin más?” Fazer de tudo uma leitura mais estóica que pessimista, como sugere Truyol y Serra? Fica o texto.

“…Yo ignoro si Enrique habia leído por aquel entonces Benito Cereno. Yo, no. Lo que sí recuerdo bien es que la estancia en Madrid de Don Carlos que siguió su visita a nuestra Universidad, coincidió con una feria del libro, y que, deambulando los tres por el Paseo de Recoletos a lo largo de sus casetas, se detuvo Schmitt ante una, adquirió dos ejemplares de una traducción castellana de la novela, por José María Souvirón, aparecida en la “Biblioteca Zig-Zag” de Santiago de Chile, y nos regaló uno a cada uno de nosotros, con una dedicatoria-recordatorio en que se nos remitía a unas páginas de su obra autobiografica Ex captivitate salus, incitándonos (o incitándonos nuevamente) a una meditación sobre el sentido esotérico que habia sabido dar su autor al relate de un episódio de la trata de esclavos en el Mar del Sur, tomado de la Narrative of Voyages and Travels del capitan Amasa Delano, genialmente enriquecido, poetizado y elevado a la dimensión de un mito (por la dedicatoria, veo que fue el 7 de junio de 1951). Las circunstancias en que el Ex captivitate salus fue escrito, al término de la Segunda Guerra Mundial (entre 1945 y 1947), cuando Schmitt conoció la marginación y la cárcel, dan a la doble evocación de la novela de Melville que allí encontramos la medida de la significación vital que para el autor tuviera. Es cierto que la atribución a la novela del autor neoyorquino de una dimensión simbólica no precede de Schmitt, pues el mismo señala que el capitán Benito Cereno, “el héroe de la narración de Herman Melville, ha sido elevado en Alemania a símbolo de la situación de la inteligencia en un sistema de masas” (pags. 21-22). Pero Schmitt vivió este sentido del símbolo de una manera intensa, dada la trayectoria de su vida de jurista en la Alemania de la Republica de Weimer y del Tercer Reich. Y nos llevó personalmente a sumirnos en la obsesiva atmósfera de Benito Cereno. Fruto de aquellos coloquios y de la meditación por Don Carlos suscitada, fue el artículo que Enrique Tierno publicó, el ano siguiente, en el num. 36 de Cuadernos Hispanoamericanos, bajo el título “Benito Cereno o el mito de Europa” (pags. 215-223), y que dedicó “al profesor Carlos Schmitt”; artículo que se incluiría, años más tarde, en traducción alemana, en el tomo II del libro-homenaje a Carl Schmitt, Epirrhosis (Berlin, 1968). El título es significativo, por cuanto el destino del capitán Benito Cereno adquiere nueva significación: simboliza, mas allá de la situación de la inteligencia en el sistema de masas, la situación de nuestro continente en el mundo. No vamos aqui a extendernos sobre dicho escrito, por lo demás facilmente asequible. Baste recordar que para Tierno el mito que encierra la narracion de Melville es “el unico (...) que permite interpretar rectamente la situación actual de Europa” (pag. 218). Esta situación recuerda la de nuestro personaje central en medio de su carga humana rebelada, sin rumbo fijo. “Los europeos de hoy estamos "embarcados", como don Benito, en la situación definida por un barco que meramente flota. Como el, sin embargo, nos agarramos a eso que queda aún a sabiendas de que es mentira, porque creemos -- y esto tampoco es cierto -- que refleja en cierta medida la verdad”. Enlazando con el sentido anterior del mito, y subsumiendo la “inteligência” en Europa, añade: “Cereno significa en el mito la consciencia de la elite, que ve y sufre”. “Don Benito (...) sabe que el barco no va a ninguna parte, y que el intento de gobernarlo es inútil. De aqui su abandono y descaecimiento”. De aqui también su continuo oscilar entre la rebelión, la dejadez y el miedo. La razón aconseja huír del barco a la primera oportuni­dad, emigrar a América “en el chinchorro filantrópico de Mr. Delano”, el capi­tán del barco que con el suyo se encuentra. Pero “los escogidos, conciencia de Europa, pueden, no ya deben, saltar del barco, decirle adiós y bogar sin más?”; pues Don Benito “ya no es capaz de lo heróico, ni siquiera de lo trágico”, y sustituye la rebelión por una “fatigada dignidad”.
Ahora bien, la dignidad, “la indiscutible dignidad con que muchos europeos aguantan el embarque precede de Honduras con relacion a las cuales el capitan del mito es espanol”: agobiado por el pasado “y una cierta insobornable con­ciencia de la responsabilidad ante los otros y ante si mismo, estrechamente unida a los tiempos en que el barco no flotaba, sino viajaba junto al poder y a la gloria”, insobornable conciencia que en el mito representa el negro Babo […] En esta visión pesimista, y que se me antoja crepuscular, ve Tierno actuar, junto a Babo y Mr. Delano, una tercera fuerza: el terror -- el terror moderno, que no aspira al orden, como el terror medieval, sino que “lucha por su propio aniquilamiento” y “tiende a agotarse en el mero aterrorizar”, ocupando en puridad, hoy, “el lugar de los valores muertos”. Con ello, desarrollaba Tierno la idea del frances Pierre Leyris en sus “Reflexiones sobre Benito Cereno”, publicadas en apéndice a la novela en su edición francesa (1937) y reproducida en la version castellana de Souvirón, según la cual el barco de Cereno simbolizaba a Europa cual Viejo Mundo en su contraposición al Nuevo, y era don Benito la conciencia de la élite europea, “nobleza mo­ral, independientemente de toda consideracion de clase o de raza”, punto de partida de las ulteriores interpretaciones. Y en esta trayectoria un analista del mito de Benito Cereno, el yugoslavo Sava Klickovic (“Benito Cereno. Ein moderner Mythos”, en el citado libro-homenaje a Carl Schmitt, II, pags. 265-273), ha visto en la lectura tierniana de la novela, antaño desconocida e ignorada, “el punto culminante de su éxito”, que “ha alcanzado la validez de lo que hoy se suele designar como un mito moderno”; mito que “como tal se halla en la misma línea de aquellas raras creaciones cumbres de la moderna literatura universal, que llevan en sí la fuerza mitológica, como por ejemplo, Don Quijote, Hamlet y Fausto o, por mencionar a un gran escritor del Este europeo, la novela El idiota, con su enfermizo príncipe Mischkin, de F.M. Dostoievski”.
Hemos hablado antes de conceptión pesimista. Podriamos haberla califica-do quizá más propiamente de estoica. Nuestras propias vivencias de la historia de España y de Europa hacían que nos encontrásemos con Schmitt en este sentimiento en un buen trecho de nuestros respectivos caminos. Pero precisamente la conciencia de una impotencia europea enaltecida, aunque no invalidada, por la dignidad, seria para Tierno y para mi, punto de partida de un intento de superación mediante la idea de la unión europea que de mas allá de los Pirineos llegaba, preñada de esperanza. Y en esta senda le resultaria difícil a Schmitt, apegado al ius publicum Europaeum, basado en el difícil equilibrio de poderes celosos de su soberania, acompañarnos. Yo fui siguiendo, en la línea de mi propia experiencia juvenil, la entonces pujante ascensión de los movimientos europeístas. Tierno, más inserto en la práctica por su ideario y talante, constituiria una Asociación para la unidad funcional de Europa...”.

Friday, November 24, 2006

























LIVRINHOS
Para os blogo-friends, caso o não tenham já...

"…Cabe agora aos juristas receberem a injunção de calarem. A eles – se ainda fossem latinos – poder-lhes-iam os técnicos ao serviço dos poderosos e dos prepotentes gritar-lhes na cara: Silete iurisconsulti!
E aqui estão duas singulares ordens de calar, no início e no fim de uma época. No início, é uma injunção de calar que vem dos juristas dirigida aos teólogos da guerra justa. No fim, é a injunção devolvida aos juristas de se aterem a uma tecnicidade pura, isto é, totalmente profana. Não é nossa intenção discutir aqui o nexo que se estabelece entre estas duas ordens de calar. É, porém, coisa boa e salutar recordar que a situação no início da época não foi menos horrível de quanto o é no seu termo. Toda a situação tem o seu segredo e cada ciência traz em si o seu arcanum. Eu sou o último, consciente representante do ius publicum Europaeum, o último a tê-lo ensinado e investigado num sentido existencial, vivendo o fim como Benito Cereno viveu a viagem no barco pirata. Aqui, é bem e tempo de calar. E não devemos recear. Calando, nos recordaremos de nós mesmos e da nossa divina origem…”
Carl Schmitt, Ex Captivitate Salus (1946)






















Jardins

Como não tenho as habilitações agrícolas e hortícolas (inveja negra e sincera!) de Manuel Azinhal, fico-me por gozar, palmilhando, os jardins e hortas arranjados por sábia e alheia mão, ler uns livros do ofício e remoer o conselho de Voltaire - "...oui, mais il faut cultiver notre jardin".

Wednesday, November 22, 2006


REI DE LIVROS E LIVROS DE REI
Empreendi esta tarefa árdua com o único intuito de “bem servir” o nosso País: é o seu único merecimento…”
El-Rei D. Manuel II (1929)

Não tenho, mas lembrei-me hoje que gostaria de ter um dos mais belos símbolos da contribuição cultural dos últimos monarcas da Dinastia de Bragança ao seu país. Refiro-me aos Livros Antigos Portugueses d’El-Rei D. Manuel II.
Publicado sob a chancela dos prestigiados livreiros Maggs Bros., de Londres, o monumental labor histórico e literário do Monarca está, de facto, consagrado na obra que hoje habitualmente se referencia como Livros Antigos Portugueses, 1489-1600, da Biblioteca de Sua Majestade Fidelíssima, descritos por S.M. El-Rei D. Manuel em Três Volumes, (1929-1936) edição da Universidade de Cambridge, sendo o terceiro volume póstumo, e publicado com prefácios de Aubrey Bell e Ricardo Jorge. Além de constituir-se como uma obra de grande beleza pela profusão de portadas, rostos, colophons, capitulares, estampas, vinhetas e tarjas reproduzidas, os Livros Raros são um monumento à grande erudição, rigor científico, sensibilidade e conhecimento bibliográfico do Monarca (porventura o último a beneficiar da tradicional e esmerada educação dos Príncipes da Casa de Bragança) cujo comentário erudito aí se estende a 9 incunábulos, 460 livros quinhentistas impressos em Portugal e 6 no estrangeiro, para não falar já dos 3 manuscritos e 112 volumes da camoneana real, impressos de 1572 a 1928.
A obra foi solenemente apresentada em 1929 na Academia das Ciências Lisboa pelo Prof. José Maria Rodrigues, que fora mestre do Príncipe Real D. Luís Filipe. Obra que este ilustre camonista considerava como “reveladora de uma erudição segura, fruto de vastas e bem orientadas leituras, de um ardente patriotismo, inspirado pelos feitos gloriosos dos nossos antepassados e de um esclarecido amor pelos bons livros…”.
Fruto de um, como tantos outros gestos de elevado patriotismo do último Rei português, o espólio bibliográfico d’El-Rei D. Manuel conserva-se afortunadamente em Portugal, já que logo em 1915 ficou assegurada por magnânima disposição testamentária do Monarca a conservação e a integridade do acervo com vista à constituição futura de um Museu que hoje tem corpo no paço ducal de Vila Viçosa. Gerido pela Fundação da Casa de Bragança, a quem cabe zelar pela concretização dos objectivos culturais e beneficentes d’El-Rei D. Manuel II, aí se conserva assim um imponente conjunto de obras de arte e de interesse cultural, onde, naturalmente, avultam os livros raros e antigos, os incunábulos e os manuscritos, grande parte deles adquiridos e cuidadosamente resgatados pelo Rei durante o seu exílio em Inglaterra e doados à Pátria. Como bem escreveu Joaquim Veríssimo Serrão, “o paço ducal de Vila Viçosa tornou-se o santuário da alma do Rei brigantino que ali permanece no meio dos seus objectos e dos seus livros, como imagem de um tempo que marcou a grandeza de Portugal no mundo” (“D. Manuel II, um Grande Português”, in No Primeiro Centenário De El-Rei D. Manuel II (1889-1932). Academia Portuguesa de História. Lisboa, 1991).
D. Manuel II nasceu em Lisboa, no Palácio de Belém, a 19 de Março de 1889, recebendo no baptismo o nome de Manuel Maria Filipe Carlos Amélio Luís Miguel Rafael Gonzaga Xavier Francisco de Assis Eugénio de Bragança, e morreu em Twickenham, Inglaterra, a 2 de Julho de 1932, tendo sido sepultado em Lisboa, no Panteão Real de S. Vicente de Fora. Casou em 4 de Setembro de 1913 com a princesa D. Augusta Vitória, filha do Príncipe Guilherme de Hohenzollern e de sua mulher, D. Maria Teresa, Princesa de Bourbon-Duas-Sicilias. Não tiveram geração.


RETRATOS DE TRABALHO V - BOLKONSKY

"On attendait de jour en jour à Lissy-Gory, domaine du prince Nicolas Andréévitch Bolkonsky, l'arrivée du jeune prince André et de sa femme; mais cette attente ne troublait en rien le mode d'existence établi par le vieux prince, qu'on avait surnommé, dans un certain cercle, «le roi de Prusse». Général en chef de l'empereur Paul, il avait été exilé par lui dans sa propriété de Lissy-Gory, et il y vivait depuis lors dans la retraite avec sa fille Marie et sa demoiselle de compagnie, Mlle Bourrienne. Le nouveau règne lui avait ouvert les portes de sa prison et lui avait rendu le droit de séjourner dans les deux capitales; mais il s'obstinait à ne pas quitter sa terre, ayant déclaré à qui voulait l'entendre que les cent cinquante verstes qui le séparaient de Moscou pouvaient bien être franchies par ceux qui désiraient le voir, et que, quant à lui, il n'avait besoin de rien, ni de personne. Les vices de l'humanité provenaient, disait-il, exclusivement de deux causes: l'oisiveté et la superstition. De même, il ne reconnaissait que deux vertus: l'activité et l'intelligence; et il s'occupait personnellement de l'éducation de sa fille, afin de développer en elle, autant que possible, ces deux qualités. Jusqu'à l'âge de vingt ans, elle avait étudié, sous sa direction, la géométrie et l'algèbre, et sa journée avait été méthodiquement employée à des occupations déterminées et suivies. Quant à lui, il écrivait ses mémoires, résolvait des problèmes de mathématiques, tournait des tabatières, travaillait au jardin et surveillait la construction de ses différentes bâtisses, qui lui donnaient fort à faire, car le bien était grand et l'on bâtissait toujours... Sa vie entière était réglée dans ses moindres détails avec une exactitude scrupuleuse. Il était cassant et exigeant à l'extrême à l'égard de son entourage, y compris sa fille; aussi, sans être cruel, il avait su inspirer une crainte et un respect qu'un homme vraiment méchant aurait eu de la peine à obtenir. Malgré sa vie retirée et en dehors de tout emploi officiel, aucun des fonctionnaires du gouvernement où il demeurait n'eût manqué de venir lui présenter ses devoirs et de pousser la déférence jusqu'à attendre son apparition dans le grand vestibule, à l'exemple de la princesse Marie, de l'architecte et du jardinier. Tous ressentaient du reste le même sentiment mêlé de crainte et de respect, lorsque la lourde porte de son cabinet s'ouvrait lentement pour laisser passer ce petit vieillard, avec sa perruque poudrée, ses mains sèches et fines, ses sourcils épais et grisonnants, dont l'ombre adoucissait parfois l'éclat des yeux brillants et presque jeunes encore…
Dans la haute et spacieuse salle à manger, derrière chaque chaise se tenait un domestique, et le maître d'hôtel, une serviette sur le bras, promenait une dernière fois son regard inquiet de la table aux laquais, et du cartel à la porte qui allait s'ouvrir devant son maître. Le prince André examinait attentivement l'arbre généalogique de sa famille, encadré d'une baguette d'or. Cet objet, tout nouveau pour lui, était suspendu en face d'un autre immense tableau du même genre, indignement barbouillé par un artiste amateur. Ce barbouillage représentait le chef de la lignée des Bolkonsky, un descendant de Rurik, en prince souverain avec une couronne sur la tête. André ne put s'empêcher de sourire à la vue de ce portrait de haute fantaisie qui frisait la caricature. «Ah! je le reconnais bien là tout entier!» La princesse Marie, qui venait d'entrer, le regardait avec étonnement, et ne comprenait pas ce qu'il pouvait y avoir là de risible; tout ce qui touchait à son père lui inspirait un respect religieux, qu'aucune critique ne pouvait affaiblir. «Chacun a son talon d'Achille, continua le prince André.... Avoir l'esprit qu'il a et se donner ce ridicule!...». La princesse Marie, à laquelle déplaisait la hardiesse de ces propos, allait y répondre, lorsque les pas si impatiemment attendus se firent entendre. La démarche agile et légère du vieux prince, ses allures brusques et vives contrastaient si singulièrement avec la tenue sévère et correcte de sa maison, qu'on aurait pu y soupçonner une arrière-pensée de sa part.
Deux heures venaient donc de sonner au cartel, et la pendule du salon y répondait mélancoliquement, lorsque le prince parut; ses yeux brillants, pleins de feu, surplombés de leurs épais sourcils gris, glissèrent rapidement sur toutes les personnes présentes pour se fixer sur la petite princesse. À sa vue, elle fut saisie de ce sentiment de respect et de crainte que son beau-père savait inspirer à tout son entourage. Il lui caressa doucement les cheveux et lui donna une petite tape sur la nuque. «Je suis bien aise, bien aise,» dit-il. Et, l'ayant dévisagée une seconde, il la quitta aussitôt pour s'asseoir à table: «Asseyez-vous, asseyez-vous, Michel Ivanovitch.»"
Tolstoi, La Guerre et la Paix
(Em fundo F. Mendelssohn, Opus 38, int. Daniel Barenboim)

Tuesday, November 21, 2006







AINDA A RÚSSIA

O IMPÉRIO ACERTA CONTAS COM O SEU PASSADO

As cerimónias do enterro da Imperatriz Maria Feodorovna, mãe do último Tsar, em S. Petersburgo, no passado dia 28 de Setembro. A reportagem: aqui.




PRETOGUÊS
Reflexões a doer sobre a triste sina da língua que foi de Camões.

"...ao mesmo tempo que nos arrepia e perturba, tão cacofónico, abstruso e incoercível idioma desafia-nos, intriga-nos... De que galáxia ignota, abominável, provirá? Que nome maldito - torvo, lúgubre, assombroso - lhe será devido: Bimboguês? Labreguês? Pimbanhol? Pretoguês? Trolhantino? Alarvanita? Limusino? Gambusino? Herpes labial? Lalogonorreia?Cercado por academias inteiras, sitiado por exércitos eruditos, esquadrinhado por hordas investigadoras, por curiosos autodidactas de toda a espécie, o mistério, no entanto, mantém-se. Inexpugnável."


Fr. Carlos de Évora

Nem só de Amadeo e da FCG vive a Arte em Portugal. Quem conhece Fr. Carlos de Évora, pintor eborense, celebrado no M. Nacional de Arte Antiga e justamente lembrado num blogue de Além Tejo?


AI AI AI... E AGORA?


Novas de Olivença. Tribunais, tratados e diplomacia.
Ele é livros, ele é Grupo de Amigos, sobretudo ele é tribunais (Relação de Évora). Ai ai ai, senhores das Necessidades; ... ou vou ali e já volto?!




FRANCAMENTE!
Quem fala assim não é Gago, é simplesmente...

Uma pérola. Do Ministro Gago. Mais um a incluir na ala filipina do Museu do Prado.

Kriton - Akataplexia?
Kyon - Apragmosyne...

A NOVA RÚSSIA

Grandioso, mas um desastre para o arvoredo do Kremlin...

O DESASTRE DA VELHA RÚSSIA

O Quarto da Imperatriz (Sergei Eisenstein)


VELHA RÚSSIA












































































O Futuro Presente decidiu ressuscitar Felix Youssupoff. Oportunidade para ir pensando nas compras de Natal.





Felix Youssupov, por Serov.
Em fundo, o Hino Imperial pelo coro do Exército Vermelho.

Sunday, November 19, 2006







PELA NOITE DENTRO - PORTER & COWARD
Duas excelentes variações: um extracto do film De-Lovely, e, em fundo, a interpretação de Noel Coward.

DE-LOVELY

Alanis Morissette "Let's Do It"




REFLEXÃO APARENTEMENTE AMARGA SOBRE REFLEXÃO ALHEIA
Bela reflexão a d’O Corcunda. Sim, também me revejo nessa sua postura, que também parece assentar no diagnóstico crucial: “…se não tenho dúvidas de que a culpa da derrota das direitas repousa nelas mesmas, creio que esta só se revela por estas terem perdido a sua forma de ser, mutando-se num elemento informe”. Às vezes pergunto-me (e angustio-me) ao pensar que ser de direita se tornou aqui, no lado saudável destes modernos campos de batalha, num exercício desesperado: de invocação de referenciais estéticos, de pequenas cedências à revelação de intimidades que apenas significam sinais de postura perante os outros e perante a vida, de opinião sobre os faits-divers do dia-a-dia sugerindo um caudal mais grosso do amargo ou da esperança que nos vai na alma, ocasionalmente de reflexão que (como esta, a d’O Corcunda) nos faz pensar e equacionar a soma e a totalidade desses sinais díspares. Será porque tudo se tornou num “elemento informe” que vamos tenteando inconscientemente a ver se “as coisas” ainda existem? Outras vezes respondo-me (e conforto-me) que, noutros campos de batalha, sempre assim foi e é assim que deve ser. Como na Fé: tê-la e dar o testemunho, que na incumensurabilidade do seu somatório também sustenta a tradição (de que já certa vez falámos). Recordei por aí um dia que acreditamos em coisas, em princípios, em valores. Acreditar, é a expressão do sistema dinâmico de adesões ou de crenças que constitui a raiz da nossa racionalidade, decorrendo desse sistema de crenças a miríade de vínculos sobre os quais assenta toda a nossa a vida e a nossa Weltanschauung. O Corcunda diagnostica diversos elementos de descaracterização da direita; assim, o que bem define como o “paradigma atomista” ou, pior, o da “definição da existência por oposição”. Poder-lhe-ia juntar, porventura, o sindroma do “esvaziamento na aquisição do tique”, que Combustões, p.ex., tem repetidamente denunciado. No fundo, se calhar, o problema das nossa direita é, pura e simplesmente, não acreditar em valores perenes, tradicionais ou em coisa nenhuma, operando ou pretendendo operar assente num sistema de racionalidade deficiente. Oliveira Martins falava de um universo mosqueado do que chamou a poeira cósmica das religiões passadas, infusa, imensa, impalpável, ocasionalmente brilhante e suspensa sobre tudo o que nos envolve. À nossa poeira, se calhar desaprendemos ou estamos a desaprender o método de a olhar, preocupados que estamos em agarrá-la com os dedos.



RETRATOS DE TRABALHO IV – JORGE O’NEILL

"...Uma das coisas que naquele tempo causavam maior impressão ao nosso espírito infantil, quando visitávamos o excêntrico habitante da quinta do Pinheiro, era o seu quarto de dormir. Que diferença de mobília, em relação a que toda a gente usa. Imagine-se um vasto salão, de cujo tecto pendiam trapézios e argolas de ginástica; a um lado, barras fixas, e mais alem, a um canto, um montão de pesos, alguns enormes. Pelas paredes, sabres, floretes, mascaras e guantes de esgrima. Noutro ponto da casa, uma enorme tina de banho, que mais parecia um tanque. E a cama? perguntava a gente quando ali chegava, e ouvia dizer o destino daquele quarto. Procurando bem, lá se encontrava;. a um dos cantos via-se um pequeno biombo de dobrar, forrado de papel; era ali detrás que estava um leito de ferro, a cujo lado pendiam da parede… dois clarins! Jorge O'Neill dormia apenas as horas estritamente indispensáveis para o repouso do seu corpo vigoroso. Mal acordava, de manhã cedo, fazia um toque de clarim, representativo de uma ordem, que o criado, silencioso, executava com uma pontualidade militar; correspondia esse toque à voz de: preparar banho! Assim que a tina estava cheia, O'Neill metia-se dentro e tomava um banho pouco demorado. Saltava depois para o trapézio, daí para as barras fixas, erguia os pesos de ferro, retemperava, enfim, nesses exercícios de destreza e força a energia da sua musculatura. Às vezes esgrimia com um criado que tinha, e que também conhecia um pouco o jogo das armas. Ao princípio o servo, todo respeitoso, limitava-se a parar os golpes como podia e sabia, não se atrevendo a atacar o patrão; este, porém, intimava-o a atacar também, sob pena de lhe atirar botes de quebrar osso; e, se bem o dizia, melhor o fazia, até que o bom do criado, todo dorido, procurava vingar-se cascando no patrão. Findos estes ou outros semelhantes exercícios, vestia-se, e o som do clarim reboava novamente pelas casas. Vinha o criado e trazia-lhe o almoço ao quarto. Nesse tempo o Sr. Jorge O'Neill vinha todos os dias para Lisboa, montado garbosamente no seu cavalo preto. No verão usava sempre chapéu mole, de abas largas, com uma capa branca, que lhe resguardava os ombros da ardência do sol. Muitas outras excentricidades se contam… não nos permite, porem, o espaço que dispomos referi-las todas, como desejávamos, e seria curioso… Todos conheciam em Lisboa aquele belo velho, alto, corpulento, de farta barba quasi branca, trajando sempre jaqueta, cinta, calças à cavaleira, de chapéu com largas abas. Na cinta, diziam, andavam sempre duas pistolas, duas navalhas, dois relógios, um estojo de cirurgia, uma lata com sandwiches, chocolate, etc., e um cinto de natação até, tudo para a eventualidade de ter que tentar uma viagem, ou de defender-se, o que parecia notar um fundo de mania de perseguição. Apesar dos seus sessenta e tantos anos, O'Neill não faltava nunca a sua casa de comércio, na rua das Flores, onde há anos se acham os escritórios da Compagnie des Messageries Maritimes. Era, porém, tão conspícuo negociante, como sportman consumado. Atirava ao alvo como poucos, jogava o florete e a espada na perfeição, era exímio nadador e ginasta, falava umas poucas de línguas com perfeição, montava como um professor, e conhecia e apreciava apaixonadamente a música. A todos estes predicados, que formam um homem de boa educação, reunia ele uma grande inteligência, e uma bondade de carácter quasi inexcedível…”
L.A. Palmeirim, cit. in Os Excêntricos do meu Tempo (1891)

OS EXCÊNTRICOS DE PALMEIRIM
Aproveitando as lazeiras do fim de semana, lá busquei Os Excêntricos do meu Tempo, de Luís Augusto Palmeirim, de que, a propósito dos sebastianistas, ainda há pouco tempo nos falava o Confrade Misantropo. A edição é de M.Gomes, Livreiro e editor da R. Garrett, ao Chiado, do já longínquo ano de 1891. Entre os olisipógrafos, p. ex., de Castilho a Mário Costa, foi sempre tradição semearem as suas digressões por Lisboa com alusões e memórias do pitoresco humano da capital. Palmeirim dedicou-se exclusivamente a pincelar os personagens (44!). O texto é engraçadíssimo e não poucas vezes comovente – Palmeirim, literato conhecido, escrevia bem – recheado que é de caracteres hoje totalmente esquecidos, actores, cómicas, moços de recados, tontos, fidalgos janotas, fadistas, toureiros, escritores e músicos, que povoavam a Lisboa paroquial e castiça da 2ª metade do século XIX: o Cabral Maneta, o deputado Julião, o maestro Cazimiro, o Padre Alcaparra, o Barão da Catanea, a Severa, o actor Carreira, D. José Coutinho (“o avô dos Janotas”), o Xavier dos Cartazes, o Sr. Procópio “o último dos sebastianistas”, o doutor Patroni, o Feliciano das seges, o abade Castro, etc. etc. E que pena que hoje, nem que fosse colectivamente, se fizessem e coligissem outros tantos retratos de gente que o tempo vai comendo. A filosofia, por judiciosa, deveria ser a mesma que Palmeirim invoca:
“Será forçoso que nas recordações dos vivos entrem só os homens ilustres pela pena e pela espada, ou pelos episódios acidentados da política, da diplomacia e do teatro? Não mo parece. Na vida, aparentemente obscura, de alguns homens, há às vezes traços característicos, que são como os raios, embora amortecidos, de um sol de Outono, atravessando as nuvens denunciadoras da próxima tempestade. A posteridade não se fez só para os felizes, para os gloriosos, para os potentados. Há na sociedade indivíduos, a quem as circunstâncias negaram os meios de se evidenciar, mas que nem por isso perderam as feições típicas, originais, que os distanciaram das multidões. Foram perfeitamente uns excêntricos? A designação é talvez demasiado ambiciosa. A excentricidade envolve em si a ideia de um modo de vida absolutamente ao avesso do viver comum da mais gente; e os homens de quem vou falar não estão nesse caso. O que eles foram todos, acanhando o epíteto de excêntricos, foram umas boas pessoas, podendo tirar folha corrida, mas diferenciando-se do vulgo, uns pelas suas aptidões intelectuais, outros por serem excepção, no modo de viver e de falar, as prescrições que a sociedade impõe como norma aos que vivem e morrem sem ter dado por isso. Do burguês que come, bebe, contrai matrimónio, ouve missa, faz a barba, e morre passados os cinquenta anos, não há mais nada a dizer senão isto mesmo; ou para variar, inverter contra a lógica a ordem dos acontecimentos, falando de tão estéreis existências. Os heróis pedem Plutarcos. Os modestos, os ignorados, que por momentos nos alegram as horas as vezes aborrecidas da vida, merecem algumas linhas de comemoração, que se não encabecem em necrológio, nem em coisa que cheire a cemitério. É o que eu vou fazer…”









VELHOS/2


Alexandre O'Neill (o bisneto do de lá de cima).


Sobre a tristeza do texto de MAzinhal



O Mataboches, o que deixou os alemães passarem em sucessivas vagas,
para, depois, do seu buraco, os dizimar pelas costas,
está que não pode.
Reformado da fábrica onde, até há poucos anos,
aproveitando as espertinas de ex-gaseado,
guardava as larápias sombras da noite,
o Mataboches já nem à taberna vai.
A filha, antes de sair para o trabalho,
deixa-o sentado à janela, entre canário e sardinheira,
com um mata-moscas a mão.
E o Mataboches passeia o curto-alcance dos seus olhos
do amarelo ao rosa, vigiando mosca e varejeira.
As vezes apanha chuva e larga a rir
(por ser regado ao mesmo tempo que as sardinheiras?)
um riso que põe o canário, espavorido,
a harpejar as barras da gaiola.
Penugem amarela rodeia o Mataboches.
Ele não dá por nada; dá a filha,
que lhe ralha e lhe faz ciúmes com o Hilário, o canoro.
Passa-se, então, um curioso ritual:
a filha tira o canário da gaiola, diz-lhe: «Ele foi mau pró meu Hilário!»,
e enquanto o pai se agita, regouga, troca e destroca
seus gestos de meio paralítico,
ela, com um olho no velho, beija o passarinho,
alisa-lhe as penas, quase o come.
E o ritual só acaba quando o Mataboches
mistura a sua baba com o seu ranho.
O Mataboches, o do C. E. P.,
peneira o ar com o mata-moscas
e erra a última mosca.

Saturday, November 18, 2006

ATÉ VENEZA -Simplon-Orient-Express

Para o Jansenista. O estafeta leva-lhe os bilhetes amanhã

Where's Youssupoff?

"Reaching for the Moon" (1920's) Bing Crosby and Douglas Fairbanks

Friday, November 17, 2006

















































FIN DE RACE

O Confrade de Combustões recorda hoja a passagem do aniversário de Aisin-Gioro Puyi, o Imperador Xuan Tong, último soberano da China. Sobre esse desventurado rebento da grande dinastia manchú dos Qing, que governou o Celeste Império de 1626 a 1912, o caro Confrade deixa no ar algumas questões a que a historiografia moderna responde com severidade em termos de carácter e de postura. Figura pungente, quase shakespeariana, na transição de esplendor fade da Cidade Imperial para as misérias da autocrítica nos campos de reeducação e a reeintegração como cidadão jardineiro da China Vermelha. MCastelo-Branco, apropriadamente, associa-lhe a memória da extraordinária figura de Reginald F. Johnston, o escritor e o sinólogo, um dos últimos de uma longa linhagem de administradores britânicos na Ásia, que de 1919 a 1924 serviu como tutor e conselheiro do último Imperador da China.
Assim, e ainda a propósito do último dos Manchús, vão juntas as homenagens a Bertolucci e ao seu belíssimo The Last Emperor, a Zun Long (John Lone) que teve o rôle de Puyi, e a Reginald Johnston. Em fundo, a versão original de Am I Blue, que os aficionados recordarão no film cantado pelo último Imperador em cena do exílio de Shanghai.







HOMENAGEM A ZUN LONG (JOHN LONE)










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